Vivemos em dias difíceis, quanto às questões ambientais. Alguns problemas são claramente causados por ação humana - desmatamento, por exemplo - enquanto outros ainda requerem maiores estudos, mesmo que seja fácil admitir que a mão do homem, indiretamente, também esteja neles. Mas, como este é um blog voltado prioritariamente à História, vamos falar do desmatamento e suas consequências, não hoje, mas há cento e vinte anos.
Coelho Neto, em obra publicada em 1904, afirmou:
No começo do Século XX, as matas eram derrubadas para dar espaço a novas áreas de cultivo de café; também se desmatava para prover lenha para as locomotivas a vapor e para a colocação de dormentes nos trilhos das ferrovias que iam sendo implantadas. Ora, o problema do fornecimento de lenha para as ferrovias foi manejado mediante a introdução e cultivo de espécies vegetais de crescimento rápido, que não interferissem na preservação das matas nativas. Que dizer, porém, daquilo que estamos presenciando? Haverá tempo, ainda, para soluções inteligentes?
"Com a morte das árvores desaparecem as fontes; rios que rolavam águas abundantes derivam agora em filetes rasos e tão escassos que uma quente semana de verão é bastante para secá-los [...]. Estrangeiros que percorrem o interior voltam impressionados com a ausência de pássaros [...], tudo é silencioso, e viaja-se longamente, ao sol, sem um oásis, sem uma árvore, mas os tocos adustos, que apontam à flor da terra, atestam a existência anterior de florestas grandiosas - levou-as o machado, arrasou-as o fogo [...]. O ar vicia-se, o mesmo clima modifica-se, e isto é notado pelos velhos moradores desses lugares, dantes bem-regados e sadios, e hoje secos, ingratos e insalubres, onde o homem não vive, nem a sementeira vinga." (¹)É de provocar riso o modo como se fazia derrubada de árvores nesses dias já distantes:
"Um ferro de bom gume (²), o carro e quatro juntas de bois bastam ao que vai à floresta, e quem atravessa as estradas ouve monotonamente os golpes do machado, de repente um grito de aviso e logo o estrondo da queda da árvore talhada." (³)Comparem, leitores, o som e a velocidade do desmatamento descrito por Coelho Neto àquilo que se faz com umas poucas motosserras.
No começo do Século XX, as matas eram derrubadas para dar espaço a novas áreas de cultivo de café; também se desmatava para prover lenha para as locomotivas a vapor e para a colocação de dormentes nos trilhos das ferrovias que iam sendo implantadas. Ora, o problema do fornecimento de lenha para as ferrovias foi manejado mediante a introdução e cultivo de espécies vegetais de crescimento rápido, que não interferissem na preservação das matas nativas. Que dizer, porém, daquilo que estamos presenciando? Haverá tempo, ainda, para soluções inteligentes?
(1) COELHO NETO, Henrique Maximiano. A Bico de Pena.
(2) Machado.
(3) COELHO NETO, Henrique Maximiano. Op. cit.
(3) COELHO NETO, Henrique Maximiano. Op. cit.
(4) Cf. SELLIN, Alfred Wilhelm. Das Kaiserreich Brasilien. Leipzig: Frentag, 1885, p. 167. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
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