segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Varíola na Guerra de Canudos

Agosto de 1897. A guerra contra Antônio Conselheiro e seus seguidores, que ficaria conhecida como Guerra de Canudos, começara no ano anterior e, desde então, sucessivas derrotas das forças governamentais faziam crescer a fama dos sertanejos que lutavam pelo líder místico, acreditando que, afinal, o arraial era imbatível. 
Entre as forças do Exército, a situação chegava, às vezes, a ser desesperadora. Além de todas as misérias, decorrentes da falta de suprimentos e de fardamento adequado à luta na caatinga, a tropa tinha de enfrentar, ainda, uma epidemia de varíola, relatada por Euclides da Cunha em Os Sertões:
"Neste comenos dizimava-a a varíola. Destacavam-se das suas fileiras, diariamente, dois ou três enfermos, volvendo para o hospital, em Monte Santo. Outros, estropiados, naquela repentina transição das ruas calçadas da capital federal para aquelas ásperas veredas, distanciavam-se, perdidos à retaguarda, confundindo-se com os feridos, que vinham em direção oposta."
As baixas, portanto, eram provenientes dos ferimentos recebidos em combate, do despreparo da tropa para a luta na caatinga e da varíola, doença infecciosa para a qual se conhecia a vacinação no Brasil desde fins do Século XVIII. 
Como admitir tal coisa? Se todos os soldados houvessem recebido a vacina previamente à viagem ao sertão, a calamidade não teria se manifestado. Sabe-se, porém, que o descuido nessa questão, aliado à ignorância de parte considerável da população quanto à utilidade da vacina, não se esgotou na Guerra de Canudos. Um episódio ainda mais grotesco, a chamada Revolta da Vacina, de novembro de 1904, mostraria, fora de qualquer dúvida, o quanto era ainda preciso fazer no Brasil em se tratando de saúde pública. 


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