sexta-feira, 30 de agosto de 2024

O juízo final na versão dos antigos egípcios

Caricatura egípcia de uma alma condenada no julgamento dos deuses (*)

Que os egípcios criam em um tipo de vida após a morte é coisa que todo mundo sabe. Mas é preciso saber, também, que essa vida não era automática, nem bastava, para alcançá-la, ter o corpo devidamente mumificado, embora essa fosse uma prática muito importante. Havia um julgamento, quando o morto deveria ter seu coração pesado em comparação com a "pena da verdade". Mais ainda: esse julgamento era feito individualmente, diante do deus Osíris
É certo que ao morto era dada a oportunidade de defesa. Mas que dizer, então? Havia uma fórmula que se considerava apropriada, e que todo egípcio devia saber muito bem, para ser capaz de repetir no momento exato. Essa fórmula nos mostra, afinal, quais eram os valores morais e éticos que os egípcios da Antiguidade mais prezavam, e dizia, entre outras coisas:
"Nunca proferi mentiras, não causei tristeza a ninguém, não fiz negócios astutos ou desonestos, nunca provoquei brigas, jamais falei mal de alguém, meus ouvidos somente atentaram para o que era justo e verdadeiro, dei pão ao faminto e água ao sedento, dei roupa ao que nada tinha e uma embarcação ao marinheiro que naufragava, fiz apenas o que era puro e justo e fui um servidor fiel dos deuses."
Conclusão óbvia: ou os deuses não eram muito espertos, ou, para os antigos egípcios, mentir no juízo final não era um obstáculo à eternidade.  

(*) Cf. PARTON, James. Caricature and Other Comic Art. New York: Harper & Brothers, 1877, p. 33. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog. 


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