quinta-feira, 27 de maio de 2021

Algumas interpretações para o mito de Osíris

Osíris e Ísis (*)
É difícil contar um mito que tem versões quase infinitas. Façamos uma tentativa: Osíris era rei do Egito, sábio e capaz, tendo introduzido entre seus governados o conhecimento de diversos ofícios. Era, portanto, muito amado, a não ser por seu irmão Seth, sujeito perverso que ambicionava o trono. Astuto, Seth acabou matando Osíris, mas Ísis, sua mulher, depois de muitas aventuras, conseguiu recuperar o caixão no qual estava o corpo do marido. O malvado Seth, procurando impedir alguma tentativa de ressurreição, retalhou o corpo do irmão em incontáveis fragmentos, que espalhou por toda parte. A despeito disso, Ísis conseguiu trazer Osíris de volta à vida, mas foi Horus, filho do casal, quem finalmente derrotou Seth, afugentando-o para longe do Egito. Ufa!...
Mesmo com as muitas variantes que tinha, conforme a região e época em que era contado, o mito de Osíris foi, de longe, o mais destacado do Egito Antigo. Como interpretá-lo? Dentre as possibilidades que se têm levantado, vale a pena considerar:
  • A morte e ressurreição de Osíris seria uma referência poética ao Nilo que, anualmente, transbordava e depois voltava ao curso habitual, deixando, atrás de si, a terra fertilizada para uma nova estação agrícola;
  • Osíris e Seth podem ter sido divindades cultuadas previamente por tribos rivais, cuja luta humana teria sido elevada à categoria de confronto entre deuses;
  • Era habitual que, antes do início de um ano agrícola, um sacrifício fosse oferecido nos campos em honra dos deuses, de modo que o animal sacrificado era retalhado e espalhado pela terra - o mito de Osíris seria uma reminiscência desse costume;
  • Uma última interpretação, cronologicamente mais próxima - Osíris seria uma personificação dos egípcios em luta contra invasores estrangeiros de origem asiática, representados por Seth, enquanto Horus seria a representação da dinastia que expulsou os asiáticos e restabeleceu um governo verdadeiramente egípcio.
Qual dessas interpretações é a melhor? Todas, ou talvez nenhuma... Isso ainda é assunto que rende muito debate.

(*) BUDGE, E. A. Wallis. The Gods of The Egyptians vol. II. London: Methuen & Co., 1904. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


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2 comentários:

  1. O curioso é que, por mais que conheçamos e interpretemos, os mitos clássicos mantêm-se actuais. Só não vê quem não quer. Que lhe parece, Marta?

    Fique bem. :)

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  2. Estou em total acordo. Cada nova geração vê neles algum elemento com que se identificar.

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