quinta-feira, 20 de maio de 2021

Como indígenas lutavam contra cavalos

Cavalos eram desconhecidos na América antes da chegada de europeus no final do Século XV, e nas guerras de conquista, empreendidas principalmente por espanhóis, mostraram-se formidáveis. O modo como ameríndios reagiram à sua presença pode, talvez, ser comparado ao espanto dos romanos quando viram elefantes no exército de Pirro. Contudo, não tardou para que indígenas descobrissem que homem e cavalo não formavam um só e centáurico ser, que espanhóis não eram deuses e que cavalos eram mortais. Importava, assim, aprender a lutar contra eles.
Conhecendo muito bem o território em que viviam, astecas e outros povos vizinhos tentavam forçar os invasores à luta em terrenos difíceis para a cavalaria, cavavam buracos que, disfarçados com arbustos, eram armadilhas terríveis e tanto mais eficazes se, em seu interior, fossem colocadas estacas pontiagudas.
Mas não era só. De acordo com Bernal Díaz del Castillo, soldado a serviço de Hernán Cortés, estas eram, dentre outras, algumas práticas adotadas por indígenas quando deviam enfrentar homens a cavalo:
  • "Quero dizer que se juntavam seis ou sete dos contrários e se abraçavam com os cavalos [...], e ainda derrubaram a um soldado do cavalo, e se não o socorrêssemos, já o levariam a sacrificar [...]" (¹). Esse incidente ocorreu em luta contra chiapanecas.
  • "[...] muitos deles traziam cordas para jogar laços aos cavalos [...] para derrubá-los, e tinham estendidas em outros lugares, contra os cavalos, muitas redes que costumam usar para caçar veados [...]" (²). Aqui, novamente, Bernal Díaz falava dos chiapanecas.
  • "[...] achamos todos os caminhos bloqueados, cheios de troncos e árvores cortadas, muito obstruídos, que cavalos não podiam passar [...]" (³). Neste caso, ainda era possível desobstruir o caminho, mas a tarefa retardava a marcha e dava aos ameríndios a oportunidade da fuga.
Vê-se, facilmente, que a chamada conquista da América não se fez sem resistência. Cavalos eram caros e pouco numerosos na época em que Cortés chegou ao México. Era preciso, assim, poupá-los, tanto quanto possível. Soldados que combatiam a cavalo levavam uma lança, e perceberam que correriam menos risco e seriam de maior utilidade a seu bando de invasores se, em lugar de tentar atingir indígenas a cada lado, cavalgassem à maior velocidade que podiam, com a lança em riste, à altura do rosto dos oponentes, até obrigá-los à fuga. Intimidavam, é fato, mas não eram invencíveis e não são a única explicação para as vitórias obtidas por grupos relativamente pequenos de europeus que investiam contra exércitos numerosos de ameríndios. Armas de fogo, estratégia eficiente, incentivo às dissensões existentes entre povos indígenas e o auxílio silencioso, ainda que não intencional, de doenças como a gripe e a varíola, tiveram parte no processo de dominação imposto aos povos do Continente Americano.  

(1) CASTILLO, Bernal Díaz del. Verdadera Historia de los Sucesos de la Conquista de la Nueva España. Todos os trechos citados nesta postagem foram traduzidos por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(2) Ibid.
(3) Ibid.


Veja também:

2 comentários:

  1. Bernal Diaz del Castillo é uma fonte de maná para os historiadores. :)

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    1. Certamente. Basta ver quantos posts que fazem referência a ele estão neste blog rsrsrssssssssssssss...

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