segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Feliz ano-novo

Na maior parte das culturas, o início de um novo ano (ou de um novo ciclo no calendário, ainda que não necessariamente um período de mais ou menos 365 dias) vem acompanhado de festividades e intensa expectativa. Assume-se um consenso amplamente coletivo de que o novo ano representa a "virada de página" para os problemas do ano anterior. E expressões do tipo "ano novo, vida nova" são repetidas como verdade incontestável, quase sempre acompanhadas de promessas e resoluções que, de qualquer modo, têm a estranha capacidade de entrar em envelhecimento precoce tão logo as luzes das festas comecem a desaparecer.
Interessante (e muito humano) esse hábito de estabelecer datas, o mais das vezes aleatórias, como marcos da passagem do tempo. Seriam elas, quem sabe, uma tentativa de exercer controle sobre o tempo? Se for assim, a tentativa é não apenas inútil, mas resulta em ferramenta cruel, servindo antes para recordar-nos de que o tempo, enquanto categoria indefinível (como bem lembrou Agostinho de Hipona), é metrônomo que bate o compasso de nossa transitoriedade, alheio à melodia, alegre ou triste, que tocamos (ou deixamos tocar) em nossas vidas.
Demais disso, os calendários são em grande parte calcados em convenções, ainda que obedeçam a um fundamento astronômico. Tanto faz se um calendário começa em 1º de janeiro, ou fevereiro, ou março... O caso é que nós, ocidentais, usamos um calendário cujo ano estreia em 1º de janeiro e, por isso, a maioria de nós está, a estas horas, vivendo uma tortura autoimposta de correria e intensos preparativos para celebrar a chegada do novo ano. Então, para não decepcionar a você, leitor, vão aqui meus votos de feliz ano-novo, acompanhados da recomendação de que releia este post no próximo dezembro (prometa!). Eu lhe asseguro que ele estará novinho em folha, como hoje. E nós, naturalmente, um ano mais velhos.

Fogos de artifício para celebrar a chegada do Ano-Novo em Brasília - DF

Veja também:

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

As pirâmides não são iguais

As pirâmides do Egito foram construídas como túmulos gigantescos para alguns faraós.
A imagem acima é uma representação delas feita no Século XIX (*).

Tenho visto frequentemente livros e programas de TV voltando a abordar a suposta semelhança entre pirâmides construídas pelas mais diversas culturas. A crermos nessas versões, a construção de pirâmides parece uma espécie de mania planetária, que, em essência, atende a um impulso humano por atingir o céu (ou retornar a ele, como querem alguns).
Cabe, no entanto, observar que a finalidade das pirâmides obedece a propósitos muito diversos - em alguns casos, são túmulos (como, obviamente, ocorreu no Egito Antigo), mas a maioria delas atende, de algum modo, à finalidade de templos. E vale acrescentar que, tanto quanto sabemos, as pirâmides do Egito jamais serviram como locais de culto ou peregrinação, funcionando antes como verdadeiras fortalezas para preservar os corpos mumificados dos faraós, tanto assim que, quando se mostraram incapazes de cumprir essa função, deixaram de ser construídas.
Por que, então, a forma piramidal?
Antes de mais nada, observamos que a forma estritamente piramidal ocorre apenas no Egito, onde a técnica arquitetônica permitiu tal avanço. Nos demais casos, encontramos, quase sempre, algo parecido a pirâmides escalonadas (em "degraus"). Mas essa semelhança talvez seja devida às limitações das técnicas de edificação, que somente permitiam construções de maior altura se cada andar tivesse uma área um pouco menor que a do andar imediatamente inferior. Observamos esse método de edificação até na descrição que consta na Bíblia, a respeito do célebre templo de Salomão que, aliás, estava muito longe de ter uma estrutura piramidal.
Portanto, a suposta universalidade das pirâmides é um fenômeno que ainda carece de estudos que ultrapassem os limites da superficialidade, rompendo com análises baseadas em meras aparências. Não é impossível que, em algum momento, venha a ser comprovada a existência de algum nexo entre todas essas construções, mas, no estágio atual de conhecimento, isso não acontece.

(*) CHESNEY, J. The Land of the Pyramids. London: Cassel & C., Limited, c. 1884. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


Veja também: