tag:blogger.com,1999:blog-65681520728532209772024-03-19T05:48:14.080-03:00História & Outras HistóriasHistória, preservação do patrimônio histórico e debate de questões atuaisMarta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.comBlogger1597125tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-3181815094434690982024-03-18T10:00:00.033-03:002024-03-18T10:00:00.234-03:00Diamantes ou pedras de construção?<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Quem tem mais valor: <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2015/08/o-distrito-diamantino-e-o-contrabando-de-diamantes-do-brasil.html" target="_blank">diamantes</a> ou pedras para construção?<br /></span><span style="font-family: inherit;">Pedras usadas em construções devem ser fortes, resistentes, não devem se desfazer facilmente. Será ótimo, também, se forem de baixo custo. Diamantes - ninguém pensaria em usá-los na construção civil ou em fortificações, nem têm eles dimensões para isso - são caríssimos. Ninguém dá muita importância à notícia da descoberta de um local de onde podem ser extraídas pedras para construção. Quanto aos diamantes, uma nova jazida que se encontra pode resultar em falatório por muito tempo.<br /></span><span style="font-family: inherit;">Filipe Patroni, autor do Século XIX, tomou o partido das pedras de cantaria, ao falar de uma antiga lavra de diamantes que fora abandonada:<br /></span><span><blockquote><span style="font-family: georgia;"><span style="background-color: #ffe599;">"O rio das Mucaúbas [<i>sic</i>] é também adamantino, e a administração nacional do Tejuco [<i>sic</i>] ali teve noutros tempos um serviço de diamantes; não dando porém grandes vantagens, foi abandonado e entregue aos cuidados de quem quisesse ter o enfadonho trabalho de procurar aquelas pedrinhas, cuja utilidade é, sem contestação alguma, menor do que a de um lajedo ou pedra de cantaria, que serve para fazer casas e cômodas habitações [...], enquanto que o diamante serve só para luzir aos olhos de quem o enxerga, e não dá por conseguinte utilidade a quem é cego. [...]"</span> (*) </span><span style="font-family: inherit;"> </span></blockquote></span><span style="font-family: inherit;">Patroni talvez estivesse errado. Diamantes têm, para muita gente, um encanto quase místico. Imagina-se que quem os pode usar em joias ganha em beleza. Talvez por isso, são muito lucrativos. Ninguém andaria à cata dessas pedrinhas brilhantes se não fosse pelo retorno que oferecem. Nisso reside toda a questão. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-family: inherit; font-size: medium;">(*) PARENTE, Filipe Alberto Patroni Martins Maciel. <i>A Viagem de Patroni Pelas Províncias Brasileiras</i> 2ª ed. Lisboa: Typ. Lisbonense, 1851, p. 31.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/08/como-eram-despachados-diamantes-para-portugal.html" target="_blank">Como eram despachados os diamantes que iam para Portugal</a></span></li><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2015/12/religiosos-que-contrabandeavam-diamantes.html" target="_blank">Religiosos que contrabandeavam diamantes no Brasil Colonial</a></span></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-81727573367450711242024-03-15T10:00:00.066-03:002024-03-15T10:00:00.237-03:00Prodígios antes da morte de Júlio César<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj15nrRexysV1CW5_1RV4LuDx8Yc3DgcLWHFk0wl2oL2umq_mipgAw82Z6CwxjEqmm49Xw03C0kCPpJoTxPcKdIo4ZgHZkzDyZ7_B7grhoMIy_iay9fjL22zRy1bdjUvbFa_0FK5HtmhpAeAb30PvT43Km8IF4yjSS62nVdOnx1O45Zbke9NHwXySKqpPYE/s500/001596,%20J%C3%BAlio%20C%C3%A9sar.jpg" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="328" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj15nrRexysV1CW5_1RV4LuDx8Yc3DgcLWHFk0wl2oL2umq_mipgAw82Z6CwxjEqmm49Xw03C0kCPpJoTxPcKdIo4ZgHZkzDyZ7_B7grhoMIy_iay9fjL22zRy1bdjUvbFa_0FK5HtmhpAeAb30PvT43Km8IF4yjSS62nVdOnx1O45Zbke9NHwXySKqpPYE/s16000/001596,%20J%C3%BAlio%20C%C3%A9sar.jpg" title="Júlio César (*)." /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Busto de Júlio César em mármore (*)</b></td></tr></tbody></table>Para os antigos romanos, não poderia haver um grande acontecimento - fosse bom ou mau - sem ser precedido por um ou mais <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2019/10/prodigio-vegetal-que-abalou-roma.html" target="_blank">prodígios</a>, eventos "fora da curva", contra o curso da natureza ou que evidenciassem aviso dos deuses. <br /></span><span style="font-family: inherit;">De acordo com Suetônio em <i><b>De vita Caesarum</b></i>, Livro I, estes prodígios e presságios precederam o assassinato de Júlio César em 15 de março de 44 a.C.:</span><span style="font-family: inherit;"><br /><ul><li><span style="font-family: inherit;">Em Cápua, um grupo de colonos que removia um cemitério muito antigo para, em seu lugar, construir casas, teria encontrado uma placa de bronze, na qual se lia, em grego, que, ao ser aberta aquela sepultura, um membro da família Júlia seria morto por seus concidadãos, e que, após sua morte, haveria uma série de infortúnios em toda a península itálica;</span></li><li><span style="font-family: inherit;">Dias antes de sua morte, os cavalos que César havia consagrado ao Rubicão, por ocasião de sua travessia, subitamente teriam parado de comer e começado a chorar;</span></li><li><span style="font-family: inherit;">Um <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2010/10/dos-frangos-sagrados-ao-polvo-paul.html" target="_blank">arúspice</a> teria avisado César, por ocasião de um sacrifício, que se guardasse de grave perigo nos idos de março;</span></li><li><span style="font-family: inherit;">Um bando de aves, perseguindo um pássaro que levava um ramo de louro, alcançou-o e o fez em pedaços;</span></li><li><span style="font-family: inherit;">Na véspera de seu assassinato, o próprio César teria visto, em <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/07/importancia-dos-sonhos-para-povos-da-antiguidade.html" target="_blank">sonho</a>, que voava entre nuvens e tocava a mão direita do deus <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2017/04/deuses-gregos-e-romanos.html" target="_blank">Júpiter</a>;</span></li><li><span style="font-family: inherit;">Enquanto isso, Calpúrnia, mulher de César, também sonhava, e, em seu sonho, via cair o teto da casa em que estava, enquanto segurava, em seus braços, o corpo do marido assassinado;</span></li><li><span style="font-family: inherit;">Finalmente, como se tantos sonhos agitados fossem pouca coisa, afirmou-se que, de súbito, as portas do quarto em que Calpúrnia dormia teriam sido abertas sem intervenção humana.</span></li></ul></span><span style="font-family: inherit;">Era um exagero de prodígios para a mentalidade romana. César, talvez tentando dar a todos uma demonstração de racionalidade, ignorou os supostos avisos, e foi ao encontro dos senadores que o aguardavam. Não voltaria vivo para casa. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;">(*) </span>HEKLER, Anton. <i>Die Bildniskunst der Griechen und Römer</i>. Stuttgart: Julius Hoffmann, 1912, p. 158. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog. </span></div><div><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/07/importancia-dos-sonhos-para-povos-da-antiguidade.html" target="_blank">A importância atribuída aos sonhos pelos povos da Antiguidade</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2017/09/romanos-acreditavam-em-pressagios.html" target="_blank">Os supersticiosos romanos e a crença em presságios</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2015/09/os-prodigios-do-ano-55-dC.html" target="_blank">Os prodígios do ano 55 d.C.</a></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-68533877700484214302024-03-13T10:00:00.069-03:002024-03-13T10:00:00.337-03:00Como o professor particular deveria ser recebido na casa de um aluno<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Foi comum, até bem adiantado o Século XIX, que pais com recursos suficientes tivessem professores particulares para os filhos, não apenas para <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2017/04/piano-e-outros-instrumentos-no-brasil.html" target="_blank">aulas de música</a>, mas para a instrução regular. Nem sempre havia escolas adequadas por perto, existindo, também, quem preferisse ver o filho recebendo aulas dentro de casa. Um livrinho interessante, escrito pela professora Guilhermina de Azambuja Neves, com o título de <b><i>Entretenimentos Sobre os Deveres de Civilidade</i></b>, sugeria o modo como um aluno deveria receber seu professor particular para a lição do dia:<br /></span><span style="font-family: inherit;"></span><blockquote><span style="font-family: georgia;"><span style="background-color: #ffe599;"><span>"Suponhamos que o mestre toma o trabalho de ir à casa do discípulo para lhe dar as lições. Não se deve jamais fazê-lo esperar, nem esquecer de ter tudo à mão: os livros, o papel, o tinteiro (¹) sobre a mesa e junto desta a cadeira.<br /></span><span>Chegando o mestre, deve o menino levantar-se, tomar-lhe o <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2014/07/para-quem-quiser-tirar-o-chapeu.html" target="_blank">chapéu</a>, o guarda-chuva ou a bengala (²) e convidá-lo a sentar-se.<br /></span></span><span><span style="background-color: #ffe599;">Começando a lição, será ela ouvida com atenção, e bem assim os conselhos que o mestre der sobre o modo de estudar ou de proceder." </span>(³) </span></span></blockquote><span style="font-family: inherit;">Iam além as instruções da professora Guilhermina, especificando o modo correto de responder quando o professor ou professora fizesse alguma pergunta:<br /></span><span><blockquote><span style="font-family: georgia;"><span style="background-color: #ffe599;">"O tratamento que se lhe deve dar será o de Sr. Professor; e nas respostas afirmativas ou negativas dir-se-á: sim, senhor, não, senhor; ou se for mestra: sim, senhora, não, senhora."</span> (⁴) </span></blockquote></span><span style="font-family: inherit;">Quando, finalmente, a aula era concluída, havia um modo correto de agir ao despedir-se o aluno do professor:<br /></span><span><blockquote><span style="font-family: georgia;"><span style="background-color: #ffe599;">"Terminada a lição deve o discípulo agradecer-lhe o trabalho e o interesse que toma por seu progresso nos estudos, entregar-lhe o chapéu, o guarda-chuva ou a bengala, e acompanhá-lo até a escada ou a porta, cumprimentando-o com respeito."</span> (⁵)</span></blockquote></span><span style="font-family: inherit;">Sim, coisas do Século XIX... E qual era a solução do dito século para os meninos que não se mostravam tão polidos e estudiosos? Não é difícil imaginar, e olhem leitores, que mesmo no século seguinte o remédio seria idêntico. Voltemos à professora Guilhermina e seus meigos conselhos:<br /></span><span style="font-family: georgia;"><span></span></span><blockquote><span style="background-color: #ffe599; font-family: georgia;"><span>"Este procedimento é tão bonito, como censurável o do menino Simeão, que nunca sabe as lições, e durante a explicação do mestre ocupa-se em ver passar quem vai pela rua.<br /></span><span>Teimoso, vadio e mal-educado, nada sabe, nada aprende e é por isso que os vizinhos o chamam de madraço (⁶).<br /></span><span>Sabes qual foi o resultado de tudo isso?<br /></span></span><span><span style="font-family: georgia;"><span style="background-color: #ffe599;">Seus pais resolveram metê-lo de pensionista (⁷) em um colégio, com a recomendação de usarem para com ele de todo o rigor e severidade."</span> (⁸) </span></span></blockquote><span style="font-family: inherit;">Não é de hoje, portanto, que há quem prefira terceirizar a educação dos filhos, ainda que os métodos, em nosso tempo, tenham mudado. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;">(1) Vê-se, nessas palavras, qual era o material escolar mais comum no Século XIX.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(2) Objetos de uso pessoal comuns para homens no Século XIX.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(3) NEVES, Guilhermina de Azambuja. <i>Entretenimentos Sobre os Deveres de Civilidade,</i> 2ª ed. Rio de Janeiro: 1875, pp. 37 e 38.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(4) <i>Ibid.</i>, p. 38.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(5) <i>Ibid.</i>, p. 39.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(6) "Madraço" </span>significa<span style="font-family: inherit;"> preguiçoso.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(7) Ou seja, mandaram-no para um internato.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(8) NEVES, Guilhermina de Azambuja. <i>Op. cit</i>., pp. 39 e 40. </span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2020/10/escolas-na-provincia-de-sao-paulo.html" target="_blank">Como eram as escolas da Província de São Paulo em meados do Século XIX</a></span></li><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2020/06/instrucao-primaria-no-imperio-do-brasil.html" target="_blank">Instrução primária no Império do Brasil</a></span></li><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2015/11/o-que-se-ensinava-aos-meninos-e-as-meninas.html" target="_blank">O que se ensinava aos meninos e às meninas nas escolas do Império do Brasil</a></span></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-22912829194870719172024-03-11T10:00:00.037-03:002024-03-11T10:00:00.128-03:00Dote de casamento em cabeças de gado<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">No passado, em muitos lugares, o pretendente a noivo pagava um dote de casamento ao pai da pretendida noiva. No Brasil Colonial, e mesmo no Império, era a noiva que devia ter um dote para poder se casar. Por conta disso, muitas moças que não tinham dote ficavam sem casamento, enquanto havia homens esperando que uma noiva com dote vantajoso aparecesse no caminho, para, como se dizia, "arrumarem a vida". <br /></span><span style="font-family: inherit;">Antes que leitores e leitoras comecem a lamentar as injustiças da sociedade (talvez por razões diferentes), temos aqui um caso interessante, ocorrido em São Paulo nos tempos coloniais, quando quase <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/04/novelos-de-algodao-em-lugar-de-moedas.html" target="_blank">não havia moeda</a> em circulação - a família da noiva pagou o dote para o casamento em cabeças de gado. Está na <i><b>Nobiliarchia Paulistana</b></i>, escrita no Século XVIII por Pedro Taques de Almeida Paes Leme, com o aborrecido estilo próprio das (longas) genealogias dos que se supunham nobres:<br /></span><span><span style="font-family: georgia;"><blockquote><span style="background-color: #ffe599;">"João Pires (filho de Salvador Pires [...]) foi nobre cidadão de S. Paulo, e teve grande voto nas assembleias do governo político, como pessoa de muita autoridade, respeito e veneração. Foi abundante em cabedais com estabelecimento de uma grandiosa fazenda de terras de cultura [...], que lhe foi concedida de <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2015/06/doacao-de-sesmarias.html" target="_blank">sesmaria</a> em 1610 com o seu sertão para a serra de Juqueri. Teve grande cópia de gados vacuns, cavalares e de ovelhas, de sorte que, dotando a nove filhas [...], cada uma levou duzentas cabeças de gado vacum, ovelhas e cavalgaduras. [...]"</span></blockquote></span></span><span style="font-family: inherit;">Portanto, todo o conjunto pago como dote pelo casamento das nove filhas resultou em mil e oitocentos animais. Nada mal para a época em que isto aconteceu, no Século XVII. Deve ter sido um espetáculo público ver a procissão conduzindo a bicharada para as terras do noivo, a cada novo casamento que se realizava.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/03/casamentos-no-brasil-colonial.html" target="_blank">Casamentos no Brasil Colonial</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/04/novelos-de-algodao-em-lugar-de-moedas.html" target="_blank">Novelos de algodão em lugar de moedas</a></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-65409469153621958512024-03-08T10:00:00.050-03:002024-03-08T10:00:00.122-03:00Roupas e acessórios masculinos que eram moda na época da chegada da família real ao Brasil<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Primeiras semanas de 1808. Estando perto os navios que traziam a <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2019/11/como-foi-anunciada-a-chegada-da-familia-real-em-1808.html" target="_blank">família real</a>, além de uma pequena multidão que incluía gente da nobreza, funcionários públicos e mesmo alguns que não eram nem uma coisa e nem outra, mas que haviam conseguido embarcar, a cidade do Rio de Janeiro pôs-se agitada. <br /></span><span style="font-family: inherit;">Toda pessoa que tinha alguns recursos e que pretendia ir às ruas para ver a passagem do cortejo real tratou de arranjar roupa que julgava adequada. Ninguém queria fazer má figura diante da nobreza que aportava. Nas palavras de José Vieira Fazenda, </span><span style="background-color: #ffe599; font-family: georgia;">"as meias de seda, os sapatos rasos de fivela de ouro e prata, as cabeleiras de rabicho ou de bolsa, os espadins, os coletes de cetim bordados a matiz e os chapéus armados subiram de preço"</span><span style="font-family: inherit;"> (*). <br /></span><span style="font-family: inherit;">O <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2020/10/vestuario-de-dom-joao-e-de-dona-carlota-joaquina-em-1808.html" target="_blank">desembarque de D. João</a>, então príncipe regente, aconteceu em 8 de março de 1808. Poderíamos falar em uma corrida às lojas nos dias que o antecederam? Seguindo a índole do comércio nesses tempos já distantes (e não só neles), os preços elevaram-se bastante. Não há razão para crer que, após o desembarque, os preços baixassem, uma vez que os que chegavam também iam às lojas à procura dos artigos a que estavam habituados.<br /></span><span style="font-family: inherit;">O comércio do Rio de Janeiro era, então, modesto. Mas ganhou força com a chegada da corte, que atraiu comerciantes ingleses e franceses, estes últimos, geralmente dedicados ao vestuário de luxo e outros artigos de moda. Quem, nesse momento, poderia prever quão longe iriam as mudanças que apenas começavam a acontecer?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-family: inherit; font-size: medium;">(*) FAZENDA, José Vieira, <i>Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro</i>. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1940, p. 40. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2019/11/como-foi-anunciada-a-chegada-da-familia-real-em-1808.html" target="_blank">Como foi anunciada a chegada da família real ao Rio de Janeiro em 1808</a></span></li><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2020/12/luminarias-para-festejar-chegada-da-familia-real.html" target="_blank">Luminárias para festejar a chegada da família real</a></span></li><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2020/10/vestuario-de-dom-joao-e-de-dona-carlota-joaquina-em-1808.html" target="_blank">O que os príncipes Dom João e Dona Carlota Joaquina vestiam quando desembarcaram no Rio de Janeiro em 1808</a></span></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-28154881012510606342024-03-06T10:00:00.055-03:002024-03-06T10:00:00.129-03:00Óleo de baleia para reforçar construções<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">As <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2014/11/a-pesca-da-baleia-no-periodo-colonial.html" target="_blank">baleias</a> já foram muito numerosas ao longo do litoral brasileiro. Apareciam em belo espetáculo, muitas vezes acompanhadas de filhotes, mas nada disso despertava a ternura dos colonizadores. As baleias foram, portanto, impiedosamente caçadas. Não se queria a carne, ainda que fosse dada aos escravos. O que se esperava era obter delas a gordura, chamada também de <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2018/12/iluminacao-no-brasil-colonial.html" target="_blank">óleo ou azeite de baleia</a>, usado na iluminação pública e das residências.<br /></span><span style="font-family: inherit;">A vaidade era outra fonte de assassinato das pobres criaturas. Eu disse vaidade? Talvez devesse dizer tortura. As barbatanas eram empregadas na confecção de <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2021/02/chapeus-guarda-chuvas-e-barbatanas-para-coletes.html" target="_blank">espartilhos</a>, aqueles instrumentos deprimentes que mulheres usavam para dar ao corpo um contorno supostamente mais favorável. <br /></span><span style="font-family: inherit;">Alguém, contudo, descobriu que as borras de azeite de baleia - entenda-se, sobras de azeite de baleia - podiam ter alguma utilidade. Em <b><i>Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro</i></b>, José Vieira Fazenda afirmou:<br /></span><span><blockquote><span style="font-family: georgia;"><span style="background-color: #ffe599;">"É sabido: os antigos construtores serviam-se dessa borra [...] ligada à cal do reino para as edificações, e é por isso que nas demolições de antigos edifícios é preciso muitas vezes empregar a dinamite (¹). Um rico contratador ofereceu ao vice-rei, marquês de Lavradio, os resíduos do azeite para as obras da Casa do Trem em vez de lançá-los fora da barra (²). Deram as experiências bom resultado e o marquês recomendou à munificência régia esse benemérito [...]."</span> (³)</span></blockquote></span><span style="font-family: inherit;">Em Paraty, há algum tempo, um morador da cidade mostrou-me um muro e assegurou-me que, mesmo restaurado, ainda tem uma parte original, feita com pedra e massa na qual se incluíra o óleo de baleia, evidência de que essa prática teve certa amplitude nos tempos coloniais. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhew6b8ahQUCBJxN5g-ttb-uWMkN-LuKjOxkCt5QWoFzhz2nidENOd8r6383cu66MKmyFojGrAkrdXfCphHaEaWyc5f6pZCM_yjQyG0cX_yeCgum8WE1W0E55Yos24sNzouOCgXFfJjevFJqeNhRatnoiN45iJ4R5HGgsrkX5OIxVl4_mw_eFqJEyqu-2x4/s600/001592,%20Muro%20antigo%20de%20pedra%20em%20Paraty%20-%20RJ.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="372" data-original-width="600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhew6b8ahQUCBJxN5g-ttb-uWMkN-LuKjOxkCt5QWoFzhz2nidENOd8r6383cu66MKmyFojGrAkrdXfCphHaEaWyc5f6pZCM_yjQyG0cX_yeCgum8WE1W0E55Yos24sNzouOCgXFfJjevFJqeNhRatnoiN45iJ4R5HGgsrkX5OIxVl4_mw_eFqJEyqu-2x4/s16000/001592,%20Muro%20antigo%20de%20pedra%20em%20Paraty%20-%20RJ.jpg" title="Muro que se diz ter sido construído com adição de óleo de baleia (© Marta Iansen)." /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Muro em Paraty, que se afirma ter sido originalmente construído <br />com adição de óleo de baleia </b></td></tr></tbody></table><br /><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;">(1) Segundo o autor citado, que seja entendido. <br /></span><span style="font-family: inherit;">(2) Certas preocupações ambientais que hoje povoam nossa cabeça não eram exatamente uma prioridade no Século XVIII, ainda que seja justo reconhecer o mérito de quem tentou achar um uso digno para as sobras do óleo de baleia. Melhor seria que as mamíferas houvessem continuado a viver e procriar sem obstáculos e ameaças nos mares deste planeta. <br /></span><span style="font-family: inherit;">(3) FAZENDA, José Vieira. <i>Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro</i>. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1940, p. 439.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2014/11/a-pesca-da-baleia-no-periodo-colonial.html" target="_blank">A pesca da baleia no Período Colonial</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2018/12/iluminacao-no-brasil-colonial.html" target="_blank">De onde vinha o óleo que mantinha as candeias acesas no Brasil Colonial</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2015/11/esqueletos-de-baleia-no-caminho-do-padre-anchieta.html" target="_blank">Esqueletos de baleia no caminho do padre Anchieta</a></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-33474152582991720102024-03-04T10:00:00.053-03:002024-03-04T10:00:00.126-03:00Ursa Maior e Órion<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaSQbQfC4aocucgdt_-Wi_nPYyYl2HWd2yczAOnlO5fO9eL7HFbpch-kSX1TE6zFq3GR9SIJRI89ZRRQCI7oXqjTvjtkwtMwz4e6T1nWtQy9sJC64au8OzljZibURFY1xUejY5kQZnqC2EQST3s_0yVmfWgvRVu_NRFHA2dWVaS7vIJq87scB0rZkM1Q-g/s500/001591,%20Hera.jpg" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="335" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaSQbQfC4aocucgdt_-Wi_nPYyYl2HWd2yczAOnlO5fO9eL7HFbpch-kSX1TE6zFq3GR9SIJRI89ZRRQCI7oXqjTvjtkwtMwz4e6T1nWtQy9sJC64au8OzljZibURFY1xUejY5kQZnqC2EQST3s_0yVmfWgvRVu_NRFHA2dWVaS7vIJq87scB0rZkM1Q-g/s16000/001591,%20Hera.jpg" title="Hera, a deusa que teria transformado uma ninfa em ursa (*)." /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Hera, a deusa que, por ciúmes, <br />teria transformado uma ninfa em ursa (*)</b></td></tr></tbody></table>Pastores de ovelhas, na Antiguidade, enquanto guardavam rebanhos ao ar livre em noites de verão, devem ter olhado para o céu e, com elementos da cultura a que pertenciam, ajudaram a criar lendas relacionadas à forma de agrupamentos de estrelas que viam. Dois exemplos: as constelações que conhecemos como Ursa Maior e Órion.</span><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><h3><span style="font-family: inherit;"><b>Ursa Maior</b></span></h3><span style="font-family: inherit;">Dizia a lenda que <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2021/04/zeus.html" target="_blank">Zeus</a> teria se apaixonado (outra vez!) por uma das ninfas de Ártemis; <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2019/09/deusa-grega-hera.html" target="_blank">Hera</a>, com os ciúmes de sempre, vingou-se, transformando a ninfa em ursa, que Zeus, condoído, colocou no céu - a constelação da Ursa Maior.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><h3><span style="font-family: inherit;"><b>Órion</b></span></h3><span style="font-family: inherit;">Há muitas versões para a lenda de Órion. Esta é uma delas: o grande caçador celeste foi picado mortalmente por um escorpião, mas Ártemis, a deusa da caça, colocou-o no céu, onde continua a caçar em companhia de seus dois cães, o Cão Maior e o Cão Menor, também constelações, sempre perseguido pelo escorpião (a constelação de Escorpião). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;">(*) </span>BRUNN, Heinrich. <i>Griechische Götterideale</i>. München: Verlagsanstalt für Kunst und Wissenschaft, 1893, p. 7. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog. </span></div><div><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><b style="font-family: inherit;">Veja também:</b></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2018/04/explicacoes-mitologicas-para-fenomenos-naturais.html" target="_blank">Explicações mitológicas da Antiguidade para fenômenos naturais</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2017/03/aparicao-de-cometas-roma-antiga.html" target="_blank">Como os antigos romanos interpretavam a aparição de cometas</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2017/10/eclipses.html" target="_blank">Eclipses</a></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-2926013639533935022024-03-01T10:00:00.057-03:002024-03-01T10:00:00.127-03:00Arruaças estudantis em universidades medievais<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg53BLiyWmQVbtnxHkyxj14MUkn5Qawl9UiWe_lf2wNpLLufCTVr-5fgODWkXm-BUF0-CtjVuExQ7OItrTicKnWUnFFt6XFVCSBXpcx7Z5kPooBv-OxAESuaNtOGFKVj-4QradxAAhxgTG8HWWbGF9A0RrdQcX2u7GUgiyHs36A_Ly4AiMizk0kcuk1eLYr/s500/001590,%20Estudante%20do%20S%C3%A9culo%20XIV.jpg" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="345" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg53BLiyWmQVbtnxHkyxj14MUkn5Qawl9UiWe_lf2wNpLLufCTVr-5fgODWkXm-BUF0-CtjVuExQ7OItrTicKnWUnFFt6XFVCSBXpcx7Z5kPooBv-OxAESuaNtOGFKVj-4QradxAAhxgTG8HWWbGF9A0RrdQcX2u7GUgiyHs36A_Ly4AiMizk0kcuk1eLYr/s16000/001590,%20Estudante%20do%20S%C3%A9culo%20XIV.jpg" title="Estudante do Século XIV (*)." /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Estudante do Século XIV (*)</b></td></tr></tbody></table>Em geral, os estudantes que ingressavam em universidades medievais eram mais jovens do que são quase todos os <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2020/03/recepcao-de-calouros-nas-universidades-medievais.html" target="_blank">calouros</a> de hoje - não era incomum que meninos de quatorze ou quinze anos fossem admitidos na supostamente rígida vida estudantil da época. De qualquer modo, quem começava seus estudos universitários precisava dominar plenamente a língua franca - o latim - não apenas para falar e ouvir o que diziam os professores, como também para ler e escrever. Assim, muitas instituições medievais recebiam alunos de diferentes países, mas o estudo e convivência eram possíveis porque, para todos, havia a exigência de uso do latim.<br /></span><span style="font-family: inherit;">Salas de estudo não eram lugares confortáveis. Eram, muitas vezes, espaços frios, e nem sempre havia cadeiras e mesas adequadas ao estudo. Em alguns lugares, os alunos precisavam sentar-se no chão, mesmo durante o inverno. Como ainda não existiam os <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/07/impressores-encadernadores-revolucao-dos-livros.html" target="_blank">livros impressos</a> e os livros manuscritos eram caríssimos, muito da aprendizagem estava centralizada na memorização do que se ouvia nas aulas e do que se podia ler em bibliotecas. E, além de tudo, no regimento de muitas universidades </span>eram previstos castigos físicos<span style="font-family: inherit;"> para os estudantes desobedientes que ainda não fossem considerados adultos.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Apesar disso, são inúmeros os relatos de arruaças promovidas por estudantes. Há registros de rebeliões estudantis em Oxford, Paris, Leipzig e muitas outras universidades. E, para provar que esses motins não eram apenas ocasiões para fazer barulho ou gritar palavras de ordem, basta lembrar que nas taxas que os estudantes admitidos na universidade de Bolonha deviam pagar, estava incluída aquela que garantia a devida reparação de janelas que, eventualmente, fossem quebradas em festas... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;"><span>(*) <i>Cf.</i> </span><span>ARIA et ANDERSON. </span><i>Costume:
Fanciful, Historical and Theatrical. </i></span><span style="font-family: inherit;">London: Macmillan and Co., 1906. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog. </span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2020/03/recepcao-de-calouros-nas-universidades-medievais.html" target="_blank">A recepção de calouros nas universidades medievais</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2021/01/velas-para-marcar-o-tempo.html" target="_blank">Velas para marcar o tempo</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2021/06/chapeu-com-chifres-idade-media.html" target="_blank">Em algumas cabeças medievais</a></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-30154738969748785122024-02-28T10:00:00.037-03:002024-02-28T10:00:00.138-03:00Altares domésticos dos astecas<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Não só de sacrifícios em altares no alto das pirâmides escalonadas, com intervenção da <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2018/09/hierarquia-social-imperio-asteca.html" target="_blank">elite sacerdotal</a>, era feita a religião dos astecas. Essa, por certo, era mais religião de Estado que fenômeno pessoal e quotidiano. Se podemos crer nas palavras de Bernal Díaz del Castillo, soldado espanhol que participou da <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2021/02/conquista-da-capital-asteca.html" target="_blank">conquista e destruição do Império Asteca com Hernán Cortés</a>, havia, também, práticas religiosas domésticas:<br /></span><span><blockquote><span style="background-color: #ffe599; font-family: georgia;">"[...] cada índio e índia tinha dois altares, um no lugar em que dormiam, outro na porta da casa, [..] cheios de ídolos (¹), alguns pequenos, outros grandes, pedras pequenas e grandes, e uns livrinhos de papel feito de casca de árvore, a que chamam amatl, e neles seus sinais do tempo e coisas passadas. [...]"</span><span style="font-family: inherit;"> (²)</span></blockquote></span><span style="font-family: inherit;">Sabe-se que Bernal Díaz escreveu suas memórias da guerra contra os astecas muito tempo depois dos acontecimentos. Quanto é ele confiável? É difícil determinar, mas foi, de qualquer modo, testemunha ocular, e conviveu com os indígenas antes e depois da "conquista", e pôde, assim, fazer observações em primeira mão. É verdade que tudo passava pelo filtro de suas convicções religiosas, mas, ressalvados esses fatores, é interessante que tenha registrado como os astecas que encontrou faziam suas práticas religiosas no âmbito privado. <br /></span><span style="font-family: inherit;">Para quem hoje se interessa por estudar a cultura dos povos indígenas, resta lamentar que nem todos os livrinhos com imagens que representavam "coisas passadas" tenham sobrevivido. Os "conquistadores" tinham pressa em apagar tudo o que remetia às crenças nativas e, para isso, muitos deles não hesitavam em queimar qualquer coisa que encontravam. Em uma época em que europeus queimavam pessoas que se atreviam a pensar diferente em matéria de religião, por que não queimariam os objetos de culto dos astecas? </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;">(1) Esculturas ou outras representações de deuses.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(2) CASTILLO, Bernal Díaz del. <i>Verdadera Historia de los Sucesos de la Conquista de la Nueva España</i>. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog <a href="https://martaiansen.blogspot.com" target="_blank">História & Outras Histórias</a>. </span></span><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2018/09/hierarquia-social-imperio-asteca.html" target="_blank">Hierarquia social no Império Asteca</a></span></li><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2020/08/uma-cruz-no-principal-templo-asteca.html" target="_blank">A busca por um tesouro, um imperador aprisionado e a colocação de uma cruz no principal templo asteca</a></span></li><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2020/11/a-morte-de-montezuma-imperador-asteca.html" target="_blank">A morte de Montezuma, imperador asteca</a></span></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-895497116013669272024-02-26T10:00:00.053-03:002024-02-26T10:00:00.236-03:00Mantilhas pretas e vermelhas<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">O uso de <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2011/10/mantilha-vestimenta-feminina-no-periodo.html" target="_blank">mantilhas</a> foi generalizado entre as mulheres que viviam no Brasil Colonial. Cobriam-se com ela quando iam à rua e, em casos extremos, maridos ciumentos impunham seu uso até dentro de casa. Pode-se bem imaginar o que isso significava em tardes quentes de verão.<br /></span><span style="font-family: inherit;">Aos poucos, comportamentos mais civilizados se introduziram na Colônia e, depois, no Império, e, à exceção do que ocorria em localidades interioranas, as mantilhas caíram em desuso. Não combinavam, mesmo, com as <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2012/05/moda-parisiense-moda-americana-uma.html" target="_blank">modas francesas</a> que invadiram o Rio de Janeiro, capital do Império.<br /></span><span style="font-family: inherit;">Apesar disso, por relato de Joaquim Ferreira Moutinho, um português que durante dezoito anos viveu em Cuiabá no Século XIX, vê-se que as mulheres daquela cidade, as pobres e as ricas, persistiam no uso da mantilha (ou talvez persistissem por elas os homens das respectivas famílias). Havia, contudo, uma diferença:<br /></span><span><blockquote><span style="font-family: georgia;"><span style="background-color: #ffe599;">"É original ali [em Cuiabá], nas mulheres pobres e nas escravas, o uso de saírem à rua embuçadas em uma baeta vermelha. As pessoas mais favorecidas da fortuna usam de um manto de pano preto lemiste. no qual se envolvem, deixando apenas descoberta uma parte do rosto."</span> (¹) </span></blockquote></span><span style="font-family: inherit;">Perversamente, Ferreira Moutinho concluiu: </span><span style="font-family: georgia;"><span style="background-color: #ffe599;">"Este costume - prejudicial às bonitas - é o salvatério das feias."</span> (²) </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;">(1) MOUTINHO, Joaquim Ferreira. <i>Notícia Sobre a Província de Mato Grosso</i>. </span><span style="font-family: inherit;">São Paulo: Typographia de Henrique Schroeder, 1869, pp. 14 e 15.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(2) <i>Ibid</i>., p. 15.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2014/06/uso-de-mantilha-no-vale-do-paraiba-na-segunda-metade-do-seculo-xix.html" target="_blank">Uso de mantilha no Vale do Paraíba na segunda metade do Século XIX</a></span></li><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2011/10/mantilha-vestimenta-feminina-no-periodo.html" target="_blank">Mantilha, vestimenta feminina no Período Colonial</a></span></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-90264482391449706542024-02-23T10:00:00.049-03:002024-02-23T10:00:00.124-03:00Curiosidades sobre os faraós<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>1.</b> Os <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/12/poder-dos-faraos-no-egito-antigo.html" target="_blank">faraós</a> representavam o ápice da pirâmide social no Egito Antigo. Há poucos casos conhecidos de mulheres que eventualmente ocuparam esse posto. Filhos dos faraós, quando pessoas capazes, ocupavam cargos importantes nos negócios públicos, tanto civis como militares.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-family: inherit;"><b>2.</b> O faraó era visto como o <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2019/09/culto-ao-sol-na-antiguidade.html" target="_blank">deus sol</a> em figura humana. O respeito que lhe era votado vinha, em parte, da crença de que ele se constituía em uma ponte entre os assuntos dos deuses e os da humanidade.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-family: inherit;"><b>3.</b> No imaginário egípcio, faraós mantinham sua posição não apenas em vida: continuavam a ser reis também após a morte. O mesmo acontecia em relação aos demais mortos, que conservavam, no <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2014/03/a-perspectiva-quanto-a-vida-apos-a-morte-no-egito-antigo.html" target="_blank">além-túmulo</a>, as tarefas que tinham em vida, apenas com algumas melhorias, e sem tornar a morrer.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"> </span><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-family: inherit;"><b>4. </b>Tutmés IV, assim que subiu ao trono, mandou remover a areia que cobria quase toda a esfinge, deixando apenas a cabeça emersa. Se existe um monumento no mundo cuja idade exata ninguém sabe, esse monumento é a esfinge de Gizé. No mínimo, parece muito mais antiga do que as pirâmides próximas. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-family: inherit;"><b>5.</b> Em um prazo de dez anos, Amenófis III teria matado cento e doze leões. Matar leões, contudo, não era mania apenas dos monarcas do Egito: <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2017/06/reis-assirios-eram-grandes-cacadores.html" target="_blank">reis assírios</a>, por exemplo, eram apaixonados pela caça aos leões. Para facilitar o trabalho, os animais eram aprisionados e, assim, estavam à disposição de tão valentes caçadores.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-family: inherit;"><b>6.</b> Ramsés II costumava ter a companhia de um leão em campo de batalha.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-family: inherit;"><b>7.</b> De acordo com Heródoto, um grande prodígio ocorreu quando começou a reinar o faraó Psamético, filho de Amósis: choveu em Tebas, coisa que os egípcios vivos na época diziam nunca ter presenciado. Já que as chuvas eram tão raras, o telhado das casas não era, em regra, uma parte muito reforçada das construções, daí os grandes estragos que ocorriam quando uma mudança nos hábitos do clima resultava em chuvarada.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-family: inherit;"><b>8.</b> Faraós podem ter sido responsáveis pela iniciativa de grandes viagens marítimas na Antiguidade. Heródoto sugeriu que, por ordem do faraó Necao II, que viveu entre os Século VII e VI a.C., navegadores (provavelmente fenícios), teriam contornado todo o Continente Africano.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2014/09/embalsamamento-de-primeira-classe-no-egito-antigo.html" target="_blank">Embalsamamento de primeira classe no Egito antigo</a></span></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2018/05/animais-que-interferiram-na-politica-egito-antigo.html" target="_blank">Animais que interferiram na vida política do Egito Antigo</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2021/05/mito-de-osiris.html" target="_blank">Algumas interpretações para o mito de Osíris</a></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-9447869620224212652024-02-21T10:00:00.047-03:002024-02-21T10:00:00.235-03:00Recompensa para o escravo que encontrava um diamante grande<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">A extração de diamantes no Brasil foi, durante muito tempo, um monopólio da Coroa. Mas, à semelhança da extração aurífera feita por particulares, a mão de obra era essencialmente escrava. Talvez pareça que, para o cativo, nenhum estímulo havia para a procura de diamantes excelentes. Mas não era assim.<br /></span><span style="font-family: inherit;">Wilhelm Ludwig von Eschwege, ou simplesmente Barão de Eschwege (¹), que esteve no Brasil a convite do governo joanino, observou que o escravo que encontrava um diamante valioso era devidamente recompensado:<br /></span><span><blockquote><span style="font-family: georgia;"><span style="background-color: #ffe599;">"Tenha o escravo, porém, a felicidade de achar um diamante de mais de dezessete quilates e meio, é logo enfeitado de grinaldas de flores e conduzido em alegre procissão até a administração. Esta lhe concede a alforria, que é paga ao dono [...] (²). O negro, além da liberdade, recebe vestimentas novas e autorização de trabalhar por conta própria. Caso o achado seja de oito a dez quilates, receberá camisas novas, um fato completo, um chapéu e uma boa faca, que também constitui recompensa pela descoberta de diamantes menores." </span>(³) </span></blockquote></span><span style="font-family: inherit;">Diamantes grandes, porém, não eram comuns, e disso se conclui que as alforrias por esse motivo eram igualmente raras:<br /></span><span><blockquote><span style="font-family: georgia;"><span style="background-color: #ffe599;">"As pedras grandes são raras, pois, no correr do ano, apenas duas ou três, de dezessete a vinte quilates, são achadas." </span>(³)</span><span style="font-family: inherit;"> </span></blockquote></span><span style="font-family: inherit;">Eschwege era um especialista em mineração, e sua vinda ao Brasil se explica pelo interesse do governo de <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2022/08/volta-de-dom-joao-sexto-a-portugal.html" target="_blank">D. João VI</a> em saber se era possível melhorar a produção, tanto das jazidas auríferas quanto da extração de diamantes. Conforme logo verificou, não bastava atribuir prêmios aos trabalhadores, no interesse de motivá-los a um bom desempenho em suas tarefas. As técnicas de extração é que eram ruins, muito ruins, e resultavam em um grande desperdício do terreno potencialmente rico.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;">(1) 1777 - 1855.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(2) Os escravos que trabalhavam no <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2015/08/o-distrito-diamantino-e-o-contrabando-de-diamantes-do-brasil.html" target="_blank">Distrito Diamantino</a> pertenciam a particulares que alugavam seus serviços. <br /></span><span style="font-family: inherit;">(3) ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. <i>Pluto Brasiliensis</i>, trad. Domício de Figueiredo Murta. Brasília: Senado Federal, 2011, p. 495.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(4) <i>Ibid.</i>, p. 497.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2015/12/religiosos-que-contrabandeavam-diamantes.html" target="_blank">Religiosos que contrabandeavam diamantes no Brasil Colonial</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2015/09/restricoes-ao-trabalho-das-quitandeiras.html" target="_blank">Restrições ao trabalho das quitandeiras no Distrito Diamantino</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/08/como-eram-despachados-diamantes-para-portugal.html" target="_blank">Como eram despachados os diamantes que iam para Portugal</a></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-25088509087056801462024-02-19T10:00:00.069-03:002024-02-19T10:00:00.125-03:00O maior defeito das ferrovias paulistas construídas no Século XIX<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtt4Gr0tEKvIkd8QlKuoP2MXbbHUqQDhgR1aLC8hXbM1n1pSUQuhg5ps9zsgmw670ieV0vRZUhF7GlcK_nmf4K3KwBe4OoN1uhDxvo0YvF7OZsHswxCAqBEhlUDHs4MCoVuCPTTA9mYV74qp48TKPcoDIbWEe8LtFbdfUSwU5zeuHs2meBmwGN3s8OrKUX/s500/001585,%20Trilhos%20ferrovi%C3%A1rios.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="354" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtt4Gr0tEKvIkd8QlKuoP2MXbbHUqQDhgR1aLC8hXbM1n1pSUQuhg5ps9zsgmw670ieV0vRZUhF7GlcK_nmf4K3KwBe4OoN1uhDxvo0YvF7OZsHswxCAqBEhlUDHs4MCoVuCPTTA9mYV74qp48TKPcoDIbWEe8LtFbdfUSwU5zeuHs2meBmwGN3s8OrKUX/s16000/001585,%20Trilhos%20ferrovi%C3%A1rios.jpg" title="Trilhos de uma ferrovia desativada (© Marta Iansen)." /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Trilhos de uma ferrovia desativada</b></td></tr></tbody></table>A construção de <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/08/ferrovias-e-lavoura-cafeeira.html" target="_blank">ferrovias na Província de São Paulo</a> foi, no século XIX, um passo importantíssimo de modernização nas comunicações e transportes. Sem elas, não seria possível exportar o que quer que fosse em larga escala - <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2019/10/terreiros-das-fazendas-de-cafe.html" target="_blank">café</a>, por exemplo - que devia ser levado das fazendas ao porto de Santos; sem elas, seria muito mais difícil o deslocamento de contingentes populacionais para trabalho na lavoura, mão de obra de imigrantes, que chegava ao Brasil na expectativa, </span>nem<span style="font-family: inherit;"> sempre alcançada, de melhora nas condições de vida; sem elas, a propagação de notícias continuaria nos velhos padrões, seguindo a pé, a cavalo ou em <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2015/10/homenagem-as-mulas-dos-tropeiros.html" target="_blank">mulas</a>, ou ainda em canoas. Grande mudança, portanto.<br /></span><span style="font-family: inherit;">Contudo, essas ferrovias sofriam de um defeito sério, com graves implicações à sua utilidade: foram construídas sem um plano geral que antecedesse os trabalhos. A construção e administração de um trecho era entregue a uma companhia, muitas vezes de capital estrangeiro, enquanto outros trechos, de outras companhias, eram construídos com padrões diferentes. Era o caso, por exemplo, das bitolas entre os trilhos. Vejamos alguns exemplos:<br /><ul><li><span style="font-family: inherit;">Estrada de Ferro Santos - Jundiaí: 1,6 m (¹);</span></li><li><span style="font-family: inherit;">Companhia Paulista, ligando Jundiaí a Campinas: 1,6m (²);</span></li><li><span style="font-family: inherit;">Companhia Ituana, trecho Jundiaí a Itu: 0, 96 m (³);</span></li><li><span style="font-family: inherit;">Companhia Sorocabana: 1,0 m (⁴).</span></li></ul></span><span style="font-family: inherit;">Outros casos poderiam ser citados, mas estes já são suficientes para demonstrar que havia uma dificuldade prática: trens de uma companhia não podiam circular nos trilhos de outra. Para os usuários, um incômodo problema: faziam-se necessárias as irritantes baldeações, quando, para seguir viagem entre trechos de distintas companhias, era preciso mudar de um trem para outro. <br /></span><span style="font-family: inherit;">É fato que, em parte, as bitolas diferentes eram intencionais, já que as empresas buscavam assegurar para si o maior lucro possível, garantindo que não haveria compartilhamento da infraestrutura, mas isso apenas demonstra que, de certo modo, o governo provincial, sem dispor de recursos próprios para estabelecer linhas férreas, via-se refém das companhias interessadas em assumir determinados trechos, cuja lucratividade, no entanto, competia ao governo garantir. A questão, vê-se, era complexa. O resultado, um quebra-cabeça de trilhos diferentes, para desgosto de quem viajava ou contratava o <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2012/10/mercadorias-que-eram-transportadas-nas-ferrovias-paulistas-no-seculo-XIX.html" target="_blank">transporte de mercadorias</a>.<br /></span><span style="font-family: inherit;">Agora, leitores, se quiserem dar um mergulho no que era uma viagem ferroviária nesses tempos, podem ouvir <i><b>"O Trenzinho do Caipira"</b></i> (⁵) de Heitor Villa-Lobos. Fechem os olhos e deixem a imaginação voar. Se a experiência auditiva não for suficiente, poderão, também, fazer uma breve viagem em alguma das ferrovias turísticas em que circulam velhas <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/07/chegada-da-locomotiva-a-vapor.html" target="_blank">locomotivas a vapor</a> restauradas, com carros igualmente antigos. Vão descobrir, neste caso, que viajar não era exatamente uma experiência confortável.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;">(1) <i>Cf.</i> PINTO, Adolpho Augusto. <i>História da Viação Pública de São Paulo</i>. São Paulo: Typographia e Papelaria de Vanorden & Cia., 1903, p. 40.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(2) <i>Ibid.</i><br /></span><span style="font-family: inherit;">(3) <i>Ibid.</i>, p. 47.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(4) <i>Ibid.</i> p. 50.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(5) <i>Bachianas Brasileiras</i> nº 2.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/08/ferrovias-perigosas.html" target="_blank">Ferrovias perigosas</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2019/09/funcionarios-que-um-trem-precisava-ter.html" target="_blank">Quantos funcionários um trem precisava ter no Século XIX</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/04/viagens-antes-da-existencia-de-ferrovias.html" target="_blank">Como eram as viagens terrestres antes da existência de ferrovias</a></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-74294998591538053592024-02-16T10:00:00.062-03:002024-02-16T10:00:00.227-03:00Um romano que lutou em cento e vinte batalhas<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Roma era República há pouco tempo. Livrara-se dos <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2017/03/sete-reis-de-roma.html" target="_blank">reis</a>, que tanto a incomodavam. Um tribuno da plebe desse tempo tornou-se uma espécie de herói nacional, por ter, segundo Plínio, o Velho (¹), lutado em nada menos que cento e vinte batalhas:<br /></span><span><blockquote><span style="background-color: #ffe599; font-family: georgia;">"Lúcio Sício Dentato, que foi tribuno da plebe [...] não muito depois da deposição dos reis, tendo recebido muitíssimos votos, lutou em cento e vinte batalhas; sendo provocado lutou e foi vitorioso em oito <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/01/combate-singular.html" target="_blank">combates singulares</a>. Tinha quarenta e cinco cicatrizes pelo corpo, nenhuma delas nas costas."</span><span style="font-family: inherit;"> (²)</span></blockquote></span><span style="font-family: inherit;">De conformidade com Plínio, o botim de guerra que coube a Dentato por tantas façanhas, incluía dinheiro, dez <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/11/como-romanos-tratavam-prisioneiros-de-guerra.html" target="_blank">prisioneiros</a> e vinte vacas.<br /></span><span style="font-family: inherit;">Façamos duas considerações:<br /><ul><li><span style="font-family: inherit;">Para que tenha lutado em tantas batalhas, era preciso que os romanos de seu tempo vivessem metidos em encrencas com os povos vizinhos;</span></li><li><span style="font-family: inherit;">O tamanho do botim de guerra por ele capturado mostra que as tais batalhas em nada poderiam se comparar àquelas travadas, por exemplo, durante as <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2018/08/por-que-anibal-nao-atacou-roma.html" target="_blank">Guerras Púnicas</a>. Deviam ser simples querelas com outros grupos humanos na Península Itálica. Qual a importância disso? Roma, que era uma povoação de pastores e agricultores briguentos, tornou-se uma cidade mais e mais destacada, que chegou a controlar toda a Península, abrindo caminho para um território cada vez maior, ao redor do grande "lago romano", o <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2020/09/mediterraneo-foi-via-de-fusao-e-irradiacao-de-cultura.html" target="_blank">Mediterrâneo</a>. </span></li></ul></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;">(1) 23 d.C. - 79 d.C.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(2) PLÍNIO, o Velho. <i>Naturalis Historia</i>, Livro VII. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog <a href="https://martaiansen.blogspot.com" target="_blank">História & Outras Histórias</a>. </span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2018/12/romanos-odiavam-a-monarquia.html" target="_blank">O ódio dos romanos à monarquia</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2017/12/conjuracao-de-catilina.html" target="_blank">A Conjuração de Catilina</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2018/11/lei-das-doze-tabuas.html" target="_blank">A Lei das Doze Tábuas</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2023/07/cincinato-e-os-romanos-que-aravam-com-bois.html" target="_blank">Cincinato e os romanos que aravam com bois</a></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-86057672544563160572024-02-14T10:00:00.049-03:002024-02-14T10:00:00.123-03:00Um governador que comandou expedição contra indígenas<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Eis aqui um assunto que levanta mais perguntas do que se pode responder. Aconteceu no Século XVIII, e disso se fala nos <i><b>Anais Históricos do Estado do Maranhão</b></i>, também conhecidos como <i><b>"Anais de Berredo"</b></i>, do nome de seu autor, Bernardo Pereira de Berredo:<br /></span><span><span style="font-family: georgia;"><blockquote><span style="background-color: #ffe599;">"[...] sucedeu o ano de 1715; mas o Senhor de Pancas, Cristóvão da Costa, livre já do cuidado da guerra da Europa, o empregou na do mesmo país; e para dar mais evidentes provas de que era tanto o zelo de que se enobrecia a sua atividade como militar o seu grande espírito, formando logo uma boa tropa para o castigo do gentio de corso da nação belicosa dos bárbaros, infestadores da Capitania do Maranhão, se declarou por seu comandante." (¹)</span></blockquote></span></span><span style="font-family: inherit;">Os encômios de Berredo ao governador do Maranhão não conseguem disfarçar o que, de fato, acontecia. Uma vez que não era usual que governadores comandassem entradas ao sertão para combater indígenas, que interesse teria nisso Cristóvão da Costa, ao enfrentar tantos desconfortos em uma terra hostil, cheia de animais peçonhentos e insetos incômodos?<br /></span><span style="font-family: inherit;">Lembrando, de passagem, que "gentio" era um modo usual, na época, de referência aos indígenas, e que "gentio de corso" era como se falava dos indígenas nômades, voltemos às palavras de Berredo, para saber em que foi dar essa óbvia expedição de <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2017/09/bandeiras-de-apresamento.html" target="_blank">apresamento de indígenas para escravização</a>: <br /></span><span><span style="font-family: georgia;"><blockquote><span style="background-color: #ffe599;">"Como o general desta expedição o era do Estado, se adiantaram tanto as providências para ela, que saiu da cidade de S. Luís dentro de poucos dias; mas deixando todos aqueles moradores cheios de esperanças, as malogrou com muita brevidade a inconstância da guerra; porque fazendo um destacamento sobre os mesmos bárbaros, que encarregou ao sargento-mor João Nogueira de Sousa, quando este cabo, cercada já a populosa aldeia, a que se reduzia o principal corpo de sua nação, valorosamente se dispunha para a entrar à escala, um soldado de baixo nascimento, ou fosse por descuido, ou por malícia, disparou uma arma, e avisados eles do estrondo do tiro, fugiram quase todos ao perigo que os ameaçava, amparados também das sombras da noite com o conhecimento do terreno." (²)</span></blockquote></span></span><span style="font-family: inherit;">As esperanças dos moradores, ainda que não explícitas no que escreveu Berredo, só poderiam ser as de, em poucos dias, terem à disposição número considerável de novos escravizados. Outras perguntas daí decorrem, porém: se os tais indígenas, "bárbaros", eram "gentio de corso", o que estariam fazendo aldeados? A menos que por aldeia se deva entender apenas um acampamento, há nisso evidente contradição. O que há de mais encantador, contudo, é que Berredo admite que o "soldado de baixo nascimento" pode ter disparado, não por acidente, mas "por malícia", ou seja, intencionalmente, para advertir os indígenas. Seja como for, trata-se de um dos poucos episódios em que um tiro que não saiu pela culatra fez com que toda uma expedição "saísse pela culatra". Os indígenas, é claro, deram no pé, e fizeram muito bem.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"> </span><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;">(1) BERREDO, Bernardo Pereira de. <i>Anais Históricos do Estado do Maranhão</i>. Lisboa: Oficina de Francisco Luiz Ameno, 1749, p. 676.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(2) <i>Ibid. </i></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2017/11/escravizacao-de-indigenas-foi-geral-no-brasil.html" target="_blank">A escravização de indígenas foi geral no Brasil</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2017/11/escravizacao-de-indios-das-missoes.html" target="_blank">A preferência por indígenas das missões para captura e escravização</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2018/07/padre-antonio-vieira-e-as-confissoes-de-escravizadores.html" target="_blank">O padre Antônio Vieira e as confissões dos escravizadores de indígenas</a></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-59357909000497165922024-02-12T10:00:00.055-03:002024-02-12T10:00:00.128-03:00Proibido usar máscaras<h3 style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>No Século XVII, o uso de máscaras era associado à prática de crimes</b></span></h3><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Já houve tempo em que era proibido usar máscaras no Brasil. Não, leitores, não eram máscaras sanitárias. Eram daquelas usadas no antigo entrudo (sucedido pelo carnaval), e cujo uso podia degenerar em criminalidade, de modo que as autoridades não favoreciam seu emprego, embora, mesmo com as restrições, tivessem de tolerá-las durante os dias de festas populares. Um documento citado por Vieira Fazenda em </span><b style="font-family: inherit;"><i>Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro</i></b><span style="font-family: inherit;"> refere uma proclamação pública - </span><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2012/10/o-que-era-o-Bando-ou-proclamacao-municipal-nos-tempos-coloniais.html" style="font-family: inherit;" target="_blank">bando</a><span style="font-family: inherit;">, como então se dizia - com data de 1685, por ordem do governador Duarte Teixeira Chaves, proibindo as máscaras sob penas bastante severas:</span></div><div style="text-align: justify;"><span><blockquote><span style="background-color: #ffe599; font-family: georgia;">"Toda a pessoa, de qualquer qualidade e condição que seja, que se encontrar enmascarado [<i>sic</i>], incorrerá na pena de ir servir a Sua Majestade, que Deus guarde, na Nova Colônia do Sacramento (¹), do Rio da Prata, e sendo negro ou mulato será açoitado publicamente, e todo o oficial de guerra que encontrar os tais enmascarados [<i>sic</i>] os prenderá logo, sob pena de um mês de prisão para uma das fortalezas [...]." (²)</span></blockquote></span><span style="font-family: inherit;">Ainda de conformidade com Vieira Fazenda, mesmo as <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2011/10/mantilha-vestimenta-feminina-no-periodo.html" target="_blank">mantilhas</a> usadas por mulheres eram motivo de preocupação, a ponto de um bispo ter cogitado que se proibisse às damas as saídas à noite, </span><span style="background-color: #ffe599; font-family: georgia;">"[...] porque alguns gaiatos se aproveitavam dessa capa para, disfarçados, cometerem tropelias e escândalos" (³)</span><span style="font-family: inherit;">. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-family: inherit; font-size: medium;">(1) A Colônia do Sacramento, no atual Uruguai, foi verdadeiro cavalo de batalha dos tempos coloniais. Trocou de mãos várias vezes, e o governador deve ter decidido mandar os infratores para lá porque, além de ser, na época, considerada o limite sul do território português na América do Sul, era ainda lugar destituído de recursos à sobrevivência e de defesa muito difícil, para onde, como regra, somente iam aqueles que a isso eram obrigados. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;">(2) FAZENDA, José Vieira. <i>Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro</i>. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1940, p. 326.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(3) <i>Ibid.</i></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2015/02/tragedia-no-carnaval.html" target="_blank">Tragédia no carnaval</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2011/03/novidades-carnavalescas-de-outros.html" target="_blank">Novidades carnavalescas de outros carnavais</a></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-5138852015364674412024-02-09T10:00:00.072-03:002024-02-09T10:00:00.128-03:00Colonizadores casados no Reino que se casavam novamente no Brasil<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Os registros da <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2015/10/a-primeira-visitacao-do-santo-oficio-ao-brasil.html" target="_blank">Primeira Visitação do Santo Ofício</a> ocorrida no Brasil, mais especificamente na Bahia, em 1591, mostram que não eram exatamente raros os casos de colonizadores casados (homens ou mulheres) que, vindo ao Brasil, deixavam cônjuge vivo no Reino e, valendo-se da distância que quase tudo ocultava, casavam-se novamente. Isto é, até que ameaçados pela Inquisição, que parecia tudo adivinhar, corriam para a mesa do visitador e revelavam o que haviam feito. Exemplos? Vejamos:</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-family: inherit;"><u>Confissão de Baltasar Martins Florença, mestre de açúcar que deixou a mulher na Madeira e se casou novamente no Brasil</u></span></div><div style="text-align: justify;"><span><blockquote><span style="background-color: #ffe599; font-family: georgia;">"[...] ele confessante se veio para estas terras do Brasil, e deixou a dita sua mulher Isabel Nunes, e depois de estar ele confessante nestas partes do Brasil seis ou sete anos, [...] sabendo ele que ela estava viva, ele se casou [...] em Vila Velha [...] com Susana Borges Pereira [...] e a recebeu na igreja de Vila Velha [...] na forma como se costumam receber [...]."</span><span style="font-family: inherit;"> (¹)</span></blockquote></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><u>Confissão de Catharina Morena, que fugiu da Espanha porque era maltratada pelo marido e veio para o Brasil, onde se casou segunda vez com documento falso</u></span></div><div style="text-align: justify;"><span><blockquote><span style="font-family: georgia;"><span style="background-color: #ffe599;">"[...] confessando disse que haverá onze anos, pouco mais ou menos, sendo ela então da idade de dezoito anos, casou-se na cidade de Toledo [...] com Francisco Duram [...], que então dizia ser da idade de trinta anos [...], e com o dito seu legítimo marido ela esteve fazendo vida marital [...] como casados que eram, espaço de seis meses pouco mais ou menos, usando o dito o ofício de estalajadeiro. E no fim dos ditos seis meses, por ela ter grande aborrecimento ao dito seu marido por ser ele costumado a embebedar-se [...] lhe fugiu de casa e o deixou [...] e se veio fugida com um homem castelhano chamado Francisco de Burgos que a trouxe consigo a este Brasil [...], e depois de estar neste Brasil algum tempo na conversação do dito Francisco de Burgos se apartou dele e o deixou, e ela se foi a Pernambuco, onde [...] vendo-se muito pobre e desremediada determinou de se casar, e fez fazer uma carta falsa fingindo que lhe vinha de Málaga, em que se dizia que o dito seu marido Francisco Duram era morto, a qual deu a ler a muitas pessoas, e assim fingindo-se viúva [...] ela se casou segunda vez com Antônio Jorge, português, mestre de açougue na dita vila de Pernambuco [...]."</span> </span><span style="font-family: inherit;">(²)</span><span style="font-family: georgia;"> </span></blockquote></span><span style="font-family: inherit;"><u>Confissão de Antônia de Bairos, que veio ao Brasil condenada a degredo por adultério, e se casou novamente, sendo vivo o primeiro marido</u><br /></span><span><blockquote><span style="background-color: #ffe599; font-family: georgia;">"[...] e confessando disse que haverá trinta e dois anos, pouco mais ou menos, que ela veio do Reino <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2014/10/sera-degradado-para-o-brasil.html" target="_blank">degradada pelas justiças seculares</a> por cinco anos para este Brasil por adultério, de que a acusou o dito seu marido [...] e lá em Portugal se amigou ela com um homem cristão velho chamado Henrique Barbas [...] e com ele se veio para este Brasil e aportaram na Capitania Porto Seguro, e logo na dita capitania, poucos dias depois de estarem nela, sabendo ela muito bem e o dito Henrique Barbas de como o dito marido Álvaro Chaveiro, seu legítimo marido, ficava vivo em Portugal, se casaram ambos, ela confessante com o dito Henrique Barbas, [...] e que depois de assim se casar em face da Igreja com o dito segundo marido Henrique Barbas, sendo ela e ele sabedores que o seu legítimo marido Álvaro Chaveiro estava vivo, viveram ambos como casados em Porto Seguro mais de quinze anos, e por ele vir a dar açoites e pancadas e muito má vida a ela confessante, [...] lhe fugiu de casa e se meteu na igreja da vila e começou a declarar e manifestar como o dito Henrique Barbas não era seu marido legítimo [...]."</span><span style="font-family: inherit;"> (³) </span></blockquote></span><span style="font-family: inherit;">Estes são casos conhecidos em razão das confissões feitas diante do visitador do Santo Ofício. Quantos mais devem ter ocorrido em todo o Brasil? Impossível saber. A distância e a enorme dificuldade de comunicação aliavam-se aos que, talvez supondo que nunca mais poriam os pés no Reino, imaginavam que passariam melhor seus dias na terra se arranjassem novo casamento.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;">(1) MENDONÇA, Heitor Furtado de. <i>Primeira Visitação do Santo Ofício às Partes do Brasil</i>. São Paulo: 1922, p. 32.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(2) <i>Ibid</i>., pp. 81 e 82.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(3) <i>Ibid</i>., pp. 85 e 86.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2014/10/sera-degradado-para-o-brasil.html" target="_blank">"Será degradado para o Brasil"</a></span></li><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2015/10/a-primeira-visitacao-do-santo-oficio-ao-brasil.html" target="_blank">A primeira Visitação do Santo Ofício ao Brasil</a></span></li><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2014/10/as-boas-acoes-praticadas-pelos-condenados-ao-degredo-no-brasil.html" target="_blank">As boas ações praticadas pelos condenados ao degredo no Brasil</a></span></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-71435109944086038152024-02-07T10:00:00.081-03:002024-02-07T10:00:00.125-03:00Pérolas para as damas romanas<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgd9zkacHbJhuf65HxsZhndcg-gehbWiiyLhuOP1DjxgFcnI8ttfullf42ikhFyI-n0MRHto5M3B0-u9ZF3aPnifWBpcFJPxLdYb9TowulCEyeLbd2LBT-0zwXYTS7jygm0RTHPweEcCYYqJ7aXB0Od_-OW1WqhAssbySU2zsOi23gFaMC_ANJLsX8Qt8g/s500/001580,%20mulher%20romana.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="296" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgd9zkacHbJhuf65HxsZhndcg-gehbWiiyLhuOP1DjxgFcnI8ttfullf42ikhFyI-n0MRHto5M3B0-u9ZF3aPnifWBpcFJPxLdYb9TowulCEyeLbd2LBT-0zwXYTS7jygm0RTHPweEcCYYqJ7aXB0Od_-OW1WqhAssbySU2zsOi23gFaMC_ANJLsX8Qt8g/s16000/001580,%20mulher%20romana.jpg" title="Romana desconhecida (1)." /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Romana desconhecida (¹)</b></td></tr></tbody></table>No Século I, o comércio fervilhava com preciosidades que mercadores, por mar e por terra, faziam chegar ao coração do Império Romano. <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2019/02/para-que-romanos-usavam-marfim.html" target="_blank">Marfim</a> da África, tecidos finíssimos e tapeçarias do Oriente, <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2019/08/romanos-e-comercio-de-especiarias-da-arabia.html" target="_blank">perfumes da Arábia</a>, atraíam a atenção da elite de Roma, que estava disposta a pagar fortunas para ostentar alguma esquisitice, enquanto a massa, boquiaberta, admirava o que via, ainda que não pudesse entrar na onda de consumo. <br /></span><span style="font-family: inherit;">Para as mulheres romanas, porém, nada se comparava às pérolas. Elas vinham de pontos remotos ao longo do Oceano Índico, onde mergulhadores, quase sempre escravos, arriscavam a vida para encontrá-las. O desejo por pérolas era tão alucinante que até mesmo a gente pobre de Roma sonhava com elas, e fazia o possível para adquiri-las - foi Plínio, o Velho, quem disse (²). E disse mais: era nas orelhas (³) que quase todas as damas romanas gostavam de ostentá-las, embora também fosse moda usá-las presas aos calçados e até em chinelos, havendo quem apreciasse pisar sobre elas (⁴). Que coisa incômoda!<br /></span><span style="font-family: inherit;">Contudo, meus leitores, Plínio alegou ter sido testemunha ocular de extravagância muito maior. </span><span style="background-color: #ffe599; font-family: georgia;">"Eu vi Lolia Paulina (⁵) [...]"</span><span style="font-family: inherit;">, disse ele, </span><span style="background-color: #ffe599; font-family: georgia;">"não só em cerimônias solenes mas até em jantares corriqueiros, coberta de esmeraldas e pérolas, resplandecendo alternadamente sobre toda a cabeça, cabelos, orelhas, pescoço e dedos, no valor de quarenta milhões de sestércios (⁶)"</span><span style="font-family: inherit;"> (⁷). De onde vinha tudo isso? O mesmo Plínio não teve dúvida em concluir que, afinal, provinha do espólio arrancado às províncias conquistadas por Roma. <br /></span><span style="font-family: inherit;"><br /><span style="font-size: medium;">(1) <i>Cf.</i> <span style="font-family: inherit;">HEKLER, Anton. <i>Die Bildniskunst der Griechen und Römer</i>. Stuttgart: Julius Hoffmann, 1912, p. 244. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog. </span></span></span></div><div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit; text-align: left;">(2) <i>Cf.</i> PLÍNIO, o Velho. </span><i style="font-family: inherit; text-align: left;">Naturalis Historia</i><span style="font-family: inherit; text-align: left;">, Livro IX.</span></span></div><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">(3) </span><i style="font-family: inherit;">Ibid</i><span style="font-family: inherit;">., Livro XI.</span></div></span><span style="font-family: inherit;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">(4) </span><i style="font-family: inherit;">Ibid</i><span style="font-family: inherit;">. Livro IX.</span></div></span><span style="font-family: inherit;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">(5) Terceira esposa do imperador Calígula.</span></div></span><span style="font-family: inherit;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">(6) Se admitirmos o sestércio como um quarto do valor de um denário, os quarenta milhões de sestércios equivaleriam a dez milhões de denários. Sabe-se que o denário era o salário habitualmente pago por dia de trabalho de um trabalhador comum. Portanto, a senhora Lolia Paulina estaria coberta por dez milhões de dias de trabalho, nem mais e nem menos. </span></div></span><span style="font-family: inherit;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">(7) PLÍNIO, o Velho. </span><i style="font-family: inherit;">Op. cit</i><span style="font-family: inherit;">., Livro IX. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog </span><a href="https://martaiansen.blogspot.com" style="font-family: inherit;" target="_blank">História & Outras Histórias</a><span style="font-family: inherit;">.</span></div></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2022/07/vaidade-das-mulheres-romanas.html" target="_blank">As conquistas militares, o desenvolvimento do comércio e a vaidade das damas romanas</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2015/07/leis-suntuarias-na-roma-antiga.html" target="_blank">Leis suntuárias na Roma Antiga</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2019/08/romanos-e-comercio-de-especiarias-da-arabia.html" target="_blank">Os romanos e o comércio de especiarias da Arábia</a></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-874388532495613562024-02-05T10:00:00.061-03:002024-02-05T10:00:00.231-03:00Como indígenas caçavam antas<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgl_hNtQCybJc6V26LuRq1G-GnDu3nB9kW356pDZGZ13CMYiVKWP3mtJQ2MJWy0IDtG_huxZGLoiiz5hNmD_jM1_NhKW-m95dFOgbx0k7bp2-2RZTwbBTX1dRZMDd_RixAmaqDbR8w1Y68l-IGtX7dceNVunKoG5BOO5hYA1XS4VAbYE_kTM869U1WpT2v4/s600/001579,%20Anta%201.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgl_hNtQCybJc6V26LuRq1G-GnDu3nB9kW356pDZGZ13CMYiVKWP3mtJQ2MJWy0IDtG_huxZGLoiiz5hNmD_jM1_NhKW-m95dFOgbx0k7bp2-2RZTwbBTX1dRZMDd_RixAmaqDbR8w1Y68l-IGtX7dceNVunKoG5BOO5hYA1XS4VAbYE_kTM869U1WpT2v4/s16000/001579,%20Anta%201.jpg" title="Anta brasileira (© Marta Iansen)." /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Anta</b> (<i>Tapirus terrestris</i>)</td></tr></tbody></table><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/12/jean-de-lery-franca-antartica.html" style="font-family: inherit;" target="_blank">Jean de Léry</a><span style="font-family: inherit;"> (*) descreveu a </span><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2022/10/anta-dentro-de-casa.html" style="font-family: inherit;" target="_blank">anta</a><span style="font-family: inherit;"> como uma vaca sem chifres, meio vaca, meio jumento. Estava certo? Questão de opinião. Léry não tinha medo das antas porque, com os indígenas, aprendeu que, a despeito dos dentes afiados, elas usavam apenas a fuga como defesa. Por isso, os tupinambás, que eram hábeis no uso do arco, matavam-nas a flechadas ou com o emprego de armadilhas. </span></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaQFvjsinAGWOlPaCEJwkKNHb_qQgGz_dOI9fgNoO5G9c6gz1jMfkjq0ydPxys2bC8fW-Zr5_yIhObHX6f39QS64mmaO7TZ0a0612EGlpziDWx934B7HE_Cyu7n0uuubK_JkYcsQE_ZoO-ZzmyPjJv3C40KBN5oikoEJvNLiir9jlUlpyTuurwfRhQPauO/s500/001579,%20Anta%202.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="331" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaQFvjsinAGWOlPaCEJwkKNHb_qQgGz_dOI9fgNoO5G9c6gz1jMfkjq0ydPxys2bC8fW-Zr5_yIhObHX6f39QS64mmaO7TZ0a0612EGlpziDWx934B7HE_Cyu7n0uuubK_JkYcsQE_ZoO-ZzmyPjJv3C40KBN5oikoEJvNLiir9jlUlpyTuurwfRhQPauO/s16000/001579,%20Anta%202.jpg" /></a></div><span style="font-family: inherit;">A razão para a caça às antas era simples: obter comida. O método de preparar carne empregado pelos tupinambás, conforme descrito por Jean de Léry, era colocar forquilhas feitas de galhos de árvore no chão, e, entre elas, bastões de madeira que funcionavam como grelhas, nas quais a carne, em pedaços, era posta a assar. Sabe-se que outros povos indígenas tinham <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2015/07/como-os-indigenas-do-nordeste-preparavam-carne-assada.html" target="_blank">métodos diferentes para assar a carne</a> dos animais que caçavam. <br /></span><span style="font-family: inherit;">O couro das antas tinha uso, também. Dele se fazia uma <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/04/sapatos-de-couro-usados-pelos-colonizadores.html" target="_blank">arma defensiva</a>, semelhante a um escudo redondo, usado para aparar flechas lançadas por inimigos durante um combate. Colonizadores observaram esse uso, decorrente da dureza de parte do couro de anta, e logo entenderam que podiam empregá-lo também, com idêntico propósito. Quanto a Léry, ele e seus companheiros, na viagem de regresso à França, ficaram sem ter o que comer, uma situação que, infelizmente, nada tinha de incomum na travessia do Atlântico durante o Século XVI, e mesmo mais tarde. Lembraram-se de cortar em pedaços os couros de anta que levavam, fervendo-os em água, na suposição de que poderiam servir para matar a fome. O resultado foi terrível. Alguém no grupo, com certo talento para culinária, resolveu mudar o modo de preparo, assando o couro na brasa. Desta vez, depois de removida a superfície que se queimara, chegou-se a um resultado satisfatório. Alegou-se, até, que parecia torresmo. O que é que a fome não faz!... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-family: inherit; font-size: medium;">(*) Francês, Léry veio muito jovem ao Brasil. Chegou à fracassada colônia francesa conhecida como França Antártica, e ficou menos de um ano. Voltou à França e, como calvinista que era, foi a Genebra, estudou Teologia, tornou-se pastor protestante e, mais tarde, escreveu um livro contando suas aventuras e experiências na América do Sul, que foi publicado com o título de <i>Histoire d'un Voyage Faict en la Terre du Brésil</i>.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2011/09/animais-na-historia-do-brasil-parte-4.html" target="_blank">Animais na História do Brasil (Parte 4): Churrasco de anta</a></span></li><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2015/12/um-banquete-de-natal-fora-do-comum.html" target="_blank">Um banquete de Natal fora do comum</a></span></li><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2022/10/anta-dentro-de-casa.html" target="_blank">Uma anta dentro de casa</a></span></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-71135219035108257732024-02-02T10:00:00.062-03:002024-02-02T10:30:27.146-03:00Mulher de faiscador de ouro<div style="text-align: justify;"><h3><span style="font-family: inherit;"><b>Ficção histórica ambientada na vida de muitas mulheres casadas com garimpeiros pobres no Brasil Colonial</b></span></h3><span style="font-family: inherit;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>As pombas esvoaçam aqui e ali, afugentadas pela areia que a lavadeira lança, irritada, contra aves tão incômodas. Por que haveriam de sujar as roupas que já punha a secar na grama, perto do riacho?<br /></span><span style="font-family: inherit;">Segue esfregando com o sabão de cinza, enquanto rumina umas ideias. O que estava, afinal, fazendo ali, tão longe dos parentes e da vila em que crescera?<br /></span><span style="font-family: inherit;">Não fora por vontade própria. Um dia, sem dar conversa, o marido aparecera na casinha em que moravam, ele, ela, quatro crianças, e mandara arrumar o que podia carregar porque iam para longe. Ele mandava, o que é que ela podia fazer?<br /></span><span style="font-family: inherit;">Obedeceu, e dias depois, lá iam os seis. Mas eram sete, ela ainda não sabia que mais um ia na barriga, e logo seriam só quatro, que, das crianças, três morreriam de febres do mato. No caminho, os pés ardiam, a trouxa na cabeça fazia doer o pescoço e as costas, os pequenos choramingavam, o marido não dizia palavra, só mexia o nariz e as sobrancelhas para ajeitar o cigarro de palha no canto da boca. Saberia, de fato, para onde os levava?<br /></span><span style="font-family: inherit;">Chegaram, afinal, a um vilarejo miserável. Largaram no chão a mudança, se é que assim podia ser chamada, à sombra de uma árvore. Ali mesmo, em alguns dias, estava em pé mais um casebre, onde ela tentava acalmar as crianças e esconder as lágrimas. Que ele não visse nada disso. Do que traziam da vila, já quase toda a comida se acabara. O que seria deles?<br /></span><span style="font-family: inherit;">A gente, ao redor, só pensava em arrancar ouro da terra. Ali havia pouco, era para gente como eles, faiscadores sem eira e nem beira. Com sorte, para comer, aparecia alguma caça. O mais, só miséria. O marido não dera, pela picareta e pela bateia que usava, os poucos vinténs que tiniam no bolso?<br /></span><span style="font-family: inherit;">Vão-se os meses, vão-se os filhos, ela perde a conta do tempo. Um dia, foi-se o marido, dizendo que andaria mais adiante, que acharia ouro em outro lugar, que voltaria quando estivesse rico. Como sempre, ela não contestara. 1720, 1721? Ela nem tem certeza. Planta uma rocinha de milho ao redor do casebre, uns pés de mandioca, batata-doce. Disso vive ela e vivem outras como ela. Continua a esfregar os trapos que ainda restam. Outro punhado de areia voa na direção das pombas. Se tivesse pólvora, mandaria todas para a panela.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2022/11/garimpeiro.html" target="_blank">Garimpeiro</a></span></li><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2022/08/faiscadores-de-ouro.html" target="_blank">Faiscadores de ouro</a></span></li><li><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2021/12/bateias-usadas-por-mineradores.html" target="_blank">De que madeira eram feitas as bateias usadas por mineradores</a></span></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-42276581088024721232024-01-31T10:00:00.049-03:002024-01-31T10:00:00.127-03:00O dote de casamento no Código de Hamurabi<h3 style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>O candidato a noivo devia pagar um dote ao pai da mulher com quem pretendia se casar</b></span></h3><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Dote de casamento era, na Mesopotâmia da Antiguidade, um valor pago por um homem ao pai da mulher com quem pretendia se casar. Não era, formalmente, a compra de uma esposa, mas um valor que deveria ser guardado pelo pai como garantia para a noiva se, por alguma razão, o casamento se dissolvesse - em caso de viuvez, por exemplo. Na vida real, no entanto, não era exatamente assim que as coisas aconteciam.<br /></span><span style="font-family: inherit;">O <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2018/02/quotidiano-da-mesopotamia-na-antiguidade.html" target="_blank">Código de Hamurab</a>i disciplinava essa prática, determinando que, se um homem pagasse o dote para se casar com uma moça, mas desistisse do casamento, não teria o direito de receber o valor pago de volta. No entanto, se fosse o quase sogro que desistisse de conceder a filha em casamento, depois que o dote fora pago, deveria devolver o valor em dobro. Hamurabi devia saber com que tipo de pessoas estava lidando.<br /></span><span style="font-family: inherit;">O que ocorria quando a mulher, já casada, morria? Havia duas possibilidades:<br /></span><span style="font-family: inherit;">a) Se não tivesse filhos, o dote ficava pertencendo a seu pai;<br /></span><span style="font-family: inherit;">b) Se tivesse filhos, o Código dizia: </span><span><span style="background-color: #ffe599; font-family: georgia;">"Se um homem se casar com uma mulher, e ela morrer depois de ter filhos, o dote dela será de seus filhos, não ficará em poder de seu pai."</span><br /></span><span style="font-family: inherit;">Uma situação algo complexa ocorria quando um homem se encarregava de pagar o dote para que seus filhos do sexo masculino pudessem se casar, mas morria antes que o filho mais novo contratasse casamento, ficando, pela morte do pai, sem recursos para isso. O Código, então, determinava: </span><span><span style="background-color: #ffe599; font-family: georgia;">"Se um homem [através de dote] escolher esposa para seus filhos, mas morrer antes que seu filho mais novo venha a se casar, então, quando dividirem a herança, os filhos destinarão uma parte como dote para seu irmão mais novo, para que ele possa ter uma esposa."</span><br /></span><span style="font-family: inherit;">O dote de casamento foi um costume muito comum em diversas sociedades, e ainda é, em algumas, até hoje. No Brasil, durante muito tempo, vigorou o costume de que a noiva é que devia ter um dote para se casar. Em consequência, mulheres abastadas, que dispunham de um dote avantajado, eram muito cobiçadas para casamento, enquanto outras, com dote insignificante ou inexistente, tinham muita dificuldade em encontrar pretendente. É fácil imaginar os problemas sociais que daí decorriam. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2017/09/conflitos-familiares-codigo-de-hamurabi.html" target="_blank">Solução de conflitos familiares (de acordo com o Código de Hamurabi)</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2018/09/codigo-de-hamurabi-pais-que-queriam-deserdar-filhos.html" target="_blank">O Código de Hamurabi e os pais que queriam deserdar os filhos</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2017/03/quem-foi-hamurabi.html" target="_blank">Hamurabi, por ele mesmo</a></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-77709333510547285262024-01-29T10:00:00.068-03:002024-01-29T10:00:00.128-03:00Paracatu<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2022/04/morte-de-dona-maria-primeira.html" target="_blank">D. Maria I</a> não é exatamente uma personagem de saudosa memória no Brasil, mas foi em seu reinado que se deu a criação oficial da Vila de Paracatu do Príncipe, que, não obstante, era centro de povoamento e extração aurífera há bastante tempo, e sobre a qual o Barão de Eschwege escreveu:<br /></span><span><span style="font-family: georgia;"><blockquote><span style="background-color: #ffe599;">"O córrego Rico, que percorre a região, deu origem à vila. Com efeito, o ouro daquele córrego possuía um bom aspecto, embora fosse de baixo título. [...] A afluência de aventureiros foi tão grande, que o governo de Gomes Freire de Andrade (¹) se viu obrigado a dividir e distribuir o distrito em 1744. [...]." </span>(²)</blockquote></span></span><span style="font-family: inherit;">Quando a <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2018/08/decadencia-das-regioes-auriferas-coloniais.html" target="_blank">exploração aurífera já havia declinado</a>, como, de fato, ocorreu em praticamente todo o Brasil do começo do Século XIX, o padre Ayres de Casal afirmou:<br /></span><span><span style="font-family: georgia;"><blockquote><span style="background-color: #ffe599;">"Paracatu do Príncipe, vila medíocre e famosa, bem assentada em terreno levantado, plano e vistoso com ruas direitas e calçadas, uma igreja matriz dedicada a Santo Antônio da Manga, três ermidas de N. Senhora com as invocações da Abadia, Amparo e Rosário, outra de Santa Ana, e duas boas fontes. Tem aula régia de latim. [...] Tem decaído muito do seu primeiro esplendor [...]."</span> (³)</blockquote></span></span><span style="font-family: inherit;">A expressão "vila medíocre", aqui, deve ser entendida como "de tamanho médio". Algumas fotos, a seguir, darão uma ideia do que se pode ver em Paracatu, já que o cuidado com o patrimônio histórico tem levado, inclusive, à reconstrução daquilo que o desgaste provocado pela passagem do tempo havia feito desaparecer.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3XXvC-9-C22_ibfPNGs-LbMFHEWS1ffV2r2jUSM7mu4Z5_Nh7vibhriIJGhQDbTplncw7hJGalc3CUFFIU-PLn1Ybiyt2u9z9ZaifY5Bi_sOrB3okuT5RVvkHLKUcZF61SmGgQcsg0dAn6RbxP1vkiYbn3c6IQnuvrJfXcFnv4FHaIV_oD3JrwRoF1qLq/s600/001576,%20Paracatu%203.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3XXvC-9-C22_ibfPNGs-LbMFHEWS1ffV2r2jUSM7mu4Z5_Nh7vibhriIJGhQDbTplncw7hJGalc3CUFFIU-PLn1Ybiyt2u9z9ZaifY5Bi_sOrB3okuT5RVvkHLKUcZF61SmGgQcsg0dAn6RbxP1vkiYbn3c6IQnuvrJfXcFnv4FHaIV_oD3JrwRoF1qLq/s16000/001576,%20Paracatu%203.jpg" title="Igreja Matriz de Santo Antônio, Paracatu - MG (© Marta Iansen)." /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Igreja Matriz de Santo Antônio, uma relíquia do Século XVIII</b></td></tr></tbody></table><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-_08gsemBWaU6rQzpnMi6nTJeKD6-s_rXlE1eEcDKS8EYlf8VTiTMfz2ZMVuI9KiayaJXj9gAf1McyCjR5cj-EErodf4WUsg_guFjFbAmA_rvbG2TlDfjErj27f-CSymiLD0JbDCKySsT0FXEGS0o8QFmZPPNKgUZFYbqE6jZ6Jzh8By93AstqvGiJgqi/s600/001576,%20Paracatu%202.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-_08gsemBWaU6rQzpnMi6nTJeKD6-s_rXlE1eEcDKS8EYlf8VTiTMfz2ZMVuI9KiayaJXj9gAf1McyCjR5cj-EErodf4WUsg_guFjFbAmA_rvbG2TlDfjErj27f-CSymiLD0JbDCKySsT0FXEGS0o8QFmZPPNKgUZFYbqE6jZ6Jzh8By93AstqvGiJgqi/s16000/001576,%20Paracatu%202.jpg" title="Igreja de Sant"Ana (reconstruída), Paracatu - MG (© Marta Iansen)." /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Igreja de Sant'Ana - a original, do Século XVIII, foi demolida em 1935, e a atual,<br />uma reconstrução, está no mesmo lugar da anterior</b></td></tr></tbody></table><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgB1n66qh0BVAufu8j-vzmBVcyialBqeORKPpzge4xhhYqZ7_G0wtFHMXDawNXNtXiK5xuUpGG6Ja1WQfXzTfz1AYzcR6aP1HVR5snjSZgQd4vEf1oqI9IEK5HsMghoL0tad0rxAt5gxLoMUAlK9KSjfT4P0hjloVXyl_DfSll_Nqs5IzOuibjgZ6gFIXp1/s600/001576,%20Paracatu%201.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgB1n66qh0BVAufu8j-vzmBVcyialBqeORKPpzge4xhhYqZ7_G0wtFHMXDawNXNtXiK5xuUpGG6Ja1WQfXzTfz1AYzcR6aP1HVR5snjSZgQd4vEf1oqI9IEK5HsMghoL0tad0rxAt5gxLoMUAlK9KSjfT4P0hjloVXyl_DfSll_Nqs5IzOuibjgZ6gFIXp1/s16000/001576,%20Paracatu%201.jpg" title="Chafariz em Paracatu - MG (© Marta Iansen)." /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Chafariz</b></td></tr></tbody></table><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: medium;">(1) Nascido em 1685 e falecido em 1763, Gomes Freire de Andrade, o primeiro conde de Bobadela, exerceu o mais alto cargo da administração portuguesa no Brasil Colonial entre 1733 e 1763.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;">(2) ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. <i>Pluto Brasiliensis</i>, trad. Domício de Figueiredo Murta. Brasília: Senado Federal, 2011, p. 50.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(3) CASAL, Manuel Ayres de. <i>Corografia Brasílica</i>, vol. 1. Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1817, p. 389.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2018/08/decadencia-das-regioes-auriferas-coloniais.html" target="_blank">A decadência das regiões auríferas coloniais</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2023/07/paraty.html" target="_blank">Paraty</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2015/04/minas-de-nossa-senhora-do-rosario-meia-ponte-pirenopolis.html" target="_blank">Minas de Nossa Senhora do Rosário Meia Ponte (ou simplesmente Pirenópolis)</a></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-90805700168066330592024-01-26T10:00:00.047-03:002024-01-26T10:00:00.126-03:00Recife em 1630<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Holandeses, tentados pelo açúcar do Brasil, chegaram a <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2012/06/como-e-por-que-monarquia-espanhola-quis.html" target="_blank">ocupar a Bahia em 1624</a>, mas, depois de alguns meses, foram expulsos. Voltaram com mais força em 1630, desta vez em Pernambuco, onde, de escaramuça em escaramuça, foram ficando e, eventualmente, expandindo a área de controle. Sua expulsão definitiva - a chamada Capitulação do Campo - somente aconteceu em 26 de janeiro de 1654. <br /></span><span style="font-family: inherit;">Uma descrição feita por frei Antônio de Santa Maria Jaboatão (¹) dá uma ideia de como era Recife quando vieram os holandeses em 1630:<br /></span><span><span style="font-family: georgia;"><blockquote><span style="background-color: #ffe599;">"Já quando os holandeses no ano de 1630 entraram em Pernambuco, era o Recife povoação, habitada comumente de alguns pescadores e gente marítima [<i>sic</i>], porque pelo desabrigado do porto de Olinda, e não haver para os navios ancoradouro muito capaz, se haviam passado para a povoação do Recife os armazéns para o recebimento dos açúcares e mais haveres da terra, e ali os vinham tomar os navios, ancorando no seu surgidouro e remanso do rio. [...]"</span> (²) </blockquote></span></span><span style="font-family: inherit;">As questões geográficas e econômicas, portanto, foram decisivas para que, após a saída dos holandeses, Recife ganhasse importância cada vez maior. Pior para Olinda e para grande insatisfação dos senhores olindenses. Deste e de outros fatores acabaria resultando a chamada <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2012/06/revoltas-nativistas-no-brasil-colonial.html" target="_blank">Guerra dos Mascates</a>, entre os anos de 1710 e 1711. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;">(1) 1695 - 1779. Nascido em Pernambuco, era franciscano.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(2) JABOATÃO, Antônio de Santa Maria O.F.M. <i>Novo Orbe Serafico Brasilico, ou Crônica dos Frades Menores da Província do Brasil, </i>Primeira Parte. Rio de Janeiro: Typ. Brasiliense, 1858, p. 401.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2021/12/aconteceu-em-6-de-janeiro-de-1631.html" target="_blank">Em 6 de janeiro de 1631</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2021/12/farinha-de-mandioca-era-alimento-na-guerra-contra-holandeses.html" target="_blank">Na guerra do açúcar, a farinha de mandioca era o principal alimento dos soldados</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/11/portugal-e-holanda-na-luta-pelo-nordeste-acucareiro.html" target="_blank">Portugal e Holanda na luta pelo Nordeste açucareiro</a></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-48594855587964089122024-01-24T10:00:00.074-03:002024-01-24T10:00:00.126-03:00Prodígios associados à morte de Calígula<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhiMqr94XFsCEWy61qOFYemmBU3kaJqGE9xGyy65VhHHRJZJDdpXdkKYlv1HDZhYzSmgIVy8aJX8LOlnbohcOKkMyQi66oFB0HqL-d_STug85MurpeB0pTeUoptuLRIrMN2aCERZxgwua5eDp5a-fMkw1uSCTVxRUfwY6srQsaDmuOxaPDwW3vVR-aZBk2/s500/001574,%20Cal%C3%ADgula.jpg" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="395" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhiMqr94XFsCEWy61qOFYemmBU3kaJqGE9xGyy65VhHHRJZJDdpXdkKYlv1HDZhYzSmgIVy8aJX8LOlnbohcOKkMyQi66oFB0HqL-d_STug85MurpeB0pTeUoptuLRIrMN2aCERZxgwua5eDp5a-fMkw1uSCTVxRUfwY6srQsaDmuOxaPDwW3vVR-aZBk2/s16000/001574,%20Cal%C3%ADgula.jpg" title="Imperador Calígula (5)." /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Calígula, imperador romano (⁵)</b></td></tr></tbody></table>Calígula, imperador romano, foi assassinado em 24 de janeiro de 41 d.C. Os romanos da época afirmavam, conforme relatou Suetônio (¹), que vários prodígios (²) serviram de aviso desse acontecimento, dentre os quais:</span><span style="font-family: inherit;"><br /><ul><li><span style="font-family: inherit;">Calígula havia mandado desmontar e levar a Roma a estátua de <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2021/04/zeus.html" target="_blank">Zeus</a> (³) que estava em Olímpia, e, quando os trabalhadores, em andaimes, realizavam a tarefa, a própria estátua deu uma gargalhada, os andaimes caíram e os trabalhadores fugiram de medo;</span></li><li><span style="font-family: inherit;">Ainda em Olímpia, apareceu, logo em seguida, um homem chamado Cássio, pretendendo sacrificar um touro a Zeus - como se sabe, foi outro, de mesmo nome, Cássio Quereia, quem liderou o grupo que apunhalou Calígula;</span></li><li><span style="font-family: inherit;">Um raio atingiu o Capitólio de Cápua nos idos de março, data que recordava a <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2020/01/por-que-julio-cesar-foi-assassinado.html" target="_blank">morte de Júlio César em 44 a.C</a>.;</span></li><li><span style="font-family: inherit;">Sila, astrólogo a quem Calígula consultava, avisou-o de que morreria em breve;</span></li><li><span style="font-family: inherit;">Na véspera de ser assassinado, Calígula teria sonhado que estava no céu e que lá se encontrava com Júpiter (⁴), o qual, ao vê-lo, lhe dava um chute com o dedão do pé direito, arremessando-o de volta à terra. </span></li></ul></span><span style="font-family: inherit;">Com prodígios ou sem eles, Calígula era, àquela altura, odiado por quase todos em Roma (e fora dela). Não era preciso grande capacidade de adivinhação para saber que, a qualquer momento, sendo as coisas em Roma como eram, alguém acabaria com ele. E foi o que aconteceu. Calígula tinha, então, vinte e nove anos, e seu tempo como imperador não chegou a quatro anos, mas foi o bastante para que ninguém se esquecesse dele. Não eram boas, todavia, as recordações. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;">(1) <i>De vita Caesarum</i>, Livro IV. <br /></span><span style="font-family: inherit;">(2) Um prodígio era um evento considerado sobrenatural ou profético de que algo importante deveria ocorrer. <br /></span><span style="font-family: inherit;">(3) Júpiter, para os romanos).<br /></span><span style="font-family: inherit;">(4) Júlio César também teria sonhado que se encontrara com Júpiter, e que este lhe estendia a mão direita - bem diferente do sonho de Calígula, portanto. </span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><div><span style="font-size: medium;">(5) <i>Cf.</i> HEKLER, Anton. <i>Die Bildniskunst der Griechen und Römer</i>. Stuttgart: Julius Hoffmann, 1912. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog. </span></div><div><br /></div></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2021/09/-galinhas-e-loureiros-dinastia-julio-claudiana.html" target="_blank">As galinhas e os loureiros da dinastia júlio-claudiana</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2016/07/importancia-dos-sonhos-para-povos-da-antiguidade.html" target="_blank">A importância atribuída aos sonhos pelos povos da Antiguidade</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2017/09/romanos-acreditavam-em-pressagios.html" target="_blank">Os supersticiosos romanos e a crença em presságios</a></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6568152072853220977.post-60707827121219275782024-01-22T10:00:00.055-03:002024-01-22T10:00:00.455-03:00Manifestação popular contra a escravidão em janeiro de 1888<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Um incidente ocorrido no começo de 1888 ilustra bem o fato de que, no ano da abolição definitiva da escravidão no Brasil, a opinião popular, ao menos em áreas urbanas, era francamente favorável à libertação imediata dos cativos. Aconteceu em Campinas - SP,,em 23 de janeiro de 1888, poucos meses antes, portanto, da Lei Áurea (¹). <br /></span><span style="font-family: inherit;">Vamos aos fatos. Segundo afirmou Osório Duque-Estrada (²) em <i><b>A Abolição</b></i>, manifestantes se juntaram para hostilizar <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2012/02/os-capitaes-de-mato-e-suas-atribuicoes.html" target="_blank">capitães do mato</a>, que vinham trazendo escravos fugitivos. Lembrem-se, leitores, de que era assim desde os dias coloniais. Um escravo fugia, um capitão do mato ia procurá-lo. Acontece que um dos que participavam do protesto acabou preso, e foi aí que aquele que poderia ser apenas mais um incidente sem grande repercussão, ganhou notoriedade, em decorrência da ação popular. Nas palavras de Duque-Estrada:<br /></span><span><span style="font-family: georgia;"><blockquote><span style="background-color: #ffe599;">"[...] Em desafronta, o povo cercou a cadeia, soltou o preso (³) e apedrejou a tropa. Esta reagiu e travaram-se tiroteios até às onze horas da noite, havendo grande número de feridos de um lado e de outro. [...]" (⁴)</span></blockquote></span></span><span style="font-family: inherit;">A Abolição, portanto, não foi tão pacífica assim... Não houve <a href="https://martaiansen.blogspot.com/2011/04/por-que-nao-houve-uma-guerra-da.html" target="_blank">nenhuma guerra para que ocorresse</a>, é verdade, mas havendo ainda que defendia a escravidão com unhas e dentes, havia, também, quem se dispunha a acabar com ela, por bem ou por mal. Este não foi, é claro, o único incidente da espécie.<br /></span><span style="font-family: inherit;"> </span><span style="font-family: inherit;"><br /></span><span style="font-family: inherit; font-size: medium;">(1) 13 de maio de 1888.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: inherit;">(2) 1870 - 1827.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(3) A maioria das cadeias desse tempo não se notabilizava pela segurança.<br /></span><span style="font-family: inherit;">(4) DUQUE-ESTRADA, Osório. <i>A Abolição</i>. Brasília: Ed. Senado Federal, 2005, p. 181.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><b>Veja também:</b></span></div><div style="text-align: justify;"><ul><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2019/01/capitaes-do-mato-incentivavam-fuga-de-escravos.html" target="_blank">Por que capitães do mato incentivavam a fuga de escravos</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2012/04/fuga-de-cativos-como-forma-de.html" target="_blank">A fuga de cativos como forma de resistência à escravidão</a></li><li><a href="https://martaiansen.blogspot.com/2021/05/como-noticia-da-abolicao-chegou-a-sao-paulo.html" target="_blank">Como a notícia da abolição definitiva do trabalho escravo chegou a São Paulo</a></li></ul></div>Marta Iansenhttp://www.blogger.com/profile/17925477559060865233noreply@blogger.com0