D. Sebastião, jovem rei de Portugal (*) |
Ora, D. Sebastião jamais voltou, mas, séculos afora, houve quem ainda acreditasse nas lendas que surgiram com sua desaparição. E - espantoso!...- em fins do Século XIX, havia, ainda, quem parecia acreditar nisso, não em Portugal, mas no Brasil. Em Os Sertões, Euclides da Cunha transcreveu alguns versos que circulavam entre os sertanejos que seguiam o místico Antônio Conselheiro:
"Dom Sebastião já chegouEuclides da Cunha, em nota de rodapé, explicou que "corrigiu" os versos, mas é fácil perceber quais deveriam ser as palavras originais. Mas de que é que falavam, afinal?
E traz muito regimento
Acabando com o civil
E fazendo o casamento!"
[...]
"Visita nos vem fazer
Nosso rei D. Sebastião
Coitado daquele pobre
Que estiver na lei do cão!"
Antônio Conselheiro e sua gente faziam oposição à República há pouco proclamada no Brasil, por entenderem que tirara da religião o lugar que lhe competia, instituindo registro e casamento por autoridade civil. Ao deixar de ser Império, o Brasil deixara, também, de ter religião oficial, com todas as suas implicações, e isso descontentava os sertanejos de Canudos. Quanto a invocar D. Sebastião... Parece que alguma reminiscência ficou, dele, no imaginário popular, e aflorou nas ideias um tanto confusas de Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro.
Depois de quase um ano de lutas intensas, o arraial de Canudos foi completamente destruído. Antônio Conselheiro morreu, bem como muitos dos sertanejos. Quanto aos sobreviventes feitos prisioneiros, foram tratados de modo brutal. Assim acabou, em 1897, o sebastianismo brasileiro.
(*) Cf. BRITO, Frei Bernardo. Elogios dos Reis de Portugal com os Mais Verdadeiros Retratos que se Puderam Achar. Lisboa: Pedro Crasbeeck, 1603.
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