segunda-feira, 30 de março de 2015

Armínio

Para gregos e romanos, ele era um bárbaro - sua língua materna não era nem o latim e nem o grego. Ex-oficial no exército romano, Armínio liderou seu povo na luta contra as forças de Roma, e, em 11 de setembro de 9 d.C., na batalha de Teutoburgo, impôs às legiões comandadas por Quintílio Varo uma derrota de proporções brutais. O próprio Varo, agindo de acordo com o que se esperava de um romano honrado, cometeu suicídio para não cair prisioneiro dos germanos. Suas legiões foram estraçalhadas.
Armínio enfrentou romanos em diversos outros combates, alcançando sucesso em alguns, sendo derrotado em outros, mas sempre conseguindo escapar. Viria a morrer, de acordo com Tácito, historiador romano, em mãos de seus próprios parentes, aos trinta e sete anos de idade.
Não deixa de ser notável o fato de que Tácito, longe de considerá-lo um simples traidor, fizesse a ele uma série de elogios, como "libertador da Germânia", que "enfrentou Roma não em seus primórdios [...], mas quando o Império estava no auge." (*) Seus feitos, porém, segundo o mesmo historiador, eram ignorados, quase um século mais tarde, tanto pelos gregos como pelos romanos. Por quê? 
Escreveu ele:
"É desconhecido nos anais dos gregos, pois estes só olham para si mesmos; e também dos romanos, porque celebramos as coisas antigas e não damos atenção às recentes." (*)

(*) As citações do Livro Segundo dos Annales de Tácito são tradução de Marta Iansen para uso exclusivo no blog História & Outras Histórias.


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sexta-feira, 27 de março de 2015

Um padre que dizia que borboletas viravam beija-flores

Uma postagem sobre o beija-flor (sim a ave!) pode parecer fora de lugar em um blog cujo principal tema é a História. Sustento, porém, que o assunto é perfeitamente adequado, já que, com ele, perceberão os leitores como andava a ornitologia do Século XVII - ornitologia de um padre, que fique bem entendido e, sendo mais específica, do Padre Simão de Vasconcelos, jesuíta e autor, entre outras obras, das Notícias Curiosas e Necessárias das Cousas do Brasil.
Mas vamos ao beija-flor. O Padre Simão de Vasconcelos principia por explicar os nomes indígenas que lhe eram atribuídos, passando depois a uma descrição, digamos, algo mais objetiva ou nem tanto:
"Chamam a este passarinho em geral os naturais da terra goanhambig; em particular a umas espécies, chamam goaraciaba, que quer dizer raio do sol; a outras quoaraciaba, que quer dizer cabelo do sol, e a outras põem outros nomes, segundo o modo de sua formosura, que é tão vária e aprazível, que não poderá arremedá-la o mais destro pintor com as mais finas tintas: rouba o verde do colo do pavão, o amarelo do pintassilgo, o louro do papagaio e o vermelho do guará ou tié, porém quebradas todas estas cores, e modificadas com tal primor, que parece que nem são aquelas, nem delas deve coisa alguma àqueles pássaros. [...] É ave mui pequena, quatro delas não fazem o corpo de um só pintassilgo. Tem a cabeça redonda, bico comprido, vive somente do orvalho das flores [sic], por cuja falta, sendo tomada viva, morre logo. Seu voo é ligeiríssimo, quase não se enxerga no ar [...]." (¹)

Veja se a descrição do Padre Simão de Vasconcelos corresponde à realidade...

Até aqui, a descrição chega a ser aceitável, sabendo que o objetivo do jesuíta Vasconcelos era informar a quem vivia na Europa sobre o que de mais interessante podia ser visto no Brasil. É muito boa, inclusive, a menção aos nomes indígenas. Começam agora, porém, as mais incríveis heresias que alguém poderá imaginar em se tratando de pássaros e, especificamente, de beija-flores:
"Esta avezinha, suposto que fomenta seus ovos e deles nasce, é coisa certa que é produzida muitas vezes de borboletas [sic!]. Sou testemunha, que vi com meus olhos uma delas meio ave e meio borboleta, ir-se aperfeiçoando debaixo da folha de uma latada, até tomar vigor e voar [sic!!!]." (²)
Convenhamos: o pior de tudo é, sem dúvida, a alegação de ser testemunha ocular dessa asneira cabeluda. Querem mais, leitores? Lá vai:
"Maior milagre se afirma dela constantemente e por tantos autores, que parece não  pode duvidar-se, que como só vive de flores, em acabando estas, acaba ela na maneira seguinte: prega o biquinho no tronco de uma árvore, e nela está imóvel como morta, enquanto tornam a brotar as flores (que são seis meses), passado o qual tempo torna a viver e voar [sic!!!!!]." (³)
Já é tempo de falar sério. Vejam quanto foi preciso mudar, em termos de mentalidade, para que um método de investigação científica, digno desse nome, chegasse a ser adotado. Sim, já houve gente envolvida com a ciência que afirmava candidamente que camisas sujas adicionadas a espigas de milho produziam ratos, ou mesmo que comida em decomposição gerava moscas. Havia também os homúnculos, claro. Como esperar que o Padre Simão de Vasconcelos, que não tinha nenhuma grande pretensão científica e que, além disso, devia estar impregnado da mentalidade religiosa de sua época, intensamente voltada ao misticismo, deixasse de acreditar que um beija-flor era meio ave, meio borboleta? 

(1) VASCONCELOS, Pe. Simão de. Notícias Curiosas e Necessárias das Cousas do Brasil. Lisboa: Oficina de Ioam da Costa, 1668, pp. 282 e 283.
(2) Ibid., p. 283.
(3) Ibid., pp. 283 e 284.


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quarta-feira, 25 de março de 2015

Um escravo inocente foi executado

Machado de Assis, narrando em Quincas Borba as trágicas aventuras de Rubião na capital do Império, coloca o protagonista na cena da procissão que escoltava um sentenciado à morte, dando a nós, do Século XXI, a oportunidade de visualizar (mentalmente...), qual era o cerimonial adotado, com o propósito de, tanto quanto possível, causar a mais forte impressão nos circunstantes, até pelo terror que inspirava:
"Na esquina da rua dos Ourives deteve-o um ajuntamento de pessoas, e um préstito singular. Um homem, judicialmente trajado, lia em voz alta um papel, a sentença. Havia mais o juiz, um padre, soldados, curiosos. Mas as principais figuras eram dois pretos. Um deles, mediano, magro, tinha as mãos atadas, os olhos baixos, a cor fula, e levava uma corda enlaçada no pescoço; as pontas do baraço iam nas mãos do outro preto. Este outro olhava para a frente e tinha a cor fixa e retinta. Sustentava com galhardia a curiosidade pública. Lido o papel, o préstito seguiu pela rua dos Ourives adiante [...]."
Para encurtar a história, basta dizer que Rubião, horrorizado com o que vê, quer ir embora, mas, ao mesmo tempo, não quer, ou seja, fica preso pela curiosidade, de tal modo que acaba presenciando a execução:
"Eis o réu que sobe à forca. Passou pela turba um frêmito. O carrasco pôs mãos à obra. [...] O instante fatal foi realmente um instante; o réu esperneou, contraiu-se, o algoz cavalgou-o de um modo airoso e destro; passou pela multidão um rumor grande, Rubião deu um grito, e não viu mais nada."
Os leitores devem ter percebido que, em uma execução, a morte era feita espetáculo público, para "servir de exemplo". Exemplo que, aliás, sempre teimou em não funcionar. As mais draconianas dentre as penas jamais tiveram o efeito de banir a criminalidade, e, por suposto, não tinham os resultados esperados, sob esse aspecto, nem mesmo no Brasil Império, onde, como se sabe, as penas atribuídas aos escravos eram sensivelmente mais pesadas que as impostas aos criminosos de condição livre.
Ocorre que a pena de morte tinha - e tem - dentre outros, o grave inconveniente da irreversibilidade. Um homem injustamente acusado de um crime, se sentenciado à prisão, com ou sem trabalhos forçados, podia ser posto em liberdade tão pronto quanto se provava a sua inocência. Não assim com a pena de morte. E, em se tratando da execução de escravos, há pelo menos um relato em que a punição foi indevidamente aplicada, segundo registrou Mello Moraes em sua Crônica Geral do Brasil. Um caso absurdo, como se verá:
"No dia 17 de fevereiro de 1837 foi executada na forca levantada no largo do Moura a sentença de morte imposta pelo júri da Corte do Rio de Janeiro, em sessão de 16 de janeiro do mesmo ano a Domingos Moçambique, cego de ambos os olhos, escravo de Joaquim Francisco de Oliveira, como autor do bárbaro e atroz assassinato de Manuel José da Costa Rego, caixeiro de seu senhor.
Mais tarde, anos depois, verificou-se que esse infeliz preto cego foi supliciado inocente, pela confissão que, no ato de morte, fez ao sacerdote o verdadeiro assassino." (*)
O medo inspirado pela expectativa de uma revolta de escravos era de tal proporção que levava gente supostamente normal às raias da irracionalidade. Não havia espaço para considerações ponderadas quanto a ser possível que o acusado houvesse, de fato, cometido o crime. Alguém tinha que pagar, e, pelo visto não importava muito se era ou não inocente, desde que a supremacia escravocrata fosse mantida, ainda que sob a intimidação da forca.

(*) MORAES, Alexandre José de Mello. Crônica Geral do Brasil vol. 2. Rio de Janeiro: Garnier, 1886, p. 333.


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segunda-feira, 23 de março de 2015

A falange macedônica e o exército romano - uma comparação

A falange macedônica devia ter, para seus oponentes, um aspecto aterrador. Sim, talvez parecesse uma floresta de lanças pontiagudas, que bem podiam dissuadir muitos valentões de qualquer tentativa de enfrentamento. Sabe-se, porém, que, diante do exército romano, ela provou-se frágil.
Por quê?
Já na Antiguidade o assunto foi alvo de reflexões. Políbio de Megalópolis, por exemplo, percebeu que a falange podia ser considerada invencível enquanto fosse capaz de conservar a formação; essa ordem, porém, era difícil de manter. Além disso, como força de ataque, ela era eficiente apenas quando o adversário estava à sua frente. Era praticamente impossível aos membros da falange a inversão de posições, de modo a viabilizar o ataque a um inimigo que estivesse à retaguarda.
Mas não era só.
"A falange - escreveu Políbio - precisa de terreno plano, aberto e sem obstáculos, ou seja, sem valas profundas, sem fraturas, sem declives assinalados, sem ribanceiras e sem barrancos. A existência de apenas um desses obstáculos é suficiente para que perca a eficiência e haja quebra na formação." (*)
Ora, segundo argumentava Políbio, terrenos tão perfeitos eram quase inexistentes, principalmente em situações de combate. Por isso, a falange, imbatível diante de inimigos mais fracos, não tardou a mostrar suas deficiências ao enfrentar o ágil exército romano.
A título de comparação, o mesmo Políbio observou que "o soldado romano, armado para o combate, adapta-se a qualquer tempo e condições do terreno, independente do lado onde o inimigo apareça, e tem a mesma firmeza e ordem, quer tenha de lutar em conjunto com todo o exército, quer tenha de combater em pequenos grupos ou mesmo individualmente." (*)
A vantagem do exército romano estava, portanto, na versatilidade, coisa que faltava quase de todo à falange macedônica. O que teria ocorrido se, por obra do acaso, Alexandre, o Grande, à frente da falange macedônica, tivesse vivido nos dias de algum dos grandes generais romanos, tais como Cipião ou César, de modo que se enfrentassem em algum momento? Prevaleceria o exército mais versátil? Ou talvez o mais lúcido dos generais? Fica aí uma boa questão para gastar o cérebro dos senhores leitores deste blog.

(*) Os trechos citados de Políbio de Megalópolis são tradução de Marta Iansen exclusivamente para uso no blog História & Outras Histórias.


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sexta-feira, 20 de março de 2015

A catequese como justificativa para a escravidão no Brasil Colonial

Um argumento recorrente para justificar a escravidão de africanos no Brasil Colonial era de que, vindo à América, os escravizados seriam mais facilmente doutrinados na fé cristã (!!!). Nuno Marques Pereira, autor do Compêndio Narrativo do Peregrino da América, obra de grande sucesso no Século XVIII, declarou, sem rodeios:
"E também permite sua divina misericórdia que muitos destes gentios sejam trazidos às terras dos católicos para os ensinarem e doutrinarem, e lhes tirarem os ritos gentílicos, que lá tinham aprendido com seus pais." (¹) 
Essa ideia, hoje, pode parecer absurda - colocava-se em Deus a responsabilidade pela escravidão - mas é fato que foi amplamente empregada, até mesmo por religiosos, e, portanto, não era coisa apenas de escravocratas que queriam acalmar a consciência, até porque os proprietários de escravos não tinham por costume ver algo de errado na apropriação do trabalho de um ser humano por outro. Para eles, escravos eram sua propriedade, e nada mais. 
Era obrigação dos senhores providenciar assistência religiosa para seus escravos, mas a maioria não tomava qualquer atitude nesse sentido. Até mesmo o dever (imposto pela Igreja) de conceder descanso aos escravos nos domingos e feriados religiosos era desconsiderado. Afinal, não havia qualquer fiscalização e, pensava-se, escravos existiam para trabalhar.
No começo do Século XVIII Antonil observou:
"Outros são tão pouco cuidadosos do que pertence à salvação dos seus escravos, que os têm por muito tempo no canavial ou no engenho sem batismo." (²) 
Entende-se que Antonil, ele próprio um jesuíta, escandalizava-se com o pouco caso dos senhores em questões de fé. E acrescentava, recordando aos poderosos que de tudo dariam conta no Juízo Final:
"Dizem os senhores que estes [os escravos] não são capazes de aprender a confessar-se, nem de pedir perdão a Deus, nem de rezar pelas contas, nem de saber os dez mandamentos; tudo por falta de ensino e por não considerarem a conta grande que de tudo isto hão de dar a Deus, pois (como diz São Paulo), sendo cristãos e descuidando-se de seus escravos, se hão com eles pior do que se fossem infiéis." (³)
O tempo evidenciava que o tal argumento da catequese para justificar a escravidão não passava de um embuste, a tal ponto que, já no Século XIX, o padre Ayres de Casal viria a afirmar que, ao contrário do que geralmente se aceitava, a escravidão era, sim, um impedimento à propagação da fé cristã:
"Convém-se que esta gente é um mal moral, um obstáculo ao aumento da população branca, e que enquanto escravos, não podem ser bons cristãos, nem vassalos fiéis." (⁴)
Deixando de lado o quanto o dizer de Ayres de Casal soa preconceituoso a um leitor do Século XXI, vale notar que, em seu tempo, já se levantava o argumento de que a escravidão não era somente um impedimento à religião. Tornava também impossível que a população cativa pudesse servir aos interesses do rei.

(1) PEREIRA, Nuno Marques. Compêndio Narrativo do Peregrino da América. Lisboa: Oficina de Manoel Fernandes da Costa, 1731, p. 119.
(2) ANTONIL, André João (ANDREONI, Giovanni Antonio). Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas. Lisboa: Oficina Real Deslandesiana, 1711, p. 25.
(3) Ibid.
(4) CASAL, Manuel Ayres de. Corografia Brasílica,  vol. 1. Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1817, p. 60.

quarta-feira, 18 de março de 2015

A tripulação usual de um batelão monçoeiro

"Batelão" era o nome dado a cada uma das enormes canoas que, ao tempo das monções cuiabanas, eram usadas nas viagens pelo Tietê, Paraná e outros rios. Partia-se de Porto Feliz - então chamada Araraitaguaba (*) - mas o retorno podia ser pelo próprio Tietê ou, em época de grandes chuvas, pelo rio Piracicaba.
Os batelões eram, com frequência, construídos a  partir do tronco de uma única árvore, o que era possível porque, naquela época, havia ainda matas em São Paulo com árvores enormes.
Habitualmente, a tripulação de um desses batelões era composta por oito homens com prática na navegação dos rios, incluindo um piloto (que viajava na popa), um proeiro e seis indivíduos de muita força para remar contra a corrente, habilitados, inclusive, para o uso de varejões em lugar de remos, quando era preciso atravessar as perigosas corredeiras. Entendam os leitores que o número de tripulantes podia variar, ainda que oito fosse o padrão.
Ora, cada uma dessas embarcações devia levar, também, os respectivos monçoeiros e sua bagagem. Em alguns casos, até animais eram transportados. Vê-se, pois, quão árdua era a tarefa dos remadores que, não raro, eram escravos. Assim carregado, um  batelão deslizava pelo leito dos rios, rumo ao interior do Brasil, ficando a borda apenas uns poucos centímetros acima do nível da água. 
Era preciso coragem, mas a esperança de enriquecimento com o ouro levou muita gente a correr todos os riscos, que não eram relacionados somente à navegação. Havia também as doenças, a fome, os ataques de indígenas (paiaguás e guaicurus, entre outros), as chuvas torrenciais e, pequenos mas insuportáveis, mosquitos que tornavam a viagem uma rota infernal. 
Foi assim que se explorou e povoou uma parte considerável do interior do Brasil. Quem ia, queria enriquecer. Voltar? Era apenas incerteza.

Parte que resta de um batelão monçoeiro (Parque das Monções, Porto Feliz - SP)

(*) Os leitores não terão muita dificuldade em compreender a razão para a mudança de nome dessa localidade...


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segunda-feira, 16 de março de 2015

Medidas restritivas ao trabalho dos comediantes na Roma Antiga

Ator romano de comédia
usando máscara (¹)
É Tácito, historiador romano, quem conta, em seus famosos Annales: desde os dias de Augusto era proibido mandar castigar com açoites aos comediantes que, naqueles tempos, representavam as farsas. Isso lhes dava, por certo, uma grande liberdade, de que já não desfrutavam outras pessoas.
Ocorre que, nos dias de Tibério (imperador entre 14 e 37 d.C.), alvoroços ocorridos em Roma levaram a uma série de proibições relativas ao trabalho dos ditos comediantes. As medidas restritivas incluíam:
- Os senadores ficavam terminantemente proibidos de ir à casa de comediantes;
- Aos cavaleiros era vedado até mesmo aparecer em público ao seu lado ou andar em companhia de um deles;
- Proibia-se a representação de comédias em qualquer outro lugar que não nos teatros;
- Finalmente, já que, por graça do "divino" Augusto, os comediantes atrevidos não podiam levar umas boas chibatadas se ousassem atentar com suas troças contra a dignidade imperial, determinou-se que, aos pretores, era lícito ordenar que fossem condenados ao desterro todos aqueles que, destilando veneno em suas peças humorísticas, passassem dos limites, ou seja, ofendessem a dignidade, quer do próprio Tibério, quer de outra figura de importância.
A liberdade de expressão não era grande coisa na Antiguidade romana. Vê-se que ficou ainda menor. 
A propósito, restrição da liberdade era coisa em que Tibério tornou-se um especialista (²). Apenas para exemplificar, e ainda com base na obra de Tácito, sabe-se que o sucessor de Augusto tratou de limitar tanto quanto possível a liberdade de atuação dos pretores, que eram, em Roma, encarregados da administração da justiça. Sua prática era tanto mais efetiva quanto não se fazia tão explícita: ia assistir às audiências do pretor em atividade, mantendo-se em um lugar em que, pelo cerimonial, este não estava obrigado a levantar-se de sua cadeira devido à presença do imperador. Podia parecer uma atitude respeitosa, mas, de fato, não passava de uma sutil intimidação àquele que devia aplicar a justiça: sed dum veritati consulitur, libertas corrumpebatur, escreveu Tácito.

(1) PARTON, James. Caricature and Other Comic Art. New York: Harper &  Brothers, 1877, p. 22.
(2) No ano 776 da fundação de Roma os comediantes foram, por ordem de Tibério, expulsos da Itália.


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sexta-feira, 13 de março de 2015

Todos prontos para fugir dos corsários

Os colonizadores portugueses que se estabeleceram no Brasil durante o Século XVI enfrentavam, no que se referia à defesa de suas povoações, duas grandes ameaças, vindo uma do interior da Colônia e outra do exterior - melhor dizendo, do mar.
No primeiro caso, os confrontos com indígenas eram frequentes, desde que estes perceberam que colonizadores queriam não somente viver nas terras da América, como também servir-se do trabalho da população nativa. Gratuitamente, aliás. Era, pois, uma situação que só podia resultar em lutas sangrentas. Tendo perspectivas muito diferentes quanto aos propósitos da vida, europeus e ameríndios enfrentaram-se, com variada intensidade, até que prevaleceu quem tinha armas mais eficientes.
A outra grande ameaça às povoações coloniais vinha do mar; corsários e piratas (¹) atacavam para roubar o que lhes pudesse ser útil, como alimentos, por exemplo, ou aquilo que se venderia por bom preço na Europa.
As vilas coloniais eram pobremente defendidas. Se tinham algum tipo de muro, ou este era apenas de taipa, ou não passava de uma cerca. Armas de maior calibre eram pouco numerosas. As povoações seriam, portanto, uma presa fácil, conforme escreveu Gabriel Soares em fins do Século XVI: "Se nisto caírem os corsários, com mui pequena armada assenhorear-se-ão desta província por razão de não estarem as povoações dela fortificadas, nem terem ordem com que possam resistir a qualquer afronta que se oferecer." (²)
Então, quando se avistava, ao longe, alguma embarcação desconhecida, a população ficava de prontidão para, sendo necessário, fugir para o mato, levando consigo o pouco que poderiam salvar. Continua Gabriel Soares:
"Vivem os moradores dela tão atemorizados, que estão sempre com o fato entrouxado para se recolherem para o mato, como fazem com a vista de qualquer nau grande, temendo-se serem corsários; a cuja afronta Sua Majestade deve mandar acudir com muita brevidade, pois há perigo na tardança, o que não convém que haja." (³)
Conselho prudentíssimo, esse, embora pouco considerado, à vista dos inúmeros ataques ocorridos contra as povoações litorâneas, ao longo dos dois primeiros séculos da colonização. O fato de que a população se mostrava pronta a fugir em caso de ameaça é uma evidência de que se reconhecia a defesa como impossível. Ladrões do mar andavam muito bem informados e equipados: a terra, riquíssima por natureza, tinha muito a oferecer, sendo a produção de açúcar dos engenhos um atrativo (ou tentação) a mais. O roubo, muitas vezes, compensava. 

(1) Tecnicamente, corsários estavam a serviço do governo de algum país, enquanto que piratas atacavam para fins particulares. Na prática, eram todos ladrões do mar.
(2) SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. Rio de Janeiro: Laemmert, 1851, p. 14.
(3) Ibid.


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quarta-feira, 11 de março de 2015

Casa da Câmara e Cadeia

Casa da Câmara e Cadeia em Pirenópolis - GO,
atualmente Museu do Divino
Nos tempos coloniais, sendo escassa a população e igualmente parcos os recursos, muitas povoações distinguidas com o direito a uma Casa da Câmara, na qual deliberavam os vereadores, agregavam a seu edifício uma outra função, o de Cadeia Pública. 
Explicando melhor: erguia-se um prédio em dois pisos, sendo o primeiro destinado à Cadeia Pública e o segundo, à Casa da Câmara. Esse arranjo, ainda que não fosse obrigatório, era muito comum e prevaleceu Século XIX adentro, mesmo em dias do Império. A cadeia, eventualmente, era relegada ao subsolo. Pior para os presos, claro. De qualquer modo as duas coisas costumavam andar juntas, sendo útil lembrar que Saint-Adolphe, referindo-se a Paraty, observou que era dotada de "uma casa da câmara no primeiro andar, com a cadeia por baixo." (¹)
O costume, seja por tradição ou comodismo, era difícil de desarraigar, e foi somente com o crescimento econômico de algumas áreas que despontou um certo gosto pela construção de prédios públicos mais suntuosos, que pudessem, em um instante, revelar ao observador a riqueza de um dado lugar. Ainda assim, há um relato interessante, relativo aos anos de 1860-61, de um edifício público que, não contente em ser Casa da Câmara e Cadeia, agregava a si outras funções, e isso na já próspera Província de São Paulo. Foi Augusto E. Zaluar quem contou, referindo-se a Piracicaba:
"[...] Uma mesma casa, mal construída e arruinada, em frente da Matriz, reúne a câmara municipal [...], funciona o júri, dão as devidas autoridades suas audiências, e trabalha a escola pública de primeiras letras do sexo masculino! Note-se, porém, que isto é no pavimento superior, pois o térreo se distribui em uma prisão para homens, outra para mulheres e uma espécie de saguão com tarimba para a guarda." (²)
Cabem, aqui, algumas considerações. A primeira delas, e o próprio Zaluar apontou o fato, é que o tal uso múltiplo de um prédio público era um despropósito pela insalubridade. Outra constatação óbvia é que a cadeia pública de modo algum primava pela segurança. Acrescente-se a isso que o costume de acumular funções a um só edifício público não era nenhuma raridade no Brasil da época. 
Por último, informou Augusto E. Zaluar que o maior dano recaía sobre a escola. Por quê? Ora, porque a cada vez que devia entrar em funcionamento o tribunal do júri, a escola tinha as aulas suspensas. Péssimo para o ensino, é certo, mas é provável que os pequenos estudantes não morressem de tristeza por essas férias forçadas.

(1) SAINT-ADOLPHE, J. O. R. Milliet de. Dicionário Geográfico, Histórico e Descritivo do Império do Brasil vol. 2. Paris: J. P. Aillaud, 1845, p. 243.
(2) ZALUAR, Augusto-Emílio. Peregrinação Pela Província de São Paulo 1860 - 1861. Rio de Janeiro/Paris: Garnier, 1862, p. 246.


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segunda-feira, 9 de março de 2015

Estudar História trazia alívio à surdez de um padre

Acreditem, senhores leitores: no Brasil Colonial, em que a luta pela sobrevivência era prioridade, havia gente que arranjava tempo e disposição para envolver-se com o estudo da História, que, como veremos, podia ter um uso prático no mínimo curioso. Pedro Taques de Almeida Paes Leme, em sua Nobiliarchia Paulistana, menciona, por exemplo, um certo Manuel Leite da Silva, que "foi completo na língua latina, e excelente poeta com grande instrução da História", além, é claro, de Frei Gaspar da Madre de Deus, que não apenas se interessava pelo estudo da História, mas que se dedicou a escrevê-la, razão pela qual é bem conhecido até hoje. E havia, também, o próprio Pedro Taques, assim como vários outros autores, que ele não menciona, ou porque não conhecia, ou porque não eram da sua amada Capitania de São Vicente - era, como se sabe, ele próprio um crítico mordaz da obra de Rocha Pita.
Nada se compara, porém, ao caso do Padre José Ferraz, ituano que, pelas circunstâncias da vida, afeiçoou-se ao estudo da História (¹). Conta Pedro Taques:
"José Ferraz foi jesuíta na província da Bahia, onde tomou a roupeta (²). Este homem foi de marca maior na sutileza com que penetrou a sagrada teologia. As suas letras o elevaram tanto, que caiu no desacordo de se constituir soberbo e ingrato ao doce leite com que se criara na Companhia, porque faltando-se-lhe com a cadeira de teologia na Bahia, para logo entrou a abandonar aquela retidão de justiça distributiva com que esta religião costuma praticar os seus preceitos com os súditos, publicando que com ele se tinha alterado esta virtude, porque as cadeiras se devem conferir aos mais beneméritos em letras, e não em antiguidade de estudos."
O fato é que o Padre Ferraz, furioso por ver-se preterido, estava já disposto a deixar a Ordem na qual professara, quando, segundo Taques, uma carta do próprio Geral, vinda Roma, ordenou que lhe dessem o posto que almejava. O teimoso homem, porém, nem por isso mudou de ideia:
"Não bastou esta ternura e obséquio sem exemplo para abrandar o gênio áspero ou desconfiado do padre José Ferraz, que, preocupado da sua teima e alucinação, largou a roupeta e, como já era presbítero, veio para São Paulo em hábito de clérigo de São Pedro. Não tardou muito o castigo, porque de repente ensurdeceu, de sorte que, ainda que aos ouvidos lhe disparassem uma peça de artilharia, não ouviria este grande eco [sic]."
Não estranhem os leitores o pensamento de Pedro Taques quanto a ser a surdez do Padre José Ferraz um castigo por sua arrogância. Aqueles eram tempos de profunda religiosidade e era muito comum que qualquer infortúnio fosse interpretado como uma punição vinda do Céu. Taques ainda diria, nessa mesma linha de interpretação dos fatos relacionados à vida do Padre Ferraz:
"Viveu pobre, e acabou na miséria, porque até por fim da carreira da triste vida caiu no vício de se embriagar com aguardente. Jaz sepultado na vila de Itu, sem mais campa que a saudade do seu nome, não pelo que foi, mas pelo que deixou de ser."
Mas continuemos, porque é exatamente agora que vem a parte mais interessante: 
"Foi bem instruído na História sacra e profana, a que se aplicou por alívio da sua surdez. Nas humanidades foi eminente, e na poesia latina transcendeu a todos os do seu tempo, e ainda até hoje sem igual."
Ah, senhores leitores, ocorre aqui algo realmente inusitado: um novo tratamento para a surdez!!! 
Sim, sim, sim, a intenção provável  de Taques era sugerir que o estudo da História trazia algum conforto mental ao pobre surdo, mas não deixa de haver uma certa graça na ideia, não é mesmo?

(1) Era, de acordo com Pedro Taques, nascido em Itu, filho de Isabel de Campos (nascida em Santana de Parnaíba a 11 de dezembro de 1661) e de Manuel Ferraz de Araújo, português nascido no Porto.
(2) A expressão "tomar a roupeta" significava tornar-se jesuíta.


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sexta-feira, 6 de março de 2015

Uma comparação entre os soldados de infantaria dos bárbaros germanos e os escudeiros medievais

É sabido que muito dos valores da sociedade medieval provinha de um sincretismo entre tradições romanas e costumes bárbaros. O uso de que cavaleiros tivessem um escudeiro como auxiliar parece vir do sistema amplamente empregado, segundo Júlio César, entre os germanos que viviam além do Reno:
"Seis mil cavalos iam escoltados por número correspondente de infantes, selecionados individualmente entre os mais velozes e mais valentes, pelos homens da cavalaria, de modo que cada um escolhia o que mais lhe agradava; cavaleiro e infante entravam juntos em combate, de modo que, se um cavaleiro era ferido, o infante o socorria imediatamente; em marchas forçadas ou em retiradas esses infantes eram, pelo treino frequente, tão rápidos, que, agarrados à crina dos cavalos, corriam ao lado dos animais." (¹)
Isso é o que encontramos em De Bello Gallico. César devia saber do que falava, já que as tropas por ele comandadas enfrentaram germanos não poucas vezes. Mas, quanto à questão do hábito medieval de que cavaleiros tivessem, cada um deles, seu respectivo escudeiro, há que observar uma diferença nada desprezível em relação ao costume bárbaro (²). Os cavaleiros germanos elegiam por seus companheiros os mais hábeis dentre os soldados da infantaria; já os escudeiros que acompanhavam os cavaleiros da Idade Média não eram militares experientes, mas jovens aprendizes que, acompanhando um guerreiro tarimbado, estavam em contínuo treinamento que iria levá-los, aos poucos, ao pleno conhecimento dos segredos bélicos, tais como se afiguravam em seus dias.

(1) Tradução de Marta Iansen para uso exclusivo no blog História & Outras Histórias.
(2) Para romanos e gregos, era bárbaro todo aquele cuja língua materna não fosse nem o latim e nem o grego.


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quarta-feira, 4 de março de 2015

O vestuário típico de um mineiro no Século XIX

Nesta imagem de Rugendas (¹), retratando habitantes de Minas, podem ser vistos
tanto as botas altas como o poncho típicos da região no Século XIX

O que é que determina o vestuário típico de um lugar? Tradições, materiais disponíveis, técnicas dominadas para tecer e costurar? Clima? Costumes religiosos? Estilo de vida ou principais ocupações da população? 
Sim, esses são fatores importantes, e vários outros poderiam ser ainda citados. No caso do Brasil, a população colonial trazia costumes e técnicas originárias da Península Ibérica, que foram amalgamados a tradições africanas e indígenas, adaptando-se às condições climáticas dominantes, para produzir uma variedade de trajares, regionalmente adequados, em virtude da vastidão do território. 
Foi assim que surgiu, por exemplo, o vestuário usual entre habitantes de Minas Gerais. Tão conveniente era essa indumentária que viajantes, ainda que não fossem "mineiros", eram vistos frequentemente usando o que se costumava chamar de "botas mineiras", assim descritas pelo Príncipe Adalberto da Prússia, que chegou ao Brasil em 1842:
"Estas botas são de couro marrom, de veado, sobem até ao meio das coxas [...], ou também, à vontade, dobram para baixo à semelhança das botas turcas de pano [...], finalmente, também se enrugam em pregas [...]." (²)
Mas não era só. O trajar típico de um mineiro, afeito a viagens nas quais a mudança de temperatura podia ocorrer bruscamente, em particular na transição das horas de luz para a noite, ou mesmo à ocorrência de chuvas repentinas, incluía um poncho, que primava pela praticidade, conforme contou ainda o Príncipe Adalberto:
"O poncho é a principal peça da indumentária do mineiro; um manto muito simples que consiste num grande quadrado de pano de lã com uma abertura redonda no centro, para enfiar a cabeça. O brasileiro sabe usar o poncho com perfeição; ora atira-o pitorescamente por cima dos ombros, ora ajeita-o sobre o peito de maneira que os braços (porque não tem mangas) ficam inteiramente de fora e aparecendo o forro vermelho, o que fica muito bem e lhes dá um aspecto peculiar. Este manto é leve, fresco e protege contra a chuva, sendo assim muito conveniente para este clima; é fácil de transportar, serve de porta-mantas, para carregar roupas, e muitas vezes me serviu de cobertor e de macio travesseiro." (³)

Viajante mineiro típico, com botas e poncho (⁴)
A praticidade de um poncho mineiro fazia com que mesmo os tropeiros e viajantes de outros lugares viessem a adotá-lo. Foi o que aconteceu com o príncipe, um usuário confesso tanto do poncho como das botas de Minas, para suas andanças por terras brasileiras, isso na década de quarenta do Século XIX.

(1) RUGENDAS, Moritz. Malerische Reise in Brasilien. Paris: Engelmann, 1835. O original pertence à Biblioteca Nacional; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) ADALBERTO, Príncipe da Prússia. Brasil: Amazônia - Xingu. Brasília: Senado Federal, 2002, pp. 71 e 72.
(3) Ibid., p. 72.
(4) _________ Brasilian Souvenir. Rio de Janeiro: Ludwig &; Briggs, 1845. O original pertence à BNDigital; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


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segunda-feira, 2 de março de 2015

Como a Marquesa de Santos soube do reconhecimento da Independência do Brasil por Portugal

A Marquesa de Santos - Domitila de Castro Canto e Melo - foi, sem sombra de dúvida, a mais famosa amante de D. Pedro I, imperador do Brasil. O tal relacionamento escandalizou a Corte, mesmo porque não tinha nada de secreto, embora D. Pedro fosse casado, desde 1817, com ninguém menos que D. Leopoldina, princesa da Casa de Habsburg, filha do Imperador Francisco I da Áustria. 
Ora, D. Leopoldina era extremamente culta e tinha plenas condições de atuar mesmo como conselheira em assuntos políticos (como, ao que tudo indica, de fato ocorreu, em particular no que se relaciona à independência do Brasil). Assim, não deixa de ser curioso o fato de que o jovem imperador resolvesse compartilhar acontecimentos relacionados ao governo com sua amante, conforme se vê nesta carta que lhe enviou para contar, com perceptível entusiasmo, que D. João VI ratificara o tratado pelo qual reconhecia a Independência do Brasil (¹):

"Meu amor e meu tudo,
No dia em que fazia três anos que eu comecei a ter amizade [sic] com mecê [sic] assinei o tratado do nosso reconhecimento como Império por Portugal. Hoje que mecê faz os seus vinte e sete recebo a agradável notícia de que no Tejo tremulara em todas as embarcações nele surtas o Pavilhão Imperial, efeito da ratificação do Tratado por el-Rei meu augusto pai. Quanto há para notar uma tal combinação de acontecimentos políticos com os nossos domésticos [sic], e tão particulares!!!!
Aqui há o que quer que seja de misterioso que eu ainda por hora não diviso, mas que indica que a Providência vela sobre nós [sic] (e se não há pecado) até como que aprova a nossa tão cordial amizade [sic!!!], com tão célebres combinações. Como estou certo que mecê toma parte e bem a peito nas felicidades ou infelicidades da nossa cara Pátria, por isso tive a lembrança de lhe escrever." (²)

Digam-me, leitores deste blog, que lhes parece uma carta como esta?
Deixando de lado as supostas "coincidências" às quais D. Pedro fazia referência, não há como fugir do fato de que a senhora Domitila ocupava um espaço altamente privilegiado em termos de acesso às informações políticas de seus dias. Sabe-se lá o quanto poderá, afinal, ter influenciado as ideias de seu imperador-amante, durante algum intervalo de outras ocupações!

(1) O Tratado com Portugal foi intermediado por uma representação diplomática da Grã-Bretanha.
(2) MORAES, Alexandre José de Mello. Crônica Geral do Brasil vol. 1. Rio de Janeiro: Garnier, 1886, pp. XIII e XIV.


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