quarta-feira, 4 de março de 2015

O vestuário típico de um mineiro no Século XIX

Nesta imagem de Rugendas (¹), retratando habitantes de Minas, podem ser vistos
tanto as botas altas como o poncho típicos da região no Século XIX

O que é que determina o vestuário típico de um lugar? Tradições, materiais disponíveis, técnicas dominadas para tecer e costurar? Clima? Costumes religiosos? Estilo de vida ou principais ocupações da população? 
Sim, esses são fatores importantes, e vários outros poderiam ser ainda citados. No caso do Brasil, a população colonial trazia costumes e técnicas originárias da Península Ibérica, que foram amalgamados a tradições africanas e indígenas, adaptando-se às condições climáticas dominantes, para produzir uma variedade de trajares, regionalmente adequados, em virtude da vastidão do território. 
Foi assim que surgiu, por exemplo, o vestuário usual entre habitantes de Minas Gerais. Tão conveniente era essa indumentária que viajantes, ainda que não fossem "mineiros", eram vistos frequentemente usando o que se costumava chamar de "botas mineiras", assim descritas pelo Príncipe Adalberto da Prússia, que chegou ao Brasil em 1842:
"Estas botas são de couro marrom, de veado, sobem até ao meio das coxas [...], ou também, à vontade, dobram para baixo à semelhança das botas turcas de pano [...], finalmente, também se enrugam em pregas [...]." (²)
Mas não era só. O trajar típico de um mineiro, afeito a viagens nas quais a mudança de temperatura podia ocorrer bruscamente, em particular na transição das horas de luz para a noite, ou mesmo à ocorrência de chuvas repentinas, incluía um poncho, que primava pela praticidade, conforme contou ainda o Príncipe Adalberto:
"O poncho é a principal peça da indumentária do mineiro; um manto muito simples que consiste num grande quadrado de pano de lã com uma abertura redonda no centro, para enfiar a cabeça. O brasileiro sabe usar o poncho com perfeição; ora atira-o pitorescamente por cima dos ombros, ora ajeita-o sobre o peito de maneira que os braços (porque não tem mangas) ficam inteiramente de fora e aparecendo o forro vermelho, o que fica muito bem e lhes dá um aspecto peculiar. Este manto é leve, fresco e protege contra a chuva, sendo assim muito conveniente para este clima; é fácil de transportar, serve de porta-mantas, para carregar roupas, e muitas vezes me serviu de cobertor e de macio travesseiro." (³)

Viajante mineiro típico, com botas e poncho (⁴)
A praticidade de um poncho mineiro fazia com que mesmo os tropeiros e viajantes de outros lugares viessem a adotá-lo. Foi o que aconteceu com o príncipe, um usuário confesso tanto do poncho como das botas de Minas, para suas andanças por terras brasileiras, isso na década de quarenta do Século XIX.

(1) RUGENDAS, Moritz. Malerische Reise in Brasilien. Paris: Engelmann, 1835. O original pertence à Biblioteca Nacional; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) ADALBERTO, Príncipe da Prússia. Brasil: Amazônia - Xingu. Brasília: Senado Federal, 2002, pp. 71 e 72.
(3) Ibid., p. 72.
(4) _________ Brasilian Souvenir. Rio de Janeiro: Ludwig &; Briggs, 1845. O original pertence à BNDigital; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


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6 comentários:

  1. Legal pena que um costume que praticamente se extinguiu...

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    1. Olá, Diogo Souza, vestuário é assim mesmo, o que é moda em uma época, cai em desuso mais tarde. Mas, em festas típicas, talvez fosse interessante resgatar essa tradição.

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  2. Realmente muito interessante. Sempre gostei de pesquisar sobre os costumes de nossa terra.

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    1. Olá, Eduardo, obrigada pela visita ao blog.
      Concordo com você: entender como as pessoas se vestiam no passado é interessante, quando se quer uma visão abrangente da História.

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  3. O traje do tropeiro mineiro é igual ao gaúcho?

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    1. Lembra um pouco, não é mesmo? Mas não é igual. As semelhanças podem estar ligadas à necessidade de roupas que protegessem durante viagens ou estadas no campo, onde as variações climáticas são importantes.

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