A Marquesa de Santos - Domitila de Castro Canto e Melo - foi, sem sombra de dúvida, a mais famosa amante de D. Pedro I, imperador do Brasil. O tal relacionamento escandalizou a Corte, mesmo porque não tinha nada de secreto, embora D. Pedro fosse casado, desde 1817, com ninguém menos que D. Leopoldina, princesa da Casa de Habsburg, filha do Imperador Francisco I da Áustria.
Ora, D. Leopoldina era extremamente culta e tinha plenas condições de atuar mesmo como conselheira em assuntos políticos (como, ao que tudo indica, de fato ocorreu, em particular no que se relaciona à independência do Brasil). Assim, não deixa de ser curioso o fato de que o jovem imperador resolvesse compartilhar acontecimentos relacionados ao governo com sua amante, conforme se vê nesta carta que lhe enviou para contar, com perceptível entusiasmo, que D. João VI ratificara o tratado pelo qual reconhecia a Independência do Brasil (¹):
"Meu amor e meu tudo,
No dia em que fazia três anos que eu comecei a ter amizade [sic] com mecê [sic] assinei o tratado do nosso reconhecimento como Império por Portugal. Hoje que mecê faz os seus vinte e sete recebo a agradável notícia de que no Tejo tremulara em todas as embarcações nele surtas o Pavilhão Imperial, efeito da ratificação do Tratado por el-Rei meu augusto pai. Quanto há para notar uma tal combinação de acontecimentos políticos com os nossos domésticos [sic], e tão particulares!!!!
Aqui há o que quer que seja de misterioso que eu ainda por hora não diviso, mas que indica que a Providência vela sobre nós [sic] (e se não há pecado) até como que aprova a nossa tão cordial amizade [sic!!!], com tão célebres combinações. Como estou certo que mecê toma parte e bem a peito nas felicidades ou infelicidades da nossa cara Pátria, por isso tive a lembrança de lhe escrever." (²)
Digam-me, leitores deste blog, que lhes parece uma carta como esta?
Deixando de lado as supostas "coincidências" às quais D. Pedro fazia referência, não há como fugir do fato de que a senhora Domitila ocupava um espaço altamente privilegiado em termos de acesso às informações políticas de seus dias. Sabe-se lá o quanto poderá, afinal, ter influenciado as ideias de seu imperador-amante, durante algum intervalo de outras ocupações!
(1) O Tratado com Portugal foi intermediado por uma representação diplomática da Grã-Bretanha.
(2) MORAES, Alexandre José de Mello. Crônica Geral do Brasil vol. 1. Rio de Janeiro: Garnier, 1886, pp. XIII e XIV.
Veja também:
O vale dos lençóis sempre foi um profícuo confessionário.
ResponderExcluirParabéns por mais este excelente post.
Beijinhos, boa semana
Ruthia d'O Berço do Mundo
Kkkkkkkkkkkkk, não há dúvidas quanto a isso.
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