terça-feira, 31 de julho de 2012

Anúncios curiosos das primeiras décadas do Século XX - Parte 11

Teriam os pequenos brasileiros que se divertiam com o jogo "A Caminho de Berlin" alguma noção da realidade da guerra na Europa, aquela que seus pais chamavam de "A Grande Guerra" e à qual nós nos referimos como "Primeira Guerra Mundial"?
Anunciado (*) como "A Guerra em Família", esse joguinho nada pacifista tinha a seguinte regra básica:
"Imagine-se que cada jogador dispõe, no começo da partida, de 550 homens e, se a bola no percurso para Berlin cair num dos orifícios que nele se encontram, o jogador perderá o número de homens marcado nesse orifício. O jogador que chegar a Berlin com maior número de homens ganhará a partida."
O anúncio em questão foi publicado em setembro de 1917, enquanto o conflito armado persistiu por ainda mais de um ano. Quando finalmente acabou, a Gripe Espanhola, em seu rastro, já se espalhara pelo mundo, chegara ao Brasil e nunca saberemos quantos dos inocentes jogadores de "A Caminho de Berlin" terão sido atingidos pela pandemia. Seria, em todo o caso, um modo amargo de compreender que as guerras, grandes ou pequenas, não são brincadeiras de crianças.

(*) A CIGARRA, 8 de setembro de 1917.


Veja também:

domingo, 29 de julho de 2012

Anúncios curiosos das primeiras décadas do Século XX - Parte 10

Quase não há limite para a imaginação das noivas, ultimamente, em criar algo exótico para os respectivos casamentos. O anúncio (*) da postagem de hoje talvez tivesse utilidade para algumas delas, não fora o fato de ser datado de 1907.


Nesse tempo, as carruagens não eram um modismo adotado apenas para dar glamour à chegada dos noivos à cerimônia. Eram simplesmente o transporte usual escolhido por gente de certa posição social.  O  aspecto curioso, no caso desse anúncio, fica por conta da informação de que as carruagens eram dotadas de rodas de borracha e iluminação elétrica, numa demonstração de que a empresa que prestava esse serviço não tinha, de modo algum, a intenção de parecer antiquada!

(*) A VIDA MODERNA, 25 de dezembro de 1907.


Veja também:

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Anúncios curiosos das primeiras décadas do Século XX - Parte 9

Não sei o que pensaria uma senhora do início do século XX se, por mágica, lhe fosse dada a oportunidade de, neste ano de 2012, fazer um passeio por qualquer uma das apinhadas praias brasileiras em um final de semana de verão. Digo isso porque, em se tratando de vestuário, se em um século as mudanças foram gigantescas, especificamente em se tratando de trajes de banho a transformação beira o incomensurável.
Em 1917, eram esses os artigos para banho de mar que uma importante loja paulistana fazia anunciar (*):


Quem tiver a curiosidade de saber mais sobre o assunto, inclusive com informações sobre a "moda praia" do século XIX, pode ler, neste blog, a postagem "Profundas reflexões sobre praias e banhos de mar".

(*) A CIGARRA, 14 de junho de 1917.


Veja também:

terça-feira, 24 de julho de 2012

Anúncios curiosos das primeiras décadas do Século XX - Parte 8

Antes da existência das redes de energia elétrica, os trabalhos domésticos eram, quase sempre, extremamente morosos e cansativos. Os equipamentos existentes eram movidos pela força muscular de quem os usava (¹). O uso da eletricidade começou a mudar esse panorama, com a introdução dos chamados eletrodomésticos, aparelhos que podiam acelerar e facilitar o trabalho do cuidado de uma casa, embora seja necessário lembrar que, nas primeiras décadas do século XX, bem poucas cidades no Brasil dispunham de infraestrutura que possibilitasse seu emprego.
E que eletrodomésticos eram os que já podiam ser encontrados à venda? O anúncio seguinte (²) dá uma ideia do que estava disponível. Não era muito, mas, como inovação, tinha grande significado.



(1) Veja sobre isso, as seguintes postagens neste blog:
(2) A CIGARRA, 31 de dezembro de 1914.


Veja também:

domingo, 22 de julho de 2012

Anúncios curiosos das primeiras décadas do Século XX - Parte 7

Há neste blog um bom número de postagens que tratam da questão dos esportes e, mais especificamente, do futebol, no Brasil do início do século XX (¹). De fato, as atividades esportivas ganharam muitos adeptos na época, à medida que eram propostas, inclusive, como importante recurso para a educação dos jovens, embora, como sempre, houvesse quem discordasse.
Ora, à parte disso, chutar uma bola tornou-se verdadeira mania. E que mais poderia querer um futebolista inveterado, que ter a sua própria bola para jogar? O anúncio curioso (²) desta postagem trata exatamente disso, ao oferecer à venda a bola tão cobiçada, da melhor qualidade, e outros artigos necessários à prática do futebol.



(1) Veja a série de postagens "Futebol no Brasil no início do Século XX".
(2) O ECHO, Ano VIII, nº 75, maio de 1908. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


Veja também:

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Anúncios curiosos das primeiras décadas do Século XX - Parte 6

Por séculos, os artigos de higiene pessoal tiveram fabricação caseira, mediante o uso de fórmulas que eram passadas de uma geração a outra, de modo muito semelhante ao que ocorria com receitas culinárias. Poucas eram as pessoas que tinham acesso a produtos mais sofisticados, preparados em pequena escala, de acordo com fórmulas mais do que secretas e postos à venda nas (poucas) lojas especializadas existentes. Por isso, a solução era, quase sempre, fazer, em casa mesmo, os sabões e sabonetes, enxaguatórios bucais e águas perfumadas de que se precisava, seguindo os mesmos procedimentos da mamãe, da vovó, da bisavó...
A produção dos mais diversos artigos em escala verdadeiramente industrial veio alterar esse panorama. Produtos de higiene pessoal ganharam maior oferta, tornaram-se mais baratos e seu uso virou coisa quase obrigatória, sinônimo de civilidade, de respeito do indivíduo para consigo mesmo e para com os semelhantes. Não é, portanto, nenhuma surpresa que os anúncios de artigos de higiene tenham proliferado - era preciso vender o que se produzia, convencendo os potenciais consumidores de que seu uso era indispensável. Meus leitores encontrarão, a seguir, dois ótimos exemplos disso.

Produto para limpeza dos dentes (¹)


Pergunto apenas o que é que um simpático gatinho teria a ver com um dentifrício...

Desodorante para os pés e axilas (²)


(1) O MALHO, 22 de setembro de 1906.
(2) A CIGARRA, 21 de abril de 1915.


Veja também:

terça-feira, 17 de julho de 2012

Anúncios curiosos das primeiras décadas do Século XX - Parte 5

No universo machadiano, Sofia é personagem de Quincas Borba e, como dama de uma certa posição social, habituada à vida na Corte, comporta-se segundo os refinamentos de instrução e maneiras que, na época, eram bastante valorizados. Tem uma prima, Maria Benedita, que, ao contrário, é moça da roça, educada sem os costumes urbanos. Não toca piano e não fala francês, coisas que, para Sofia, são falhas imperdoáveis. Afinal, quem pode ir às compras sem saber francês?
Como romance, Quincas Borba foi ambientado nos anos em que transcorreu a Guerra do Paraguai. Já o anúncio abaixo (*) é muito posterior, data de janeiro de 1910. Não obstante, persiste a mania do francês, de mistura a palavras e expressões em português. Para decifrá-lo, era preciso estar bem informado do universo de modas e compras... Devia ser tudo bem compreensível para as senhoras a quem a propaganda era destinada. Hoje já seria quase um desafio.
Na época, políticos de viés nacionalista, inconformados, queriam proibir palavras e expressões francesas nos nomes das lojas e na propaganda. Obviamente, isso deu em nada. Aos poucos, por razões fáceis de imaginar, o francês foi cedendo espaço ao inglês. E, de vez em quando, alguém ainda aventa a possibilidade de proibir ou multar quem o usa em lugar do português. Ora, se não se conseguiu tal coisa quando o país era uma gigantesca ilha lusófona em meio ao Continente Americano, seria agora possível quando a comunicação em escala mundial é (felizmente) instantânea?


(*) A LUA, Ano I, nº 1, janeiro de 1910.


Veja também:

domingo, 15 de julho de 2012

Anúncios curiosos das primeiras décadas do Século XX - Parte 4

À medida que a modernização tecnológica ganhava espaço nas mais diversas atividades econômicas, novos equipamentos destinados a escritórios entraram em comercialização, sempre com a proposta de facilitar e acelerar o trabalho.
Quando se veem documentos cartoriais do Brasil do Século XIX, por exemplo, percebe-se que quase toda a papelada é manuscrita. Por isso, nessa época, quem tinha de escrever como parte do trabalho precisava ter letra inteiramente legível, de modo que dominar a caligrafia acrescentava até um certo prestígio social. A contrapartida disso é que o trabalho podia ser extremamente moroso.
Pois bem, nas primeiras décadas do século XX, os meios mecânicos de escrita, já bastante usados em outros países, mas ainda de emprego um tanto restrito no Brasil, começaram a obter popularidade. Os anúncios que selecionei para esta postagem dão conta dessa nova situação.

Máquina de escrever (¹)


Máquina de escrever sem teclado (²)


Equipamento para cópias (³)


(1) A CIGARRA, 1º de agosto de 1914.
(2) A CIGARRA, 15 de junho de 1914.
(3) A CIGARRA, 6 de junho de 1914.
As imagens foram editadas para facilitar a visualização neste blog.


Veja também:

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Anúncios curiosos das primeiras décadas do Século XX - Parte 3

Uma boa água mineral, na temperatura correta, é sempre coisa agradável. Há quem tenha a sua preferida, levando em conta sabor, composição, pH, e assim por diante e, geralmente, é tida como mais favorável à saúde que a água que se tem ao abrir-se uma torneira comum.
Se você, leitor, vivesse no Brasil do início do século XX, teria, entretanto, boas razões para consumir água mineral, se as suas finanças assim o permitissem, claro. Água tratada, como hoje a conhecemos, era quase inexistente, e poucos lugares tinham uma rede de abastecimento urbano que de fato atendia às necessidades de consumo da população. Tendo de ingerir água de poços e outros reservatórios, muitas vezes contaminados, as pessoas estavam sujeitas a contrair doenças que podiam ser fatais. É exatamente essa a ideia explorada pelo seguinte anúncio de água mineral (*), datado de novembro de 1916:


Parece-me, no entanto, que quem elaborou o anúncio teria cometido um erro, ao não levar em conta o fato de que tifo e febre tifoide não são a mesma coisa. Só a segunda pode, de fato, ser contraída pela ingestão de água contaminada.

(*) CORREIO DA SEMANA, Ano VII, nº 238, 7 de novembro de 1916.


Veja também:

terça-feira, 10 de julho de 2012

Anúncios curiosos das primeiras décadas do Século XX - Parte 2

Os vaidosos sempre deram grande importância ao aspecto dos cabelos - aliás, continuam a fazer assim. Prova disso é a enorme variedade de produtos para cuidados capilares disponíveis em supermercados, farmácias, perfumarias e outras lojas especializadas, produtos de todo tipo e preço, para atender ao maior número possível de consumidores. Às vezes, porém, o que é higiene e preocupação com a boa aparência toca as raias do exagero. Isso não é novidade, conforme veremos nos três anúncios seguintes, de 1914, 1910 e 1916, respectivamente.

Cabelos para encantar os românticos (à moda do século XIX)

Quem já leu romances do século XIX sabe muito bem o quanto os autores exploravam as fantasias masculinas associadas aos cabelos das mulheres. Lembra-se, por exemplo, de A Moreninha, de Joaquim M. de Macedo?  Entretanto, já em pleno século XX, uma marca de produto para cabelos resolveu servir-se do que restava dessas ideias. Ao menos é o que se pode concluir pelo anúncio (¹) a seguir que, aos nossos olhos do século XXI, não deixa de ter um tom humorístico.


Cabelos postiços

Para quem não tinha os cabelos da madame do anúncio anterior, havia, naturalmente, uma solução. Eram os cabelos postiços, como os que se anunciavam em uma revista de 1910 (²):


Cabelos além da imaginação

Nada se compara, no entanto, a este terceiro anúncio (³), que dispensa maiores comentários:


(1) CORREIO DA SEMANA, Ano V, nº 219, 30 de novembro de 1914.
(2) A LUA, Ano 1, nº 9, março de 1910.
(3) O ECHO, outubro de 1916.


Veja também:

domingo, 8 de julho de 2012

Anúncios curiosos das primeiras décadas do Século XX - Parte 1

Ao folhear a maioria das revistas que estão hoje em circulação podem-se ver muitas páginas dedicadas a anunciar uma grande variedade de produtos e serviços. Uma análise crítica desses anúncios possibilita, ao leitor dessas revistas, verificar quais são as grandes preferências do momento, os desejos dos consumidores, até mesmo os valores que regem o consumo, influenciados, em maior ou menor grau, pela arte da propaganda, capaz, às vezes, de vender como necessárias, coisas que, de outro modo, ninguém pensaria em comprar.
Lembra-se daquele sapato ridículo que você levou pra casa por um preço absurdo, só porque todo mundo estava usando? Ou daquele modelo de roupa que, em fotografias de alguns anos atrás, faz todo mundo rir demais em uma reunião de família? Pois bem, meus leitores, só resta concordar com o fato de que, bombardeados por todo tipo de propaganda, nos mais diversos meios de comunicação, até os mais críticos dentre nós acabam, por vezes, comprando e usando coisas muito estranhas!
No Brasil do começo do século XX os meios de divulgação de bens de consumo e serviços eram ainda modestos. Havia pessoas contratadas para, em alto e bom som, anunciarem uma variedade de produtos pelas ruas mais movimentadas das cidades, mas os jornais e revistas é que desempenhavam o papel de destaque quando se tratava de divulgar o que se pretendia vender. Como as pequenas localidades não tinham lojas importantes para atendimento dos moradores, era frequente que as compras feitas nas capitais dos Estados fossem despachadas para o interior, alcançando os afoitos consumidores principalmente através dos correios. Aqui, naturalmente, as ferrovias tinham um papel importante.
Só mais tarde é que o rádio, popularizando-se, veio a ser o principal meio de propaganda, não deixando de lado o cinema, é claro. Televisão, nesses tempos? Nem em sonho.
Na série que tem início com esta postagem veremos alguns anúncios que apareceram em publicações das duas primeiras décadas do século XX, através dos quais é possível constatar alguns dos gostos e preferências dos que viveram cem anos antes dos dias de hoje. Não eram eles, em essência, assim tão diferentes de nós, por mais que, pretensamente superiores, achemos tudo engraçado.

Produto para cuidados com a higiene dos cabelos


Sim, produtos de tratamento dos cabelos podem ser encontrados em qualquer supermercado decente. Não é aí, portanto, que está a singularidade do anúncio (*), e sim no uso da segunda pessoa do plural: "tereis", "vosso". É certo que nesse tempo não havia, como hoje, um controle tão severo da veracidade dos anúncios, de modo que nada podemos assegurar quanto à eficácia do "Primor"...

Uma loja de presentes muito simpática com as freguesas


Este anúncio (*), por si só, valeria um estudo mais detalhado. Começa remetendo a uma fábula de Esopo, alardeia preços baixos e, finalmente, lança-se ao campo religioso, quando coloca os proprietários do estabelecimento em questão no paraíso, em algum tempo futuro, em virtude de sua camaradagem nos negócios. Ufa!

(*) A LUA, Ano 1, nº 2,  de janeiro de 1910.


Veja também:

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Os urubus-brancos que fizeram um desenhista "voar"

Há notícias de monçoeiros que acabaram enlouquecendo na viagem às minas - "surtaram", hoje se diria. É que a longa jornada por rios aparentemente intermináveis, rodeados por matas que também pareciam infindas, ao lado de perigos contínuos, reforçados pelo presenciar quase diário da morte de companheiros de viagem, levava os expedicionários a um verdadeiro teste de resistência não apenas física, mas sobretudo mental.
No século XIX, quando as monções cuiabanas já eram coisa do passado, a Expedição Langsdorff seguiu a mesma rota dos monçoeiros rumo ao Brasil central e, dali, para a região amazônica. Entre os expedicionários estava o jovem desenhista francês Hércules Florence, que prestou trabalho verdadeiramente impagável ao registrar em imagens o que se via no caminho. Por certo não enlouqueceu (não se pode dizer o mesmo do líder da Expedição), mas, no relato escrito que deixou, às vezes ocorreu exagerar. Tem-se uma amostra disso nesta descrição que faz do urubu-rei, urubu-branco ou urubutinga (seja lá qual for o nome que se lhe dê, a ave é a mesma):
Cabeça de urubu-rei ou urubutinga
"Os caçadores trouxeram dois urubus-brancos ou urubutingas, um dos mais belos pássaros das florestas do Brasil: o mais formoso sem dúvida em cores e plumagem; o aspecto, porém, e os hábitos são de legítimo corvo. É do tamanho de um ganso. Tem olhos grandes e redondos; íris de brilhante alvura; pálpebras vermelhas; bico como o dos urubus: comprido, recurvado e de um alaranjado vivo. Abaixo do bico, expande-se uma carúncula carnosa que cai de um lado e de outro, de cor também alaranjada. Desde o olho até esta carnosidade, a pele nua puxa para roxo.
Acima da cabeça há uma parte completamente desnudada, rubra, com penazinhas tão pequenas e separadas que parecem pelos. Por baixo dos olhos e do pescoço saem carúnculas unidas e compridas, de um escuro claro e que, em forma de arco, vão-se ligar acima da nuca, unindo-se então num filete carnoso que desce por trás do pescoço até a base do peito. É vermelho claro em cima, preto no meio e amarelo em baixo. As cores da cabeça são realçadas por um fundo negro do ébano, que bem se pode chamar de moldura. O pescoço é totalmente desnudado de penugem. A pele parece pele de luvas: é amarelo vivo na frente, cor que cambia insensivelmente para vermelho carregado. Esse pescoço nu e tão bem colorido sai de um colar de penas acinzentadas que parecem vir das costas e se reúnem no peito, a formarem novamente uma linha de separação que se esbate pouco acima da barriga. O colar semelha um ornato de mulher. O resto das penas é branco, exceto nas extremidades das asas que são pretas. Os pés são brancos." (*)
Percebendo que talvez tivesse ido longe demais, acrescentou:
"Desculpem-me esta descrição, que não é de naturalista."

Um belo exemplar da ave descrita por H. Florence

(*) FLORENCE, Hércules. Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829. Brasília: Ed. Senado Federal, 2007, pp. 36 e 37.


Veja também:

terça-feira, 3 de julho de 2012

O uso do algodão pelos tupinambás, de acordo com Hans Staden

Algodão, de acordo
com Debret (*)
Hans Staden, em sua permanência nada voluntária entre os índios tupinambás, observou que seus hospedeiros praticavam o cultivo de alguns vegetais, tais como mandioca e pimenta, além de algodão. A variedade de algodão cultivada era, segundo ele próprio descreveu, arbustiva e ramosa. Podia chegar a ter cerca de dois metros de altura, não havendo erro na interpretação da medida antiga que empregou. Dava botões que, uma vez amadurecidos, se abriam, revelando o branco algodão, preso às sementes.
Em Zwei Reisen nach Brasilien (edição de Marburg, 1557) Staden assevera que os tupinambás, no que se refere ao vestuário, usavam simplesmente pinturas e adornos, principalmente de penas coloridas. Por que motivo, então, davam-se ao trabalho de cultivar algodão?
Isso se explica pelo fato de as fibras de algodão terem outros usos, dentre os quais Hans Staden menciona um: usavam-nas para a fabricação das redes nas quais dormiam.

(*) DEBRET, J. B. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil vol. 1. Paris: Firmin Didot Frères, 1834. O original pertence à Brasiliana USP; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


Veja também:

domingo, 1 de julho de 2012

Machado de Assis e os jogos olímpicos da era moderna

Os leitores deste blog sabem muito bem que os esportes são, atualmente, um grandíssimo negócio, que movimenta montanhas de dinheiro a cada ano. Além disso, malgrado as ideias fundadoras do Barão Pierre de Coubertin, já vão longe os dias em que o estrito amadorismo era exigência para atletas que pretendiam competir nas Olimpíadas. Investir, pois, nos desportos, é quase sempre garantia de bom retorno. Mas, na aurora dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, havia quem duvidasse disso.
O que vem a seguir é uma prova acabada que, por mais inteligente e perspicaz que alguém seja, às vezes não dá pra enxergar o que está à frente. Não é questão de QI - é apenas consequência de estarmos limitados a determinada conjuntura, ao tempo e lugar em que vivemos e que, aliás, nenhum de nós escolhe. Quer ver? O  texto abaixo, que transcrevo sem mais comentários, foi escrito por ninguém menos que Machado de Assis, sendo  publicado em A Semana, em março de 1895 (portanto, no ano que precedeu a realização da "primeira edição" dos Jogos Olímpicos da Era Moderna). Vejamos:
"Também a arqueologia é ciência, mas há de ser com a condição de estudar as coisas mortas, não ressuscitá-las. Se quereis ver a diferença de uma e outra ciência, comparai as alegrias vivas do nosso Jardim Zoológico com o projeto de ressuscitar em Atenas, após dois mil anos, os jogos olímpicos. Realmente, é preciso ter grande amor a essa ciência de farrapos para ir desenterrar tais jogos. Pois é do que trata agora uma comissão, que já dispõe de fundos e boa vontade. Está marcado o espetáculo para abril de 1896. Não há lá burros nem cavalos; há só homens e homens. Corridas a pé, luta corporal, exercícios ginásticos, corridas náuticas, natação, jogos atléticos, tudo o que possa esfalfar um homem sem nenhuma vantagem dos espectadores, porque não há apostas. Os prêmios são para os vencedores e honoríficos. Toda a metafísica de Aristóteles. Parece que há ideia de repetir tais jogos em Paris, no fim do século, e nos Estados Unidos em 1904. Se tal acontecer, adeus, América! Não valia a pena descobri-la há quatro séculos, para fazê-la recuar vinte." (*)
 
(*) ASSIS, Joaquim Maria Machado de, em A Semana, GAZETA DE NOTÍCIAS, 17 de março de 1895.


Veja também: