quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Em 2022

Estamos a poucas horas de um novo ano, 2022. Talvez, ao longo dos últimos meses, tenhamos desejado que 2021 ficasse para trás, o mais rápido possível... Mas o tempo, leitores, não transcorre segundo nossos desejos. 
O ano que está à frente será rico em datas que recordam acontecimentos importantes. Haverá, por exemplo, o centenário da Revolta do Forte de Copacabana, considerada por muitos o marco inicial do Movimento Tenentista; haverá, também, o centenário da famosa Semana de Arte Moderna, que pode nem ter sido assim tão famosa quando aconteceu, mas que ganhou prestígio mais tarde, à medida que seu significado se tornou evidente. E haverá, é claro, a mais importante celebração, ao menos para o Brasil: o bicentenário da Independência. Mundo afora, haverá muita coisa mais para lembrar.
Como veem, meus leitores, não faltará assunto para este blog (nunca falta). História & Outras Histórias já está meio velhinho – completou doze anos no último dia 25, vida longa para um blog – e, com mais de mil e quatrocentas postagens, oferece uma variedade de assuntos para quem quiser ler. Agradeço a todos os que têm acompanhado as publicações, seja lendo, comentando ou ajudando a divulgar. É para vocês que escrevo. 
Concluindo, devo dizer que começaremos 2022 com uma postagem nova por semana, às quintas-feiras, em lugar das duas que tivemos até agora. Por quanto tempo será assim? Não sei. Tenho outros projetos que demandam atenção neste momento, para que possam ser concluídos. Mas seguiremos adiante, enquanto for possível. A todos, um 2022 maravilhoso. 


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terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Seria Teseu um herói da democracia em Atenas?

Teseu é famoso pela lenda segundo a qual teria matado ninguém menos que o terrível Minotauro devorador de rapazes e moças atenienses que, como um tributo imposto por derrota na guerra, deviam ser enviados periodicamente à ilha de Creta. Mas, para os atenienses do Século II, Teseu era um herói da igualdade de direitos políticos para todos os cidadãos - foi o que disse Pausânias (¹), em sua Descrição da Grécia, ao tratar de certo lugar na cidade de Atenas em que havia uma pintura importante: "Do outro lado há uma pintura em que estão representados Teseu, a Democracia e o Povo Ateniense, sendo Teseu retratado como aquele que concedeu aos atenienses a igualdade de direitos políticos. [...]" (²).
Tudo isso, para Pausânias, não seria mais que conversa fiada, decorrente do pouco conhecimento que a população de Atenas tinha da verdade sobre seu passado: "[...] circula entre as pessoas a ideia de que Teseu foi o responsável por entregar a soberania ao povo, e que isso teria persistido até o tempo em que Pisístrato (³) se levantou como tirano. Porém muitas falsas ideias circulam entre as massas, porque, desconhecendo a História, acreditam naquilo que têm ouvido desde a infância nos coros e nas tragédias (⁴), e uma dessas é sobre Teseu, que na verdade foi um rei (⁵) [...]" (⁶). 
Convenhamos, leitores: muito tempo já se passou desde que Pausânias viveu neste planeta, mas o fenômeno por ele referido continua em voga. Quem é que não sabe que nomes famosos do passado são, às vezes, associados a ideias e valores que jamais pensaram em defender? Vocês são capazes de citar alguns? Por outro lado, não deixa de ser triste, tanto quanto surpreendente, que a cidade de Atenas, notável pela excelência na busca do conhecimento nas ciências e nas artes, tenha decaído a tal ponto que já não se sabia, mais, a quem atribuir corretamente a origem da democracia. Se o conhecimento da História serve para alguma coisa, que seja ao menos para mostrar os erros do passado que devem, a todo custo, ser evitados em nosso tempo.

(1) Geógrafo grego que viveu no Século II, provavelmente entre c. 115 e 180 d.C.
(2) PAUSÂNIAS. Descrição da Grécia, Livro I. Os trechos dessa obra aqui citados foram traduzidos por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(3) Pisístrato viveu no Século VI a.C.; "tirano", na Grécia Antiga, não designava, necessariamente, um governante cruel, e sim aquele indivíduo que chegava ao poder contrariando as leis vigentes. 
(4) Coros e tragédias eram, respectivamente, espetáculos musicais e teatrais muito apreciados entre os antigos gregos. Neles os temas históricos eram frequentes, mas, no entender de Pausânias, muitas vezes apresentavam os acontecimentos de maneira distorcida. 
(5) A própria existência de Teseu é questionada, pela dificuldade em separar os fatos das lendas. Mas, se Teseu existiu e governou Atenas, foi certamente como um rei, não como um herói da democracia.
(6) PAUSÂNIAS. Op. cit. Livro I.


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quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Preparando as ruas da vila de São Paulo para os festejos do Natal

Quem anda pelas ruas logo percebe que, nesta época do ano, são intensos os preparativos para as festas de Natal e Ano-Novo. Vitrines estão repletas de luzes e produtos convidativos. A decoração, a seu modo, aquece o coração das pessoas que, com certa sensação de felicidade, se dispõem a gastar mais.
Com a ajuda da imaginação, voltemos ao começo do Século XVII, para ver o que acontecia na pequena vila de São Paulo, quando Natal e Ano-Novo se aproximavam. A vida era simples e rústica, como só poderia ser na povoação encarapitada no planalto e que apenas podia ser alcançada, vindo do litoral, por quem se dispunha a escalar o complicado Caminho do Mar. Muito de sua população vivia, durante a semana, não na vila, propriamente, mas nas fazendas e aldeias das redondezas. Aos domingos e feriados, para ouvir missa, é que essa gente punha os pés em São Paulo. Portanto, para que a vila não fizesse má figura durante as celebrações de final de ano, os oficiais da Câmara, naquele distante 1602, mandaram que uma providência essencial fosse tomada de imediato:
"Aos quatorze dias do mês de dezembro de mil e seiscentos e dois anos, nesta vila, na casa da Câmara dela, estando aí os oficiais da Câmara José de Camargo e Francisco da Gama, vereadores, e Francisco Velho, juiz, e João de Santana, procurador, [...] acordaram o seguinte, que se mandasse lançar pregão que carpam as ruas para a festa [...]." (¹)
Pensem comigo, leitores: se era preciso carpir as ruas para a festa, como eram elas habitualmente? Eram os próprios moradores que executavam o trabalho de manutenção, fazendo-o por si mesmos ou por meio de seus escravos ou "administrados" (²). A Câmara era pobre, muito pobre, como já mostrei em outros textos neste blog, e não dispunha de funcionários para fazer a conservação de áreas públicas. Ao menos neste caso, a religiosidade imperante na época devia ser motivo para que a limpeza das ruas se fizesse sem muitos protestos. Era o espírito do Natal em ação, à moda colonial.

(1) Este trecho de ata da Câmara de São Paulo foi transcrito na ortografia atual, com acréscimo da pontuação indispensável à compreensão.
(2) "Administrado" era um eufemismo legalmente utilizado na época para se referir ao indígena que, na prática, era escravizado por um colonizador.


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terça-feira, 21 de dezembro de 2021

De que madeira eram feitas as bateias usadas por mineradores

Já vai tão longe a época da mineração colonial, que a maioria das pessoas nem faz ideia de que as bateias usadas na procura de ouro eram feitas de madeira. Mas eram, e para quem não sabe o que eram as bateias, digo que eram redondas, um pouco fundas e em formato de funil. Nelas, uma quantidade de água de um rio ou córrego aurífero era habilmente agitada, para que o ouro, separando-se de outros materiais, fosse ao fundo e, assim, recolhido pelo trabalhador.
Quanto à madeira empregada para fazer bateias, vejamos o que disse o barão de Eschwege (¹), que esteve no Brasil durante o governo joanino:
"Esses recipientes [as bateias] foram provavelmente introduzidos no Brasil pelos africanos e aperfeiçoados pelos brasileiros, que os faziam de madeira rija, maiores e de menos fundo. Empregavam sobretudo jacarandá, que não racha facilmente e resiste durante muito tempo, conservando-se sempre liso.
As bateias mais comuns, feitas de gameleira ou de figueira-brava, gastam-se facilmente com o uso. [...]" (²)
Portanto, bateias feitas de jacarandá eram melhores e duravam mais. Como tudo nas minas, deviam ser mais caras que as de gameleira ou figueira-brava. Pode-se supor que as primeiras eram as preferidas dos que recebiam uma "data", como era chamado o terreno aurífero promissor, concedido pelas autoridades coloniais aos que tinham recursos e escravos para explorá-lo. Bateias inferiores, de madeira menos resistente, porém mais fácil de trabalhar para a obtenção do formato adequado, seriam uma opção para aqueles que, fossem livres ou escravos, faiscavam ouro, ou seja, procuravam-no sozinhos e por conta própria em locais desprezados pelos grandes proprietários de minas.

(1) Especialista em minas, foi contratado para estudar o que podia ser feito para revitalizar a mineração no Brasil, que estava decadente nas primeiras décadas do Século XIX. 
(2) ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. Pluto Brasiliensis. Brasília: Senado Federal, 2011, p. 272.


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quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Mulheres romanas se casavam muito cedo

Comparando os costumes dos romanos aos dos gregos de Esparta, Plutarco (¹), que viveu entre os séculos I e II, observou que, por determinação atribuída a Licurgo, as jovens espartanas apenas se casavam quando já estavam fisicamente adultas. Não era assim entre os romanos: "Os romanos costumeiramente casam as filhas quando chegam aos doze anos, e, às vezes, até antes disso" (²).
A razão para essa prática, segundo Plutarco, se encontrava nas leis instituídas pelo rei Numa Pompílio, figura semilendária que teria exercido o governo de Roma depois da desaparição de Rômulo. O modelo de casamento proposto por esse rei, assim como suas ideias em relação à conduta das mulheres, seriam explicação para a entrada precoce das jovens na vida conjugal: Numa "ensinou que [as mulheres] deviam estar sempre sóbrias e ter vida moderada, quis que se habituassem a guardar silêncio e a não fazer uso de vinho, de modo que, para uma mulher romana, beber era indecente" (³).
Duas razões justificariam o casamento aos doze anos:
1. Nas palavras de Plutarco, "os romanos achavam perigoso que virgens já crescidas permanecessem em casa dos pais [sic]" (⁴);
2. Quando a mulher se casava cedo, o marido poderia educá-la como quisesse, de modo a satisfazer suas preferências e interesses: "havia oportunidade para afeiçoá-las aos hábitos do marido, moldando-as como queriam, como se fossem de cera [sic!!!]" (⁵).
Mulher romana não identificada (6).
Romana não identificada (⁶)
Quer os costumes romanos em relação às mulheres e ao casamento viessem de Numa, quer não, uma coisa é certa: a autoridade do pai na família era incontestável, até mesmo no âmbito de vida e morte. Portanto, era o pai que decidia quando e com quem uma filha se casaria, e, embora não se possa descartar elementos de afetividade no relacionamento familiar, está claro que não eram uma prioridade. Não se deve supor, contudo, que não acontecessem exceções, com mulheres se casando mais tarde, com quem queriam, ou mesmo recusando um casamento. Mas casos assim fugiam à regra, principalmente em se tratando da elite senatorial, para quem interesses políticos estavam em jogo em cada aspecto da vida. 
Muitos costumes romanos permaneceram ativos no Ocidente, mesmo quando Roma, enquanto império, já havia desaparecido há muito tempo. Querem uma prova, leitores? Muitos exemplos poderiam ser citados, mas basta um. O que me dizem da estrutura familiar predominante no Brasil Colonial, nos grandes engenhos de açúcar, em que os senhores, como regra, exerciam um férreo patriarcado? 

(1) c. 45 - 125 d.C.
(2) PLUTARCO. Vitae parallelae.
(3) Ibid.
(4) Ibid.
(5) Ibid. Todas as citações de Vitae parallelae foram traduzidas por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(6) HEKLER, Anton. Die Bildniskunst der Griechen und Römer. Stuttgart: Julius Hoffmann, 1912, p. 286. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


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terça-feira, 14 de dezembro de 2021

As amazonas, a lagoa dourada e os indígenas que supostamente tinham cauda

O desconhecido sempre faz nascer expectativas. Muitas não passam de fantasias, com pouco ou nenhum sentido de realidade. Foi assim na Antiguidade, quando a maior parte do Continente Africano e do Extremo Oriente era pouco conhecida de gregos e romanos, e continua pelo mesmo caminho até hoje - basta ver o que se supõe sejam os "seres extraterrestres", também chamados de alienígenas. Para os muito fantasiosos, a atual exploração do solo marciano deve ser uma grande decepção.
A Amazônia, com seus rios espantosos e floresta repleta de mistérios, já foi, também, alvo de lendas. A mais famosa, até pelo nome, é sem dúvida a das amazonas, mulheres indígenas que, cansadas da hegemonia masculina, teriam abandonado as aldeias em que viviam para formar uma tribo isolada, na qual não se permitia a presença de homens, a não ser em uns poucos dias a cada ano, para garantir a perpetuação da espécie. Vários autores escreveram sobre elas, afirmando sua existência, segundo depoimento deste ou daquele indígena, cujo pai, avô, tio, havia tido um encontro infeliz com a suposta tribo. Claro, os escritores que falaram delas também nunca tinham visto uma amazona, mas arrazoavam, segundo toda a lógica que conseguiam arregimentar, que elas de fato existiam. Contra essa corrente (de proporções amazônicas), Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio, que foi pessoalmente às povoações da Capitania de São José do Rio Negro entre 1774 e 1775, observou: "Se eu devo agora também dizer o que me parece, confesso que não cabe no meu entendimento igual opinião. E se examinarmos esta matéria pela regra da verdadeira lógica e sólida crítica, devemos assentar que a existência das amazonas da América é uma daquelas preocupações populares, que achando fundamento no maravilhoso, que o povo ama, se propagam com extraordinária facilidade." (¹)
Filho do Século do Iluminismo, Ribeiro de Sampaio andou muito bem nesta questão das amazonas. Foi lúcido, igualmente, ao tratar da lenda da "lagoa dourada", "lago dourado" ou, mais exageradamente, de uma cidade inteiramente de ouro, que se imaginava existir em algum ponto da América do Sul. Não seria antes uma projeção da cobiça de quem queria riqueza rápida e fácil? Era essa a sua opinião: "Enfim o Lago Dourado, se existe, me persuado que é somente na imaginação dos espanhóis, que tenho notícia certa ainda atualmente fazem diligência para achá-lo: mas na verdade esta matéria só deve ser tratada pelo modo alegórico e irônico, com que dela escreveu certo autor famoso (²)". (³)
Contudo, neste mundo, como todos sabem, nada é perfeito. Plínio, o Velho, falando de povos diferentes dos gregos e romanos, que se supunha viverem em terras distantes, listou, entre muitos outros, aqueles que teriam cauda, e talvez suas ideias tenham influenciado Ribeiro de Sampaio. Vejam só, leitores, o que afirmou, fazendo referência a indígenas que viviam na região do rio Juruá: "Diz-se que os índios desta nação têm rabo do comprimento de três e quatro palmos, ou mais. [...] Parecerá esta relação uma fábula, ou para melhor dizer, uma quimera; mas sendo certo que nada tem de impossível [...] está o testemunho de um grande número de índios descidos do Juruá, que conheceram a dita nação, e está sobretudo o incontrastável documento de uma certidão jurada, que eu vi em poder do reverendo visitador e vigário-geral desta capitania [...]." (⁴)
Neste caso, Ribeiro de Sampaio não viu. Mas acreditou, como outros, em seu tempo, ainda criam na existência das amazonas e procuravam a lagoa dourada.

(1) SAMPAIO, Francisco Xavier Ribeiro de. Diário da Viagem que em Visita e Correição das Povoações da Capitania de São José do Rio Negro Fez o Ouvidor e Intendente-Geral da Mesma. Lisboa: Typografia da Academia, 1825, p. 29.
(2) O autor faz referência a Voltaire.
(3) SAMPAIO, Francisco Xavier Ribeiro de. Op. cit., p. 101.
(4) Ibid., p. 54.


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quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Dez fatos interessantes sobre a Guerra do Peloponeso

A chamada "Guerra do Peloponeso", entre 431 e 404 a.C., opôs, é verdade, as cidades-Estado de Atenas - finalmente derrotada - e Esparta. Mas foi muito mais que isso. Aqui estão alguns fatos interessantes sobre esse longo confronto:

1. A causa da guerra seria simplesmente inveja. Essa era a opinião de Tucídides, autor de História da Guerra do Peloponeso, que era ateniense e lutou no conflito, sendo, portanto, dono de um ponto de vista que não pode ser considerado exatamente imparcial: tendo liderado a Grécia na guerra contra os persas, Atenas se tornara senhora de uma poderosa frota e construíra um império, que Esparta e outras cidades invejavam.

2. Não só espartanos e atenienses se envolveram na guerra. Ao longo do conflito, fenícios, persas e habitantes do sul da Itália participaram das ações. Os gregos, que com unhas e dentes haviam defendido sua liberdade diante do ataque do Império Persa, chegaram a negociar com os persas para obter ajuda na manutenção das tropas mobilizadas.

3. Nas forças espartanas, não só esparciatas entraram na luta: hilotas e ex-hilotas, que haviam sido libertados, participaram maciçamente em muitos combates.

4. A guerra, que se pretendia rápida, foi se arrastando, ano após ano. Consultar oráculos era uma prática constante entre os gregos, e alguns teriam previsto que duraria três vezes nove anos.

5. A prática de alianças ofensivas e defensivas entre cidades conduziu um número crescente de participantes aos campos de batalha, porque quando uma localidade era atacada, suas aliadas corriam a socorrê-la, já que tinham interesses em comum.

6. Gregos eram apaixonados por ouvir grandes oradores, que tiveram muita importância durante a guerra, por sua capacidade de convencer os cidadãos reunidos em assembleia quanto à validade de seus pontos de vista.
  
7. Devastar as terras cultivadas por cidades inimigas foi uma prática usual durante toda a guerra; o saque de tudo o que podia ter utilidade foi também muito frequente. Nem é preciso dizer que esses procedimentos contribuíram muitíssimo para enfraquecer a Grécia diante de seus vizinhos.

8. Fogueiras, à noite, eram usadas para sinalização e envio de mensagens entre vários corpos de exército que se achavam espalhados em diferentes localidades.

9. No início da guerra, Atenas era temida por sua força naval. Ao longo dos anos de conflito, seus oponentes aprenderam a construir embarcações melhores e adquiriram habilidade em combates no mar, de modo que chegaram a suplantar as forças atenienses até nesse meio.
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10. A guerra foi algumas vezes interrompida por períodos de trégua formal. As alianças entre cidades, bem como suas consequências, foram importantes para a ruptura da paz e o reinício das hostilidades.


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terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Rotina de trabalho nas casas de fundição

As casas de fundição não eram repartições públicas muito apreciadas. Era nelas que todo o ouro encontrado devia, obrigatoriamente, ser convertido em barras com o selo real, e nelas, também, era descontado o imposto sobre o ouro (os famigerados quintos). Existiam, portanto, para a cobrança de impostos e para impedir o contrabando de ouro. Como tudo o mais no Brasil Colonial e mesmo mais tarde, estavam longe de realizar integralmente o que se pretendia. 
Eram estabelecimentos que poderiam muito bem trabalhar com poucos funcionários, mas não era esse o caso. Os empregados eram numerosos e, a depender do cargo que ocupavam, recebiam salários elevados. Como, gradualmente, a produção das minas foi declinando, o trabalho nas casas de fundição diminuiu, mas os funcionários continuaram lá. Durante o Governo Joanino o crescimento numérico do funcionalismo público foi explosivo, e as casas de fundição chegaram ao ponto de não arrecadar impostos em valor suficiente para cobrir os custos de seu próprio funcionamento. 
Especialistas foram contratados na Europa para a introdução de técnicas mais modernas de exploração aurífera. Um deles, o barão de Eschwege, logo descobriu o minucioso trabalho das casas de fundição, mas onde pouco se realizava, porque pouco ouro havia para quintar. Anos mais tarde, de volta à Alemanha, escreveu: "A organização das Casas de Fundição é excepcionalmente simples; o pessoal, porém, é numeroso e complicado. Há os escritórios, onde o ouro levado pelos mineiros é pesado e quintado; o forno refratário, onde é fundido, e, em seguida, restituído; uma câmara de ensaio, onde é provado [...]. Isso constitui o essencial na Casa de Fundição [...]" (¹).
Havia todo um processo burocrático até que, descontados os reais quintos, o ouro voltasse às mãos do proprietário: "A quantidade de ouro, por menor que seja, entregue pelo dono, é fundida barra por barra. Esta é então encaminhada ao ensaiador, que determina o seu título e nela imprime as armas reais, o quilate e o peso, entregando-a de novo ao proprietário, com uma guia que deve acompanhá-la sempre, e na qual são também inscritos o valor, o peso e o título" (²).
Já que não havia muito serviço, seria razoável fechar as casas de fundição de pouco movimento e demitir os funcionários dispensáveis. Essas medidas, contudo, iriam na contramão do que acontecia na Corte do Rio de Janeiro (³), de onde, afinal, vinham as ordens para as minas. Portanto, na época, não se viam mudanças no horizonte.

(1) ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. Pluto Brasiliensis. Brasília: Senado Federal, 2011, p. 214.
(2) Ibid.
(3) Ao funcionalismo já existente no Brasil adicionou-se, em 1808, todo o que veio do Reino em companhia da Família Real. Nos anos seguintes, muitos outros funcionários foram admitidos, em uma política de proliferação da burocracia que teve impacto significativo na sociedade brasileira, com consequências que - acreditem - podem ser observadas até hoje.


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quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Algumas razões para as guerras por território na Antiguidade

Ninguém precisa gastar muito tempo em observação para perceber que o planeta em que vivemos apresenta uma grande variedade de paisagens. Alguns lugares são altamente favoráveis à sobrevivência de seres humanos, enquanto outros não são muito promissores. Há lugares, até, em que é quase impossível viver. Tecnicamente, dizemos que uma região favorável é "ecúmena", enquanto as desfavoráveis são chamadas "anecúmenas".
Tentem agora, leitores, visualizar grupos humanos que viveram em tempos remotos (históricos ou mesmo pré-históricos). Se uma comunidade fosse nômade e praticasse a caça, por exemplo, como fonte de subsistência, provavelmente iria entrar em conflito com qualquer outro grupo que tentasse habitar o mesmo território. Vê-se, pois, que não era questão de um grupo ser mais ou menos amistoso. Era a sobrevivência que estava em jogo. Uma guerra, ainda que de pequenas proporções, poderia ocorrer sempre que dois ou mais grupos humanos entrassem em disputa por um dado território. Valia o mesmo quanto às pastagens, se uma comunidade fosse voltada ao pastoreio, ou às áreas de cultivo, sempre que a agricultura fosse praticada e um grupo invasor tentasse ocupar um território já habitado, no todo ou em parte. 
Morte de Saul, rei dos hebreus, em campo de batalha, 
de acordo com Gustave Doré (*)
Por suposto as guerras, nesse tempo, não se faziam com armas de fogo, muito menos com bombas atômicas. As batalhas eram travadas com pedras, hastes de madeira, arcos e flechas, e a grande vantagem estaria com aqueles que já fizessem uso, ainda que rudimentar, de algum tipo de metal. Mais tarde viria a cavalaria e, com ela, os carros de guerra - carroças, se quiserem -, mas ainda assim um diferencial importante para quem dispusesse de tal recurso. O resultado de um combate podia vir na forma de crânios esfacelados, braços e pernas triturados, dentes a menos, feridas que eventualmente terminavam em uma infecção letal. Não era pouco, convenhamos. Aos derrotados competia cair fora, tão rápido quanto possível, se é que tinham juízo. Com os vitoriosos ficavam as comemorações enaltecendo a supremacia tribal, com direito à aclamação dos heróis do combate, uma prática que, no futuro, teria imitadores e consequências nada desprezíveis.
Será que mudamos muito ao longo dos milênios? Dificilmente dois países entrarão em conflito, hoje, por território de caça, ou por alguns palmos a mais de pastagens verdinhas para as ovelhas e cabras. As armas, por sua vez, já não se mostram tão inocentes quanto as de outrora. Por que matar um inimigo de cada vez, quando se pode eliminar multidões? Brigar por espaços na Terra já anda até causando tédio. Que tal transferir as conflagrações para o Sistema Solar? Isso já vem acontecendo há tempos em séries de televisão e em jogos eletrônicos... Só falta passar à vida real. A ideia não é mesmo para surpreender a quem quer que seja.

(*) Essa é uma concepção artística de Gustave Doré, que viveu durante o Século XIX. É pouco provável que os hebreus, na época que se atribui ao reinado de Saul, contassem com cavalaria para uso militar.


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