segunda-feira, 25 de março de 2024

Cupins

Terrivelmente destrutivos, os cupins tinham uma função importante na preservação das estradas brasileiras até o Século XIX


Cupinzeiro
A simples menção da palavra "cupim" pode provocar uma reação negativa em quem já teve móveis ou casa de madeira arruinada por eles. Não há limite à voracidade desses isópteros. Contudo, já houve quem visse neles uma incrível utilidade, no tempo em que havia poucas e péssimas estradas no Brasil, continuamente em risco de deixarem de existir pela expansão das florestas que as cercavam. 
Ao viajar pelo interior do Brasil pouco depois da Independência, o brigadeiro Cunha Matos pôde observar a ação dos cupins sobre troncos que caíam em caminhos, já, de si mesmos, precários:
"Os caminhos abertos a machado em toda a extensa região da serra, só merecem o nome de estradas no Brasil há pouco saído dos braços da natureza. [...] A Providência criou nestes lugares o benéfico e voraz cupim, que, na habitação do homem, se reputa um ente mui fatal. É a este pequeno inseto que se deve a pronta corrupção dos imensos troncos que os séculos, as estações, o fogo e os meteoros (¹) naturais lançam por terra, e que, a não ser aquele diminutíssimo inseto, obstruiriam as estradas [...]." (²)  
Cupinzeiro (outro "modelo")
Assumindo que talvez nem todos os seus leitores soubessem exatamente o que eram os cupins de que falava, Cunha Matos passou, em seguida, a descrevê-los.
"Estes animalejos", disse ele, "vivem em república que se assemelha à das abelhas; as suas casas, as suas galerias, os seus armazéns [sic] são admiráveis; a mesma contextura do edifício mostra a ciência do grande Arquiteto que os ensinou. [...]" (³).
Quem poderia lutar contra os cupinzeiros? Havia na fauna brasileira um ser com essa capacidade: 
"[...] Uma matéria glutinosa liga o pó da terra e as mais pequenas fibras da madeira, e forma um betume [sic], que só não escapa à dura e recurvada unha do tamanduá, que introduzindo a delgada língua nas galerias, recolhe ao estômago os vorazes insetos [...]." (⁴)
(1) "Meteoro", no sentido usado por Cunha Matos, designa fenômenos como chuva, granizo, vento e outros mais. 
(2) MATOS, Raimundo José da Cunha. Itinerário do Rio de Janeiro ao Pará e Maranhão Pelas Províncias de Minas Gerais e Goiás. Rio de Janeiro: Typ. Imperial e Constitucional, 1836, p. 42.
(3) Ibid.
(4) Ibid.


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