No Brasil do Século XIX, ostentar religiosidade fazia bem à imagem pública de qualquer pessoa - com fé ou sem ela. Por isso, em ocasiões em que tradicionalmente as práticas religiosas eram lutuosas, ninguém que se pretendesse respeitável fugia à obrigação de aparentar tristeza. Era o que acontecia nas Sextas-feiras Santas.
O olhar observador de um mercenário alemão que esteve no Brasil entre 1824 e 1826, C. Schlichthorst, captou esta imagem em palavras, a partir do que acontecia no Rio de Janeiro, capital do Império:
O olhar observador de um mercenário alemão que esteve no Brasil entre 1824 e 1826, C. Schlichthorst, captou esta imagem em palavras, a partir do que acontecia no Rio de Janeiro, capital do Império:
"Na Sexta-feira da Paixão, todas as igrejas se cobrem de preto, os altares, as alfaias de prata e ouro se envolvem em crepes, e toda a gente põe luto. De cinco em cinco minutos, as fortalezas e navios de guerra salvam com um tiro de canhão. Põem-se as bandeiras a meio pau e braceiam-se as vergas nos navios de guerra. Para onde quer que se volva o olhar, veem-se sinais da mais profunda tristeza. [...]" (*)Era, como já foi dito, tristeza aparentada, como mandava a boa conduta, não necessariamente tristeza sentida. Nesse tempo, o catolicismo era religião oficial. Explica-se, portanto, que a necessidade de ostentar luto fosse muito além do espaço das igrejas, alcançando, também, as unidades militares em terra e no mar.
(*) SCHLICHTHORST, C. O Rio de Janeiro Como É (1824 - 1826), trad. Emmy Dodt e Gustavo Barroso. Brasília: Senado Federal: 2000, p. 118.
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