domingo, 20 de janeiro de 2013

Pessegueiros, macieiras, laranjeiras...

Ao percorrer Minas Gerais e São Paulo entre 1821 e 1822, Auguste de Saint-Hilaire, naturalista francês, observou que eram cultivadas árvores frutíferas de origem europeia e/ou asiática, tendo o cuidado de anotar a época em que algumas delas floresciam e frutificavam. Eis o que ele escreveu, então, estando na chamada Serra da Juruoca (MG):
"O pessegueiro e a macieira dão bons frutos e em casa do vigário comi excelentes uvas." (¹)
Já na cidade de São Paulo, na qual esteve (pela segunda vez) pela época da Páscoa de 1822, observou: 
"Os pessegueiros florescem, informaram-me, pelo mês de agosto, perdendo, então, a folhagem, que é, em pouco tempo, substituída por novas folhas. As laranjeiras, os limoeiros, figueiras, romeiras, ameixeiras, damasqueiros, marmeleiros, nogueiras e castanheiros fornecem, anualmente, em fevereiro ou março, com maior ou menor abundância, seus frutos, uns bons, outros medíocres. Em fins de novembro de 1819, as macieiras e as amoreiras estavam ainda em plena floração. [...] Em São Paulo a videira só frutifica uma vez por ano, ficando despojada das folhas durante todo o tempo do frio. A floração começa, segundo me informaram, pelo fim do mês de outubro e os frutos amadurecem em janeiro ou fevereiro. De todas as árvores frutíferas o pessegueiro é a mais comum e a que melhores resultados dá, não somente nas vizinhanças de São Paulo, e também em todo o Brasil extratropical." (²)
Alguns desses cultivos são ainda hoje importantes, ao menos no Estado de São Paulo, para consumo dentro do próprio Brasil. Outros, quase desapareceram, a não ser em pomares de gente que aprecia ter sua própria produção doméstica de frutas.
Desde os tempos coloniais, é bom lembrar, manifestava-se já a tendência, que depois muito se acentuou, de concentrar a agricultura comercial em poucos produtos (chegou-se a uma quase monocultura), voltada para a exportação e não para o consumo interno.  Dois desses itens de exportação - café e cana-de-açúcar - não eram também nativos do Continente Americano.
De qualquer forma, parecia muito mais interessante conservar o foco em produtos tropicais, cujo cultivo não demandava excessivos cuidados, com lavouras mantidas à custa do trabalho escravo, do que investir em plantar alimentos para atender à população local, coisa que dava muito menos lucro. Sabe-se que, a despeito das enormes possibilidades oferecidas pelo vasto território do Brasil, em muitos lugares a alimentação de "gente comum" não ia muito além de milho, mandioca e feijão. Essa prática iria durar ainda muitas décadas, com consequências nada agradáveis.

(1) SAINT-HILAIRE, A. Segunda Viagem a São Paulo e Quadro Histórico da Província de São Paulo. Brasília: Ed. Senado Federal, 2002, p. 64.
(2) Ibid., pp. 199 e 200.


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