Descalço, um homem caminha entre as pedras, até que chega ao lugar preferido, mais ou menos um quarto de légua abaixo da cachoeira. Nesse ponto o rio não é nem muito largo e nem muito fundo, mas costuma render, às vezes, até um bom dourado. Aí, lança o anzol e deixa o pensamento voar.
Já se haviam passado uns dez anos desde que ouvira falar que tinham achado ouro no sertão. Gente que, ano após ano, aumentava os calos manejando a enxada, agora só pensava em enriquecer depressa. Contavam-se histórias maravilhosas de pepitas enormes, encontradas assim, quase na superfície da terra, sem muito trabalho. Com isso a vila ia ficando despovoada, ao menos de homens. Ouro, ouro, era só sobre ouro que se tagarelava, e quase todos os que tinham forças suficientes se juntavam às levas de sonhadores no caminho das minas. Depois de vender os poucos pertences, ainda que já não havia quase interessados em negociar, ele havia comprado algumas ferramentas e, tendo amarrado bem os sacos de couro com farinha e feijão, colocara tudo às costas de um pobre burrico e lá se fora.
A maior parte dos aventureiros deixava para trás a família, prometendo enriquecer e voltar logo, embora tanto os que iam como os que ficavam se despedissem disfarçando a consciência de que talvez nunca mais se vissem. Ele não sabia dizer como lhe dera na cabeça levar também a mulher e os filhos que, resignados, haviam suportado a marcha rumo ao desconhecido, os dias de calor, as noites gélidas, as feridas nos pés, a comida que ia se acabando, as picadas dos mosquitos, as febres. Com a picareta que imaginara procurar o ouro, havia cavado o último berço para o seu menorzinho, cujo sono fora entregue à guarda de uma cruz improvisada que, bem sabia, logo seria coberta pelo mato.
Com as roupas em trapos, haviam, afinal, chegado à terra dos milagres auríferos. Mas, crua decepção... Ouro, mesmo, era para quem tinha muitos escravos e explorava uma data rentável, não para ele, que era livre, mas só podia contar com os próprios braços para procurar a riqueza nos riachos que não interessavam aos poderosos. É verdade que, esporadicamente, algum faiscador achava uma quantidade de ouro suficiente para melhorar de vida, fazendo renascer a esperança (quem sabe, a credulidade), entre o povo miúdo. Era assim também com ele.
Já se haviam passado uns dez anos desde que ouvira falar que tinham achado ouro no sertão. Gente que, ano após ano, aumentava os calos manejando a enxada, agora só pensava em enriquecer depressa. Contavam-se histórias maravilhosas de pepitas enormes, encontradas assim, quase na superfície da terra, sem muito trabalho. Com isso a vila ia ficando despovoada, ao menos de homens. Ouro, ouro, era só sobre ouro que se tagarelava, e quase todos os que tinham forças suficientes se juntavam às levas de sonhadores no caminho das minas. Depois de vender os poucos pertences, ainda que já não havia quase interessados em negociar, ele havia comprado algumas ferramentas e, tendo amarrado bem os sacos de couro com farinha e feijão, colocara tudo às costas de um pobre burrico e lá se fora.
A maior parte dos aventureiros deixava para trás a família, prometendo enriquecer e voltar logo, embora tanto os que iam como os que ficavam se despedissem disfarçando a consciência de que talvez nunca mais se vissem. Ele não sabia dizer como lhe dera na cabeça levar também a mulher e os filhos que, resignados, haviam suportado a marcha rumo ao desconhecido, os dias de calor, as noites gélidas, as feridas nos pés, a comida que ia se acabando, as picadas dos mosquitos, as febres. Com a picareta que imaginara procurar o ouro, havia cavado o último berço para o seu menorzinho, cujo sono fora entregue à guarda de uma cruz improvisada que, bem sabia, logo seria coberta pelo mato.
Com as roupas em trapos, haviam, afinal, chegado à terra dos milagres auríferos. Mas, crua decepção... Ouro, mesmo, era para quem tinha muitos escravos e explorava uma data rentável, não para ele, que era livre, mas só podia contar com os próprios braços para procurar a riqueza nos riachos que não interessavam aos poderosos. É verdade que, esporadicamente, algum faiscador achava uma quantidade de ouro suficiente para melhorar de vida, fazendo renascer a esperança (quem sabe, a credulidade), entre o povo miúdo. Era assim também com ele.
A mulher, no entanto, já não tinha dessas fantasias. Esperava, no casebre que haviam construído, algum peixe para o jantar. Uma fisgada mais forte na linha o faz voltar à realidade. Será um jaú? Vai puxando com cuidado. A piapara que se contorce é jogada no cesto. Um leve sorriso lhe faz cair do canto da boca o cigarrinho de palha.
Veja também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.