quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

A educação das meninas espartanas

A educação das meninas espartanas era assunto de Estado, tanto quanto a dos meninos. Não se esperava, como regra geral, que aprendessem o manejo das armas para a ida aos campos de batalha; contudo, deviam realizar exercícios físicos que fizessem delas mulheres saudáveis, capazes de gerar filhos adequados às exigências militares de sua cidade-Estado.
Se podemos crer no que Plutarco escreveu em Vitae parallelae, Licurgo, o legislador de Esparta, determinou que as meninas "ao contrário do que sucedia em outros lugares, não permanecessem desocupadas em casa, mas deviam exercitar o corpo em corrida, luta, lançamento do dardo e no tiro com arco. Desse modo, seriam tão fortes quanto os rapazes, e seriam aptas a resistir às dificuldades que sobreviessem. [...] Licurgo pensava que as jovens habituadas a esses exercícios [...] seriam posteriormente mais fortes e capazes para resistir às dores do parto" (¹). Portanto, sem mais rodeios, a educação das meninas tinha por objetivo garantir a contínua produção de novos soldados para Esparta.
Não menos curioso é que Licurgo, rompendo com a tradição grega que ordenava às mulheres que cobrissem a cabeça quando em público, teria determinado que as jovens e mulheres espartanas não deveriam fazê-lo. Voltemos a Plutarco: "[Licurgo] fez com que as jovens espartanas, à semelhança dos rapazes, se habituassem a estar com a cabeça descoberta nos lugares públicos [...], com toda a honestidade e respeito, diante da presença dos anciãos e cidadãos de renome. [...] O costume de terem [as meninas] a cabeça descoberta não era fruto de leviandade, mas, [...] com essa prática, estavam sempre limpas e eram tão fortes quanto os rapazes" (²).
Essa educação tinha impacto considerável no comportamento das mulheres espartanas quando adultas. Ainda conforme Plutarco: "Conta-se que Górgona, mulher de Leônidas, ao ter em certa ocasião a companhia de uma estrangeira, foi por ela questionada quanto aos costumes que vigoravam em Esparta, dizendo que, ao que parecia, as mulheres da Lacônia tinham autoridade sobre os maridos. A isso a espartana teria respondido: Não se espante. É que somente nós trazemos homens ao mundo" (³). Como negar, então, que meninas e mulheres de Esparta tinham uma condição muito diferente daquela que podia ser encontrada no restante da Grécia Antiga?

(1) PLUTARCO, Vitae parallelae. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História e Outras Histórias.
(2) Ibid.
(3) Ibid.


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