segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Um cardápio pra lá de estranho

Alguns itens curiosos incluídos na alimentação dos missionários jesuítas que viviam no Brasil durante o Século XVI



Anchieta no Brasil, representado
 entre animais (¹)
É certo que europeus que andaram pelo Brasil no Século XVI tiveram que engolir, literalmente, muita coisa estranha, e isso por um fator bem simples: sobrevivência. Muitos dos antigos hábitos e costumes lusitanos quanto à alimentação ficaram no Reino, já que em terras brasílicas quase nada se achava que parecesse com a comida dos portugueses. Com o tempo, diversos cultivos europeus foram adaptados à América, e animais criados para abate, como bois, cabras, ovelhas e porcos, foram trazidos e multiplicados nos domínios coloniais.
Mas enquanto isso não acontecia...
Enquanto isso não acontecia, colonizadores, marinheiros, funcionários públicos, condenados ao degredo,  missionários (particularmente os jesuítas), com criatividade e, por vezes, com inspiração nos hábitos indígenas, trataram de desenvolver o que poderíamos chamar de "cardápio colonial de emergência". Gostaram do nome, leitores? Aceito sugestões de quem tiver uma ideia melhor, mas, com base em uma carta escrita por José de Anchieta, estando ele em São Vicente no final de maio de 1560, passo a mostrar em que consistiam, vez por outra, as especialidades culinárias de quem estava determinado a sobreviver no Novo Mundo. 

1. Onças
"Encontram-se também entre nós as panteras, das quais há duas variedades: umas são cor de veado, menores essas e mais bravias; outras são malhadas e pintadas de várias cores, destas encontram-se em todos os lugares. Os machos, pelo menos, excedem no tamanho a um carneiro, embora grande, pois as fêmeas são menores. São em tudo semelhantes aos gatos e boas para se comerem, o que experimentamos algumas vezes (...)." (²)

2. Tamanduás
"Há também outro animal de feio aspecto, a que os índios chamam tamanduá. (...) Tem o pescoço comprido e fino, cabeça pequena e mui desproporcionada ao tamanho do corpo, boca redonda, tendo a medida de um ou, quando muito, dois anéis, a língua distendida tem o comprimento de três palmos só na porção que pode sair fora da boca, sem contar a que fica para dentro (que eu medi), a qual costuma, pondo-a para fora, estender nas covas das formigas, e logo que estas a enchem por todos os lados, ele a recolhe para dentro da boca, e esta é a sua refeição ordinária (...). É saborosíssimo; dirias que é carne de vaca, sendo todavia mais mole e macia." (³)

3 . Macacos
"Há uma infinita multidão de macacos, dos quais se contam quatro variedades [sic], todas elas mui próprias para se comer, o que muitas vezes provamos; é comida mui saudável para doentes [sic!]." (⁴)

4. Tatus
"Existe também outro animal muito comum entre nós, chamam-no tatu, que habita pelos campos em covas subterrâneas, e quase semelhante aos lagartos pela cauda e cabeça [sic]. (...) É de delicioso sabor." (⁵)

5. Papagaios
"Os papagaios são mais comuns aqui do que os corvos, e de diferentes espécies, todos bons para se comerem (...)." (⁶)

Muitos outros autores, tanto do Século XVI como dos subsequentes, relataram, em seus escritos, estes e outros usos alimentares, mas acredito que os que foram citados aqui já são suficientes como amostragem.
É evidente que no Século XVI não havia na Terra de Santa Cruz/Brasil nenhuma entidade ou órgão público em defesa da fauna nativa, tampouco estavam os colonizadores preocupados com a eventual extinção de algumas espécies, até porque, no Continente Americano, tudo se dizia "infinito". Portanto, na falta da alimentação habitual, não havia muito escrúpulo em mandar para a panela qualquer coisa que parecesse estar em condições virar comida, fosse ela boa ou má.

(1) VASCONCELOS, Pe. Simão de S. J. Vida do Venerável Padre José de Anchieta. Lisboa: Oficina de Ioam da Costa, 1672. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) ANCHIETA, Pe. Joseph de, S. J. Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1933, p. 116.
(3) Ibid., p. 118.
(4) Ibid., p. 120.
(5) Ibid., pp. 120 e 121.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Historiadores eternos

De acordo com Políbio de Megalópolis, historiador grego que viveu no Século II a.C., "Éforo (¹) afirmou que o melhor modo para conhecer os fatos seria que os próprios historiadores viessem a presenciá-los" (²).
Ora, senhores leitores, essa ideia de que historiadores, para bom desempenho de seu trabalho deveriam ser testemunhas oculares dos fatos de que tratam, dá muito o que pensar. Ao que parece, Políbio devia ser um adepto de tal ponto de vista, uma vez que boa parte de sua obra trata das Guerras Púnicas (264 - 146 a.C.), das quais foi, parcialmente, um contemporâneo. Nós, porém, podemos extrair disso ao menos duas possibilidades de interpretação:
Primeira - Os historiadores deveriam trabalhar apenas com a chamada História Contemporânea (a cada um deles, claro);
Segunda - Como nenhuma máquina do tempo jamais foi inventada, e para não ficarem restritos a uns poucos acontecimentos de intervalos de tempo muito curtos, os historiadores deveriam ser eternos.
Podem rir, leitores, que já retomo a seriedade que o assunto requer. Como a segunda hipótese jamais se verificou, vamos à análise da primeira, apenas.
É evidente que parte considerável da motivação para a pesquisa histórica está relacionada à curiosidade em relação ao passado remoto. Éforo e Políbio viveram em uma época na qual os recursos técnicos para a investigação de tempos longínquos não estavam, em grande parte, disponíveis, daí ser mais fácil para eles tratar de coisas que haviam presenciado ou para as quais ainda havia testemunhas vivas e que podiam ser consultadas. No entanto, para nós, hoje, é excelente que assim tenham pensado - investigamos o passado dispondo, dentre outras ferramentas, dos escritos que deixaram, forjados sob o calor dos acontecimentos, e que constituem, ao lado das obras de muitos outros autores, preciosos documentos de que ainda nos servimos. 

(1) Provável referência a Éforo de Cime, que viveu no Século IV a.C.
(2) O trecho citado é tradução de Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.


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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O pão dos pobres

Lucas Rigaud foi um chef de cozinha que viveu em tempos da segunda metade do Século XVIII e princípio do XIX. Destacava-se por ter sido o cozinheiro de várias casas reais europeias e, nessa rota, acabou trabalhando para suas Majestades Fidelíssimas, os reis de Portugal. Publicou um livro, Cozinheiro Moderno ou Nova Arte da Cozinha, que teve várias edições - afinal, um grandíssimo sucesso, em uma época na qual muita gente era analfabeta.
Pois foi nesse livro que, depois de explicar que o Pão da Rainha "amassa-se com um pouco de sal e fermento de cerveja", que o famoso Rigaud passou a explicar em que consistia o pão da gente pobre do Reino:
"As gentes do campo e a pobre fazem pão de centeio, de trigo misturado com cevada, de milho, de arroz, de castanhas; e outros frutos e raízes para se remediarem em tempos de fome e carestia." (¹)
No Brasil as coisas seriam diferentes. O trigo, cultivado inicialmente na Capitania de São Vicente e, mais tarde, no Rio Grande do Sul, não era suficiente para atender ao consumo de toda a população colonial. Assim, um hábito alimentar indígena - o consumo de farinha de mandioca - seria, em muitos lugares, adotado em lugar do pão, e isso independente de riqueza ou pobreza. Era contingência da colonização. Nieuhof, que esteve no "Brasil Holandês" entre 1640 e 1649, assinalou, em relação aos indígenas que "a natureza [...] lhes deu certo arbusto, cuja raiz, depois de seca e assada, como fazemos ao nosso pão, constitui o alimento comum aos habitantes da América" (²)
Quer os colonos gostassem, quer não, o uso da mandioca e de seus subprodutos foi dominante por muito tempo e, em algumas regiões do Brasil, tem grande importância até hoje.

(1) RIGAUD, Lucas. Cozinheiro Moderno ou Nova Arte da Cozinha 5ª ed. Lisboa: Typografia Lacerdina, 1826, p. 186.
(2) NIEUHOF, Joan. Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil. São Paulo: Livraria Martins, s.d., p. 282.


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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Faca de tropeiro

Caravana de tropeiros descansando em um rancho, de acordo com Rugendas (¹)

Quando as ferrovias não existiam, o transporte de cargas no Brasil era feito por meio de tropas de muares. À noite, os tropeiros juntavam-se em ranchos muito simples, nos quais podiam preparar a comida e ter algum descanso, mas, invariavelmente, também passavam horas tocando viola e cantando. Daí talvez é que que venha a visão um pouco romântica que vulgarmente se tem deles. 
A verdade, porém, era outra. As estradas da época eram péssimas, isso quando existiam. Percorrer caminhos tão ruins requeria gente rude, capaz de suportar grandes adversidades. O estilo de vida seminômade que levavam favorecia, não raro, que delitos praticados por tropeiros nunca tivessem os responsáveis capturados e punidos. São frequentes os relatos, principalmente do Século XIX, que dão conta de fraudes, furtos e mesmo assassinatos perpetrados pelos condutores de tropas de muares. Não obstante, seria pouco razoável supor que a totalidade dos tropeiros era composta por delinquentes. Longe disso.
Devido às dificuldades dos caminhos que devia percorrer, sendo às vezes preciso desbastar vegetação espessa, todo tropeiro tinha uma ferramenta indispensável, conhecida como "faca de tropeiro". Daniel P. Kidder, missionário e pastor metodista que esteve no Brasil entre 1837 e 1840, descreveu-a assim:
"Todos eles [os tropeiros] trazem grande facão de mato preso à cinta, do lado de trás. Essa faca de ponta talvez seja para eles de maior utilidade ainda que para o marinheiro. Serve para cortar madeira, consertar arreios, cortar carne e, em caso de necessidade, para se defenderem ou mesmo assaltarem. A lâmina tem uma curva toda especial, e, para ser boa, precisa ter resistência suficiente para cortar um bom pedaço de cobre sem quebrar nem entortar." (²)
Cada tropeiro devia ter grande apreço per essa arma/ferramenta, pelo que Kidder ainda diria:
"Sendo a faca sua companheira inseparável, tem esta frequentemente o cabo de prata e às vezes a bainha do mesmo metal, conquanto em geral seja usada nua." (³)
Seria necessário dizer que a tal ferramenta era, afinal, também muito útil para impor respeito?

(1) RUGENDAS, Moritz. Malerische Reise in Brasilien. Paris: Engelmann, 1835. O original pertence ao acervo da Biblioteca Nacional; a imagem foi editada para facilitar a visualização.
(2) KIDDER, Daniel P. Reminiscências de Viagens e Permanência no Brasil. 
Brasília: Senado Federal, 2001, pp. 177 e 178.
(3) Ibid., p. 178.


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sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Dez fatos interessantes sobre guerras da Antiguidade

Estão aqui alguns fatos interessantes, registrados por cronistas e historiadores da Antiguidade, que podem ser úteis para quem quiser visualizar mentalmente como eram as guerras daqueles tempos remotos.

1. Tiglate-Pileser, rei da Assíria, quando pretendia arrasar uma cidade ou não conseguia conquistá-la, mandava cortar todas as árvores que havia ao seu redor.

2.  Nas guerras da Antiguidade não era incomum a participação de fundeiros, ou seja, soldados que atiravam com fundas (como Davi contra Golias...). Ocorre que a técnica, por assim dizer, foi aperfeiçoada, de modo que, ao tempo dos romanos, já não eram atiradas pedras, e sim bolas de chumbo.

3. Uma prática muito comum nas guerras da Antiguidade, tendo em vista enfraquecer o(s) inimigo(s), consistia em roubar as colheitas e depois inutilizar os campos de cultivo enchendo-os de pedras.

4. De acordo com Júlio César, em seus Commentarii de Bello Gallico, os belgas eram os mais valentes de todos os moradores das Gálias, uma vez que não eram acostumados ao consumo de coisas delicadas, pois os mercadores raramente iam ao seu território.

5. Também de acordo com César, os gauleses, que eram muito altos, zombavam dos romanos, a quem consideravam "baixinhos".

6. Políbio de Megalópolis afirmava que as tropas comandadas por Cipião, o Africano, quando atacaram Cartagena (durante as Guerras Púnicas), eram compostas por vinte e cinco mil soldados de infantaria e dois mil e quinhentos de cavalaria, com seus respectivos cavalos, por suposto.

7. Ainda Políbio: as tendas dos cartagineses em seus acampamentos militares eram feitas de folhas e ramos de árvores.

Um soldado romano, de acordo com desenho
em uma parede de Pompeia (*)
8. Durante as Guerras Púnicas, percebendo os romanos que as vitórias dos cartagineses vinham em razão da superioridade de sua cavalaria, trataram de destruir os campos de onde provinham o feno e a cevada para os cavalos. A prática dava resultado porque era bastante difícil trazer de longe a forragem para os animais.

9. Tácito, historiador romano, no livro segundo dos Annales, afirmou que os germanos não eram, em relação aos romanos, menos valentes no combate; porém as armas e táticas dos romanos mostravam-se superiores, vindo daí sua vantagem.

10. As vitórias de César nas Gálias foram comemoradas em Roma durante quinze dias; segundo o próprio César, nunca antes havia ocorrido entre os romanos uma celebração assim, mas, posteriormente, outras comemorações ordenadas pelo Senado, também por conquistas de César, duraram nada menos que vinte dias.

(*) PARTON, James. Caricature and Other Comic Art. New York: Harper & Brothers, 1877, p. 15. Este desenho teria sido feito provavelmente por um soldado romano, na parede de um alojamento militar em Pompeia (portanto, antes que a cidade fosse destruída pelo Vesúvio em agosto de 79 d.C.).


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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Recrutados à força para a luta pela Independência

Hoje temos algo para quem acha que a totalidade dos que lutaram na guerra de independência fizeram-no por devoção patriótica. 
Foi o Brigadeiro Cunha Matos (¹) quem observou, ao viajar pelo interior do Brasil em 1823:
"Às quatro horas da tarde chegaram a esta casa um sargento, dois cabos e oito soldados do regimento de Cavalaria de Minas, conduzindo vinte e cinco recrutas encorrentados pelo pescoço [sic] e dois voluntários sem prisão [...]." (²)
Tentem imaginar, leitores, quão dispostos à luta estavam os recrutados, a ponto de ser necessário acorrentá-los!...
Não foi este o único caso. O mesmo Cunha Matos também registrou em seu Itinerário:
"...Às nove horas e vinte minutos encontrei uma leva de quinze recrutas, que seguiam para o Rio de Janeiro por ordem do capitão-mor da Vila de São Bento de Tamanduá, conduzidos pelo alferes de granadeiros do Regimento de Milícias da mesma vila. Este quinze recrutas, um dos quais se mutilou em um pé para não servir [sic], completam os cem que foram detalhados à Capitania-Mor." (³)
Esses não eram casos isolados. Ao contrário, repetiam-se em quase todo o Brasil, e embora houvesse gente disposta, de livre vontade, a lutar pela independência, a maioria da população tinha horror ao recrutamento. 
Afinal, tudo se explicava: Cada região tinha uma quota de recrutas que devia remeter à capital e, assim, os infelizes capturados à força eram, sob o mais severo tratamento, obrigados a pegar em armas, a tal ponto que havia quem julgasse preferível uma mutilação e consequente invalidez a ter de juntar-se às tropas do Império recém-nascido. Cunha Matos sabia de um grupo enorme de recrutas enviados ao Pará, dos quais apenas oitenta chegaram vivos e "tão doentes e com tão grandes papeiras (⁴) que causaram horror, por ser moléstia ali desconhecida. O general do Pará maltratou estes desgraçados, e a maior parte deles pereceu miseravelmente." (⁵)
Cenas como essa, em maior escala e com maior gravidade, iriam repetir-se décadas mais tarde, por ocasião da chamada Guerra do Paraguai, durante o recrutamento para compor os batalhões de Voluntários da Pátria. Como é sabido, não eram exatamente voluntários, a despeito do nome e das exceções.

(1) Português de nascimento, Cunha Matos veio ao Brasil ao tempo de D. João VI; acabou aderindo à independência do Brasil e ocupando cargos no Império.
(2) MATOS, Raimundo José da Cunha. Itinerário do Rio de Janeiro ao Pará e Maranhão Pelas Províncias de Minas Gerais e Goiás. Rio de Janeiro: Typ. Imperial e Constitucional, 1836, p. 24.
(3) Ibid., p. 57.
(4) Bócio, por carência de iodo na alimentação.
(5) MATOS, Raimundo José da Cunha. Op. cit., p. 236.


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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Iluminação noturna: das lâmpadas a óleo à luz elétrica

Iluminação pública com azeite de peixe, de acordo com José dos Reis Carvalho (¹)

"Já viram lâmpada sem óleo conservar a sua luz?" (²), perguntou Joaquim Manuel de Macedo. Sim, no passado o óleo, independente de que tipo fosse, era a chave para manter as lâmpadas acesas quando chegava a noite, trazendo consigo a escuridão. E tudo foi muito escuro por milênios, a não ser pelas velas ou lâmpadas a óleo ou azeite. Quem saía às ruas nas horas da noite precisava levar consigo algum tipo de lanterna ou lampião, e mesmo assim era difícil enxergar além da distância suficiente para alguns passos. Compreende-se, pois, porque é que a maioria das pessoas evitava sair quando escurecia. Era mesmo muito arriscado.
Séculos não muito distantes de nós trouxeram consigo a iluminação de rua, que faz recordar aquele trechinho de Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas:
"Eu deixei-me estar com os olhos no lampião da esquina, - um antigo lampião de azeite, - triste, obscuro e recurvado, como um ponto de interrogação."
Com os lampiões de rua vieram também os acendedores de lampiões, que deviam fazer seu trabalho todo final de tarde. No Brasil, os lampiões da iluminação pública foram, por muito tempo, abastecidos principalmente com óleo de baleia (³).
Posteriormente as cidades passaram a ter um sistema mais moderno de iluminação, no qual os lampiões funcionavam a gás. Nessa época, mesmo sendo escassa a iluminação, uma cidade, à noite, parecia muito brilhante, quando contrastada à escuridão que imperava ao seu redor. Ora, se não temos hoje ideia do que significava isso, já que vivemos em um mundo no qual a regra é o excesso de luzes e não a falta delas, temos, ao menos, um relato interessante do pintor francês François A. Biard, que esteve no Rio de Janeiro em 1858:
"Numa curva do caminho descortinei um espetáculo soberbo: lá em baixo todas as ruas iluminadas, toda a cidade verdadeiramente feérica. Os lampiões a gás espalhados pelas montanhas, como as de Santa Teresa, do Castelo e Glória, destacavam-se no céu, misturavam-se com as estrelas, no meio das quais o Cruzeiro do Sul brilhava como uma cruz de fogo." (⁴)
O aparecimento da luz elétrica tornou mais confortável a circulação pelas ruas das cidades em horário noturno, ainda que não tenha, necessariamente, significado maior segurança (não por culpa da luz, porém). A beleza das luzes urbanas quase apagou, no entanto, um espetáculo ainda mais belo - o do céu noturno, cada vez mais difícil de ser observado, a não ser muito longe das áreas densamente povoadas.

(1) Obra de José dos Reis Carvalho, 1851. O original pertence à BNDigital; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) MACEDO, Joaquim Manuel de. Um Passeio Pela Cidade do Rio de Janeiro. Brasília: Senado Federal, 2005, p. 381.
(3) Lampiões a querosene também foram usados.
(4) BIARD, François A. Dois Anos no Brasil. Brasília: Ed. Senado Federal, 2004, p. 39.


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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A razão para o sucesso de Roma em dominar os povos vizinhos

Políbio de Megalópolis, um grego que viveu no segundo século antes de Cristo, afirmava que, em seus dias, havia ocorrido, no plano político e militar, o maior prodígio jamais presenciado, ou seja, "todas as partes conhecidas do universo vieram a ser um só império, fato sem antecedentes na História" (*). Referia-se, naturalmente, à República Romana - lembremo-nos de que, nesse tempo, Roma ainda era uma República, e, internamente, seria assim considerada, mesmo quando os imperadores já mandavam e desmandavam à vontade.
Procurando explicar o sucesso dos romanos em dominar a vizinhança, Políbio dizia que Roma, quando empreendeu guerras de conquista, não atacava isoladamente um outro reino ou império, como faziam os impérios que vieram antes dela, mas era capaz de fazer guerra simultânea e vitoriosa em vários lugares, localizados bem longe uns dos outros.
Cabe observar, no entanto, que o historiador grego tinha um conceito de universo diferente daquele que empregamos hoje, fato que pode ser facilmente compreendido se levarmos em conta que gregos e romanos conheciam muito pouco das terras que compõem o planeta em que vivemos. Para ele, o território dominado pelos romanos era todo o "cosmos". Não lhe passava pela cabeça que, para além das terras conhecidas, talvez existissem outras, com outros povos e - por que não? - outros impérios.

(*) A citação de Políbio é tradução de Marta Iansen para uso exclusivo no blog História & Outras Histórias.


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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Tijolos de adobe

O tempo necessário para o estabelecimento de uma nova povoação por colonizadores no Brasil podia variar bastante, mas é certo que entre as primeiras ocupações constavam a derrubada de matas, a construção de algum tipo de abrigo e o início de práticas agrícolas, com o propósito de assegurar a sobrevivência naqueles tempos difíceis. 
Casas deviam ser construídas com o que se achava à mão, de modo que madeira, pedras, folhas de palmeira e argila eram recursos comumente empregados. Não estando disponíveis os tijolos cozidos em fornos, fazia-se uso, em alguns lugares, dos tijolos de adobe. 
O padre Ayres de Casal, referindo-se a certa povoação dos tempos coloniais, escreveu:
"Todas as casas são de taipa ou de adobe, alveadas com tabatinga ou cal de pedra." (¹) 
E, em uma nota explicativa, acrescentou:
"Adobe é um tijolo mui grande, cozido ao sol." (²)
Para dar consistência à argila de que se faziam os tijolos de adobe era comum que a ela fossem adicionados outros materiais, como folhas secas ou palha de milho. O resultado era um material de resistência até surpreendente. 
Já as dimensões dos tijolos de adobe eram muito variadas, e o "mui grande" a que se refere Ayres de Casal dependia da qualidade de massa que era possível obter para o preparo e do tamanho das formas bastante rústicas então empregadas, não desconsiderando, por certo, a habilidade dos humanos envolvidos no trabalho.

Muro do Século XVIII em pedra e adobe, parcialmente reconstruído (Pirenópolis - GO)

(1) CASAL, Manuel Ayres de. Corografia Brasílica  vol. 1. Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1817, p. 300.
(1) Ibid.


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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Arroz para as casas de família e para os escravos doentes

O arroz é considerado um artigo básico de alimentação no Brasil. Frequenta a mesa de todo mundo e será difícil achar alguém que diga: Não gosto de arroz!
Hoje é assim; nem sempre foi. Nos tempos coloniais as farinhas de mandioca e de milho eram os alimentos de consumo generalizado, em lugar do trigo, para tristeza dos colonos, saudosos do Reino. Era difícil substituir o trigo, principalmente na panificação e na confeitaria. Apenas na Capitania de São Vicente é que se cultivava trigo com algum sucesso, talvez pela quase impossibilidade de importações. Bem mais simples era obter farinha de mandioca (que os indígenas conheciam e já dominavam a técnica de produção), ou do milho (¹), que se adaptava muito bem ao clima e solo de boa parte das terras brasileiras. 
O arroz, vindo da Ásia, só aos poucos foi ganhando espaço na dieta regular da população, até por uma questão territorial - a expansão da colônia portuguesa por áreas antes consideradas espanholas revelou locais bastante favoráveis à cultura do arroz. 
Em um pequeno livro datado de 1847, o segundo Barão de Paty do Alferes, Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, escreveu:
"O arroz é também indispensável nas casas de família: serve ele não só para muitos pratos deliciosos, como mesmo para a exportação, para o hospital dos escravos nas moléstias agudas, para os convalescentes, etc." (²)
Seria temeridade, a partir de uma única referência, avaliar a extensão dessa prática: arroz para a mesa dos senhores, mas, para os escravos, só quando estavam doentes. Porém, é fartamente sabido que o arroz não estava incluído na péssima alimentação fornecida, de hábito, ao escravos, cuja finalidade não era agradar ao paladar, e sim mantê-los vivos e trabalhando, pelo menor custo possível. 
Lacerda Werneck abordava a questão do uso do arroz para a realidade de uma fazenda no Rio de Janeiro, sem qualquer pretensão a ditar verdades que fossem válidas para o restante do Brasil. Ficam subentendidos, porém, ao menos dois fatos distintivos entre as fazendas do Século XIX e os engenhos coloniais de cana-de-açúcar:
a) Os fazendeiros do Século XIX evidenciavam uma certa preocupação com a qualidade do alimento de que dispunham para si mesmos, em contraste com a  pobreza nutricional que reinava nas casas de muitos senhores de engenho dos tempos coloniais (³); 
b) Chama a atenção o fato de que, nas fazendas do Império, havia algum cuidado em dar aos escravos doentes condições mínimas para que recobrassem a saúde, coisa que, se devemos crer no testemunho de muitos autores seus contemporâneos, não passaria jamais pela cabeça dos latifundiários de engenhos coloniais, cuja meta era apenas produzir açúcar para exportação. Talvez essa mudança de mentalidade possa ser associada à perspectiva do fim do tráfico de africanos escravizados, que provocava, em meados do Século XIX, certo temor da falta de mão de obra para a lavoura.

(1) O milho é originário da América, ainda que não do Brasil.
(2) WERNECK, Francisco Peixoto de Lacerda. Memória Sobre a Fundação e Custeio de uma Fazenda na Província do Rio de Janeiro 2ª ed. Rio de Janeiro: Laemmert, 1863, p. 93.
(3) Decorrente do hábito de cultivar apenas cana-de-açúcar, sendo negligenciada a lavoura de subsistência.


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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Acessórios dispensados e/ou dispensáveis

A moda só é moda porque é passageira - coisas que todo mundo usa em uma certa época tornam-se ridículas posteriormente. Ou, mesmo que não venham a ser pretexto para riso, são, pelo menos, totalmente dispensáveis, a não ser para quem gosta de vestir-se à antiga ou, talvez, em alguma festa em que se requer o uso de fantasia.
Temos aqui três itens que hoje poderiam bem ser classificados como acessórios dispensados e/ou dispensáveis, mas que no passado já foram parte obrigatória do traje de gente refinada. Vejamos:

a) Suspensórios
O próprio corte das calças já pressupunha o uso de suspensórios. Eles eram, portanto, imprescindíveis no vestuário masculino, e não simplesmente um adorno. Quando as calças mudaram, os suspensórios caíram em desuso.

Propaganda de suspensórios, datada de 1929 (¹)

b) Alfinetes para colarinho
Já neste caso, nem todo mundo usava (até porque, antigamente, havia colarinhos postiços, que eram apenas "encaixados" nas camisas). Alfinetes eram, pois, assim como as abotoaduras, um acessório para ocasiões especiais ou para aqueles que, por razões profissionais, estavam obrigados a usar diariamente um vestuário mais requintado.

Alfinetes para colarinho, de acordo com propaganda de 1930 (²)

c) Luvas femininas
Não estamos a falar de luvas de inverno, mas sim de peças muito delicadas, um verdadeiro luxo, feitas para as madames que não saíam de casa sem elas (assim como eram, pela mesma época, considerados indispensáveis os chapéus). 
Cumpre assinalar que muitos homens também usavam luvas, o que acontecia mesmo sob o sol do verão. Terrível, é certo, mas era o resultado óbvio da mania de copiar a moda vigente em terras distantes. 

Luvas finas para mulheres, propaganda de 1923 (³)
Para quem achar interessante o costume das luvas, devo recordar que a etiqueta recomendava enfaticamente que, ao estender a mão para cumprimentar alguém, era necessário, antes, tirar a luva. Não se esqueçam, portanto, senhores leitores!

(1) A CIGARRA, Ano XVI, nº 362, 1ª quinzena de dezembro de 1929.
(2) A CIGARRA, Ano XVII, nº 373, 2ª quinzena de maio de 1930.
(3) A CIGARRA, Ano XI, nº 222, 15 de dezembro de 1923.


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quarta-feira, 5 de agosto de 2015

A aplicação da justiça no exército romano

Cavaleiros romanos portando insígnias
militares, de acordo com representação
do Século XVII (³)
Foi Sêneca, o célebre professor de Nero, quem, em De ira, relatou esta história terrível, que ilustra perfeitamente como se aplicava a "justiça" no exército romano: quase tudo dependia do estado de humor de quem comandava.
Dois soldados foram juntos procurar alimento para os cavalos. Por algum motivo, distanciaram-se enquanto trabalhavam, de modo que um deles retornou sozinho ao acampamento, sem ser capaz de explicar onde estava o companheiro. Levado à presença do comandante Cneu Pisão (¹), foi sumariamente sentenciado à morte, sob a acusação de ter matado o soldado que desaparecera. 
Ocorre que, estando já pronta a cena da execução, apareceu o outro soldado, vivo e em perfeito estado de conservação, daí porque o centurião houve por bem suspender a aplicação da sentença. Sob as felizes aclamações dos demais soldados, os dois companheiros foram, abraçados, apresentar-se ao comandante que, num acesso de fúria, condenou ambos à morte e, não satisfeito, mandou que também o centurião fosse executado. 
Como era possível tamanho absurdo? 
Eis aqui a explicação que deu o próprio Cneu Pisão:
"Você [o primeiro soldado] deve morrer porque a isso foi condenado; você [o segundo soldado], porque chegando depois foi motivo para que seu companheiro fosse sentenciado à morte; e quanto a você [o centurião] deve morrer porque recebeu de seu comandante uma ordem de execução e deixou de cumpri-la." (²)
Soldados e oficiais estavam, portanto, à mercê de quem comandava, o que nos leva a pensar em duas questões:
- É razoável dar o nome de justiça a uma tal prática?
- Sendo assim a aplicação da justiça no exército (que se constituía em sustentáculo do poder romano), é por acaso surpreendente que os governantes, que muitas vezes chegavam ao poder depois do exercício do comando militar, acabassem, no mando supremo do Império, adotando conduta semelhante à que mantinham na caserna?
Diante de tamanha irracionalidade, o estoico Sêneca observaria:
"O objetivo da razão é tomar uma decisão justa, enquanto que a ira tem como meta fazer passar por justa a sua decisão." (²)

(1) Cerca de 44 a.C. - 20 d. C.
(2) SÊNECA, Lúcio A. De ira. Tradução de Marta Iansen para uso exclusivo no blog História & Outras Histórias.
(3) ROSSI, Filippo de. Ritratto di Roma Antica. Roma: Francesco Moneta, 1645, p. 51. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog. 


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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O Distrito Diamantino e o contrabando de diamantes do Brasil

Restrições severas à extração de diamantes não impediam o contrabando



Escravos trabalhando na mineração de diamantes (¹)

Em fins do Século XVII descobriu-se ouro no Brasil e, um pouco mais tarde, foram também encontradas ricas jazidas de diamantes. Vinha tudo isso em boa hora para a Real Fazenda, de modo que logo foram adotadas algumas medidas para a cobrança dos Reais Quintos de todo o ouro encontrado. Acontece que, a despeito do nome, nem sempre os Reais Quintos eram, de fato, 20 % da produção aurífera, já que acordos entre mineradores e governantes estipulavam, às vezes, um número fixo de arrobas que deveria ser entregue como imposto e, se os Quintos não chegassem a tanto, era feita a famosa "Derrama", ou seja, a cobrança per capita para que a quantidade de ouro se completasse. Havia, também, o recurso às Casas de Fundição, nas quais todo o ouro extraído devia, obrigatoriamente, ser transformado em barras e quintado, proibindo-se o comércio de ouro em pó, a não ser em pequeníssimas quantidades, apenas para os usos quotidianos, relacionados, por exemplo, à aquisição de alimentos. Os "descaminhos do ouro", como se dizia, eram, não obstante, notáveis.
No entanto, se quanto ao ouro os governantes tinham a possibilidade de recorrer às Casas de Fundição, não podiam, evidentemente, fazer o mesmo com diamantes. Não havia como transformá-los em barras, é claro, daí a legislação verdadeiramente draconiana instituída para reger o funcionamento do Distrito Diamantino (²), bem como o transporte dos diamantes das minas para o Rio de Janeiro, de onde deviam seguir, tão rápido quanto possível, para o Reino.
Decidiu-se que os diamantes seriam exclusivamente para a Coroa, o que nos leva à necessidade de uma explicação: as terras governadas por um monarca absoluto eram tidas como sua propriedade. O rei podia, desse modo, dispor das jazidas minerais como bem entendesse, reservando para si o que achasse conveniente. Em poucas palavras, o povo em geral, era formado por vassalos, não por cidadãos, cabendo, pois, acatar, sem discórdias, a vontade do soberano (³). Por outro lado, é certo que El-Rei não viria em pessoa buscar os tais diamantes, de modo que a mineração foi inicialmente cedida, por contrato, a grandes empreendedores; depois, passou a ser feita sob controle direto das autoridades estabelecidas pela Coroa, mediante a Real Extração do Tijuco. 
O Regimento Diamantino (vulgarmente chamado "Livro da Capa Verde"), um dos regulamentos mais odiados de todos os tempos, determinava, dentre outras disposições que:
  • O intendente nomeado pelo governo português tinha autoridade quase ilimitada em sua jurisdição, suas decisões tinham força de lei e não se admitiam advogados que pudessem obstar suas ordens.
  • Apenas o comércio indispensável era permitido dentro do Distrito, já que comerciantes eram vistos como potenciais contrabandistas de diamantes;
  • As pessoas, não importando quem fossem, somente podiam entrar e sair do Distrito mediante autorização do Intendente;
  • Somente podia residir no Distrito Diamantino aquele que provasse que ali tinha ocupação legítima, sendo permitido ao intendente expulsar quem quisesse, não cabendo jamais qualquer apelação;
  • O garimpo por indivíduos ou pequenos grupos de trabalhadores era estritamente proibido;
  • Era também proibida a extração de ouro onde fosse constatada a existência de diamantes;
  • Quem fosse capturado extraindo diamantes sem autorização era sumariamente condenado a penas severas, que incluíam dez anos de degredo na África, além da óbvia apreensão dos diamantes que em seu poder estivessem.
Com regras assim, não seria surpresa a ocorrência de inúmeras arbitrariedades. No entanto, para desespero da Real Coroa e de sua Real Extração, o contrabando ocorria, e a prova palpável dele era a entrada de diamantes provenientes do Brasil, de maior qualidade que os remetidos a Lisboa, em mercados na Inglaterra e na Holanda. E, naturalmente, por menor preço. 
Joaquim Felício dos Santos, em suas Memórias do Distrito Diamantino, observou: 
"Em todos os tempos, em todas as circunstâncias, na demarcação nunca deixou de haver garimpeiros e contrabandistas: era só questão de mais ou menos." (⁴) 
E ainda acrescentou: 
"O diamante, mercadoria de peso e volume insignificante em proporção do valor, era de facílima ocultação: ia muitas vezes cosido na roupa, dentro de uma abertura praticada no cabo de um punhal, na coronha de uma arma, na madeira dos móveis; o contrabandista dispunha de mil maneiras de o transportar ocultamente." (⁵)
Os métodos inadequados de exploração das jazidas de diamantes resultaram em seu rápido esgotamento, ao menos sob o aspecto comercialmente viável. Pela época da vinda da Família Real ao Brasil (1808) os rendimentos que proporcionavam eram pequenos, não chegando a compensar as despesas que, diga-se de passagem, eram, a essa altura, já pouco significativas. Com isso, a brutal severidade do Regimento Diamantino foi posta de lado, não sendo a Intendência tão estrita em fazê-lo observar como nas décadas precedentes. Um pouco depois da Independência o desenhista francês Hércules Florence, membro da Expedição Langsdorff, observou:
"Todos os mineiros são obrigados a vender os diamantes e ouro que extraiam ao governo. No tempo colonial pesadas penas, como confisco, prisões e ferros por muitos anos, foram infligidas aos que eram pilhados a fazer contrabando. Hoje, porém, essa prática da legislação caiu em desuso." (⁶)
Vê-se, então, que, em se tratando de História, não há opressão que não tenha fim. Algum dia tudo muda ou (se) acaba. É só uma questão de tempo, mesmo.

(1) DENIS, Ferdinand. Brésil. Paris: Firmin Didot Frères, 1837. A imagem foi restaurada digitalmente e editada para facilitar a visualização neste blog.
(2)  Área demarcada exclusivamente para a extração diamantífera
(3) Apesar disso, sempre havia contestadores, muitos discretos, uns poucos mais explícitos.
(4) SANTOS, Joaquim Felício dos. Memórias do Distrito Diamantino da Comarca do Serro Frio. Rio de Janeiro: Typographia Americana, 1868, p. 203.
(5) Ibid., p. 205.
(6) FLORENCE, Hércules. Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829. Brasília: Ed. Senado Federal, 2007, p. 149.


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