quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Por que Aníbal não atacou Roma?

Aníbal atravessando os Alpes, de acordo com
um cartunista do Século XIX (⁴)
A travessia dos Alpes (¹) em 218 a.C. por um exército de homens, cavalos e nada menos que trinta e oito elefantes, sob a liderança de Aníbal Barca, pode ser classificada como uma das maiores loucuras de todos os tempos. Mas aconteceu. E então, superadas dificuldades terríveis, a Península Itálica e o domínio de Roma pareciam estar à inteira disposição do general cartaginês e de suas tropas. Tito Lívio (²), historiador romano, escreveu: "Depois de incrível esforço e trabalho, chegou Aníbal à Itália, cinco meses após deixar Cartagena, tendo gasto quinze dias na travessia dos Alpes." (³)
Era a Segunda Guerra Púnica. Vencendo sucessivas batalhas, as forças de Cartago chegaram muito perto de Roma. A conquista da cidade se mostrava iminente. Aníbal, todavia, nunca desfechou o ataque decisivo. Por quê? 
É possível que o notável comandante cartaginês tivesse conhecimento de fatos que tenham permanecido incógnitos para os autores da época, a cujos registros temos de nos reportar. Não teria ele confiança suficiente em suas tropas? Teria sido vítima do medo do próprio sucesso? Ou, talvez, a conselho de algum oráculo, tenha protelado o ataque para uma data supostamente mais favorável, deixando passar sua única oportunidade real de conquistar Roma?
Tudo o que se pode afirmar, no estágio atual dos conhecimentos, é: não se sabe ao certo. 
Políbio de Megalópolis (⁵), cuja História cobre muitos acontecimentos relacionados às Guerras Púnicas, observou: "Qualquer um louvará a maestria de Aníbal na arte da guerra, podendo dizer, sem receio de erro, que se houvesse começado suas ações em outros lugares e finalmente concluísse atacando Roma, teria sido vitorioso; porém, como começou por onde deveria terminar, Roma foi berço e túmulo de seus projetos." (⁶) De acordo com Tito Lívio, Maharbal, um dos homens de maior confiança no estado-maior de Aníbal, teria dito: "Os deuses não dão tudo ao mesmo homem. Sabes vencer, Aníbal, mas não és capaz de fazer uso da vitória." (⁷).

(1) A controvérsia quanto à rota adotada tem alimentado polêmicas e preenchido muito papel, tanto manuscrito quanto impresso, mas, a despeito disso, parece estar longe de terminar.
(2) 59 a.C. - 17 d.C.
(3) TITO LÍVIO. Ab urbe condita libri.
(4) BECKETT, Gilbert Abbott à et LEECH, John. The Comic History of Rome. London: Bradbury, Evans and Co., 1851, p. 173. (A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog).
(5) c. 203 a.C. - 120 a.C.
(6) POLÍBIO. História.
(7) TITO LÍVIO. Op. citOs trechos citados das obras de Tito Lívio e Políbio de Megalópolis foram traduzidos por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.

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