Percorrendo o Brasil Central pouco depois da Independência, o Brigadeiro Cunha Matos (¹) chegou à moradia de um matador de onças. É isso mesmo! O sujeito não apenas matava onças, mas, além disso, ainda conservava as cabeças das felinas como troféus, segundo relatou o militar luso-brasileiro:
"[...] Cheguei ao sítio denominado Fazendinha, pertencente a Adão José da Silva, homem pardo, estropiado pelas onças de que foi o mais famoso matador da Província, e cujos troféus (as cabeças) conserva espetadas em estacas junto à choupana em que habita." (²)
"Estropiado pelas onças" - quem imaginaria outra coisa? Pois vai aqui uma de suas histórias de caçador, à qual o próprio Cunha Matos achava difícil dar crédito, mesmo afirmando que o narrador parecia digno de confiança. Vamos ao caso.
Foi-se o caçador um dia à procura de uns queixadas, encontrou-os, mas ao invés de conseguir abatê-los, foi por eles perseguido, a ponto de ter de subir em uma árvore para se proteger. Os queixadas, porém, não lhe davam trégua, fazendo, embaixo da árvore, o enorme barulho que lhes é característico quando estão em grandes bandos. Então... Segue a narrativa de Cunha Matos:
"[...] Sentiu cair-lhe sobre a cabeça [do caçador] uma coisa líquida como água, e olhando para cima viu uma grande onça acuada, assentada sobre outros braços da mesma árvore. A fortuna permitiu que os porcos depois de inúteis esforços se retirassem, e ele Adão descendo da árvore, matou à espingarda a onça a que estivera tão chegado." (³)
É, como eu disse, leitores, uma história de caçador.
(1) Militar português, aderiu à Independência do Brasil e ocupou cargos importantes no Império.
(2) MATOS, Raimundo José da Cunha. Itinerário do Rio de Janeiro ao Pará e Maranhão Pelas Províncias de Minas Gerais e Goiás. Rio de Janeiro: Typ. Imperial e Constitucional, 1836, p. 181.
(3) Ibid.
Veja também:
Uma história de caçador, sem dúvida. Mas que fascina.
ResponderExcluirUma boa semana, Marta :)
Sim, não faz parte da "Grande História", mas é útil quando queremos entender melhor como vivia a gente comum do interior do Brasil no começo do Século XIX.
ExcluirHahaha, caçadores e pescadores sempre têm estórias e casos parecidos.
ResponderExcluirAinda que haja um fundinho de verdade, a tentação de exagerar é grande.
Homens!
Abraço, querida Marta
Ruthia d'O Berço do Mundo
Ora, eu avisei que era história de caçador...
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