terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O lixo nas margens do rio Tietê e as sacolas plásticas de supermercado



A vista acima é bem bonita, não? Foi fotografada em janeiro deste ano, e mostra o rio Tietê como é visto por quem passa pela rodovia SP 312, também chamada Estrada-Parque (ou ainda Estrada dos Romeiros). A paisagem parece perfeita, com a serenidade do rio neste trecho emoldurada pela floresta. Entretanto, a realidade, observada, digamos, com lente de aumento, é muito diversa. Quem, na ocasião examinasse o lugar com cuidado, logo veria, agarrados às raízes das árvores, milhares e milhares de saquinhos plásticos, as famosas "sacolinhas de supermercado", cujo uso, desde o dia 25 de janeiro de 2012, se pretende oficialmente abolido no Estado de São Paulo.
Neste detalhe da primeira foto,
os pontos brancos 
junto à margem
são sacolas plásticas.
Ora, como é que esses sacos plásticos chegaram a uma área  escassamente habitada? Resposta simples: foram trazidos com as águas das chuvas abundantes nessa época do ano. Mãos absolutamente descuidadas e inconsequentes devem tê-los deixado em vias públicas, fazendo a enxurrada o restante do trabalho.
Discute-se ainda se a supressão dos saquinhos em supermercados resolverá o problema, já que eles ainda continuarão em uso em outros setores do comércio. Argumenta-se, também, que a decisão de não fornecer embalagens plásticas nos supermercados irá acarretar desemprego no setor de produção desses saquinhos. Por isso, não sabemos ainda se estamos ou não diante de uma solução para o problema, que, por outro lado, nem existiria, se um pouco de civilidade e educação ambiental convencesse os maus usuários a mudar de postura, minimizando o uso de saquinhos plásticos e, em nenhuma hipótese, deixando-os em qualquer lugar. De qualquer modo, houve prazo mais do que suficiente para uma adaptação, e só o tempo poderá mostrar os verdadeiros resultados.

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No ano passado, durante o feriado de Corpus Christi, passei por uma pequena cidade do interior de São Paulo, na qual a população estava dando os últimos retoques nos tapetes de rua para a procissão. Estacionei, desci e fui percorrer algumas quadras, para ver o trabalho que se fazia - é manifestação popular interessante, variando a qualidade do trabalho de acordo com a habilidade de quem executa a tarefa. Pois bem, em meio a uma longa extensão de tapetes de temática sempre religiosa e sem grandes novidades, encontrei este aqui, diferente, é verdade, mas não despropositado:


Achou que eu havia mudado de assunto? De jeito nenhum! O fato é que os artistas anônimos desse tapete deram seu recado: Afinal, que qualidade de vida queremos para este nosso mundo? Por mais que se diga que só temos este planeta para habitar, a degradação ambiental persiste, tanto por parte de indivíduos como por grandes conglomerados industriais e, embora isso não seja nenhuma novidade no Brasil (*), chega a ser surpreendente que se fale tanto no assunto e, ao mesmo tempo, se trate as implicações práticas a ele relacionadas com tanto descaso. A questão dos saquinhos plásticos é apenas uma parte, até bem pequena, do problema. Os resultados, no entanto, são catastróficos. Basta olhar para as margens do Tietê.

domingo, 29 de janeiro de 2012

A transição dos meios de transporte com tração animal para os automóveis

Caminhão Chevrolet 1927 (¹)

A transição dos transportes movidos pela força de animais (carroças, troles, carruagens, bondes, etc) para os automóveis  fez-se, como só poderia ter sido, lentamente. Durante muito tempo a convivência foi inevitável, e ainda hoje, em alguns lugares, pode-se ouvir, eventualmente, um som de patas de cavalo no asfalto. E, embora não pareça agora muito evidente, em princípio a situação foi desfavorável para os automóveis.
Anúncio de automóvel e pneus (²)
Primeiro, se o veículo, que por si só já despertava curiosidade, viesse a apresentar um problema mecânico, era uma verdadeira sensação. E, nessa hora, que fazer? Era pouco provável a existência de um profissional especializado e que pudesse dar solução ao problema, de modo que o ousado condutor precisava, até por segurança, conhecer bem o funcionamento de sua "máquina". Oficinas com gente capacitada foram surgindo, como não poderia deixar de ser, à medida que o número de automóveis justificava o empreendimento.
Bomba de gasolina
dos anos 20 (¹)
Além disso, ruas e estradas - as poucas estradas existentes -  não eram feitas para o tráfego de automóveis. Nas áreas urbanas, era preciso conviver com a multidão de cavalos, burros, mulas e com pedestres (humanos, por suposto), estes últimos completamente desabituados à velocidade dos automóveis que, pelos nossos padrões, seria irrisória, mas não pelos padrões da época. Acrescente-se a isso a quase inexistência de sinalização de trânsito e ter-se-á a fórmula perfeita da confusão.
Finalmente, quem tinha a coragem de meter-se em uma nuvem de pó estrada afora, precisava ter, de sobra, o combustível necessário à viagem, já que eram pouquíssimos os locais de abastecimento. Problemas à parte, no entanto, basta olhar agora para qualquer rua, mesmo nas mais pacatas localidades, e logo se verá quem levou a melhor nesta história.

Anúncio de automóvel Ford (³)

(1) O caminhão Chevrolet 1927 e a bomba de gasolina pertencem ao acervo do Museu Histórico e Geográfico de Monte Sião, MG.
(2) A CIGARRA, 29 de agosto de 1914.
(3) A CIGARRA, 21 de abril de 1915.


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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Pilões e monjolos

Pilão manual (⁴)
Os pilões são usados no Brasil desde tempos remotos, principalmente para moer o milho. Já os monjolos, conforme veremos, vieram com a colonização portuguesa. A diferença entre pilões e monjolos está no fato de que os últimos fazem o trabalho de vários pilões. Mas não é só. Enquanto os monjolos funcionam com base na força da água, os pilões pressupõem que seres humanos consumam muitas calorias para mantê-los em funcionamento.
O primeiro monjolo do Brasil, de acordo com Varnhagen (*), foi, em meados do século XVI, instalado na Capitania de São Vicente, na região do porto de Santos, por ideia de Brás Cubas que, segundo o mesmo autor, foi, na Capitania, o procurador do donatário, Martim Afonso de Sousa, que depois de sua famosa viagem ao Brasil na década de 30 do século XVI, não mais tornou a ver a América.
Vamos ao texto de Varnhagen:
"[...] Nesse lugar adquiriu terras, e se estabeleceu, construindo aí o primeiro monjolo que se conheceu no Brasil, e foi pelos índios denominado Enguá-guassú (pilão grande), nome que primitivamente teve o local, onde depois se fundou a vila chamada de Todos os Santos, hoje cidade de Santos, vila que, por influência do mesmo Cubas, desde logo teve hospital e casa de misericórdia, com os privilégios da de Lisboa por alvará régio." (¹)

Monjolo (⁴)
Sim, leitor, com tão precoce introdução do sistema de moagem por monjolo, cujas vantagens em relação aos pilões manuais são evidentes, seria natural que logo até as mais pequenas povoações fossem todas servidas por alguma dessas maquinazinhas. Mas não foi o que ocorreu, pelo que depreendemos de um relato de Hércules Florence, datado de 1826, anotado durante a Expedição Langsdorff, no qual o então jovem desenhista da Expedição manifesta toda a sua fúria diante da demora em Camapuã para que se preparasse a farinha que usariam ao prosseguir viagem, já que toda ela precisaria ser feita em pilões, por não haver um monjolo na localidade, não economizando no palavreado aos descrever os moradores do lugar. Escreveu ele:
Monjolo, detalhe (⁴)
"Como de Porto Feliz partíramos levando a quantidade de farinha de milho necessária para a viagem até Camapuã, a fim de não carregar demais as canoas, tivemos que encomendar 120 alqueires que os moradores se puseram logo a preparar, desperdiçando contudo muito tempo em socar o milho a poder de braços, porque nem sequer possuem um monjolo, a máquina mais estúpida que jamais foi inventada e que é de uso no interior do Brasil para com o emprego da água pilar arroz e milho.
Existira já um em Camapuã, mas como uma enchente do rio o quebrara, esses desgraçados vadios não tinham pensado em substituí-lo por outro." (²)
A seguir, passa a descrever um monjolo em detalhes, mecanismo pelo qual, aliás, parecia não ter também muito afeto:
Monjolo, detalhe (⁴)
"Consiste em grande e pesadíssima peça de madeira de 25 a 30 pés de comprido que tem numa extremidade uma cuba e noutra um furo, onde se adapta um pilão. Coloca-se tudo isso em equilíbrio debaixo de um veio d'água que caia dentro da concavidade. Quando esta se enche, o peso faz descer um dos braços e subir o outro, isto é, o pilão que esmaga na queda os grãos de milho, mal se entorne a água. Semelhante maquinismo não pode trabalhar senão muito lentamente: medeiam 10 a 12 segundos de uma pancada à outro, e a água não faz a sexta parte do serviço que poderia prestar." (³)
Supõe-se, claro, que nosso irritado artista estivesse a pensar quanto tempo mais seria preciso para que alguém resolvesse instalar um moinho verdadeiro. Mas, pelas alturas do século XIX, em questões relacionadas a novidades tecnológicas, a vida no interior do Brasil corria mesmo muito devagar.

(1) VARNHAGEN, F. A. História Geral do Brasil Antes da Sua Separação e Independência de Portugal Tomo 1, 2ª Edição. Rio de Janeiro: Laemmert, 1877, p. 167.
(2) FLORENCE, Hércules.  Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829. Brasília: Ed. Senado Federal, 2007, p. 67.
(3) Ibid.
(4) O pilão manual pertence ao acervo do Museu de São Pedro (SP); o monjolo pertence ao acervo do Museu Histórico e Geográfico de Monte Sião (MG).


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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Unidades de medida de uso culinário no Século XVIII e início do Século XIX

Quem folheia hoje um livro de receitas culinárias percebe facilmente que muitas das medidas empregadas pertencem ao Sistema Métrico Decimal, que é usado quase no mundo todo. A padronização é vantajosa, pois torna possível a fácil compreensão das medidas, mesmo em textos escritos dentro de culturas muito diferentes entre si. A utilização das chamadas "unidades imperiais" britânicas em poucos países não invalida esse fato.
Entretanto, antes que o uso do sistema métrico se generalizasse, consultar um livro de receitas podia ser uma aventura de resultados práticos um tanto desastrosos, se o cozinheiro ou cozinheira não estivesse devidamente familiarizado com o uso das medidas ali mencionadas. Para ter uma ideia do que isso realmente significava, veja abaixo uma pequena lista de medidas culinárias que estiveram em uso até meados do século XIX, e descubra quantas conhece:

Alcatruz - Concha, balde, colher.

Almude - equivalente a 16,8 litros.

Arrátel - equivalente a 0,459 quilogramas.

Canada - equivalente a 1,4 litros.

Covilhete - pratinho usado para sobremesas ou doces.

Libra - aproximadamente o mesmo que um arrátel, a libra é proveniente do sistema britânico de medidas, valendo aproximadamente 0,453 gramas.

Quartilho - 0,35 litros.

Balança Antiga (*)
O aparecimento no mercado, particularmente desde fins do século XIX, de balanças mais precisas, tanto de uso geral quanto especificamente culinário, bem como a generalização do emprego do sistema métrico decimal, mais prático e lógico, permitiram que gradualmente essas ambiguidades nas medidas fossem acabando. Ainda assim, são ainda usuais em muitos livros de receitas algumas expressões do tipo "uma colher de sopa", "um copo", "uma xícara", "uma colher de café" ou, pior ainda, "uma pitada", "um pouco de" ou "uma porção de". Qual o problema? Há copos e xícaras de diversos tamanhos, as colheres podem estar mais ou menos cheias e a pitada depende da percepção que cada um tem do que seja isso. E pensar qual foi a origem dessa expressão...

(*) A balança da foto pertence ao Museu da Cidade de São Pedro, SP.


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domingo, 22 de janeiro de 2012

Artefatos curiosos de antigamente - Parte 7

Nesta sétima e última postagem da série "Artefatos Curiosos de Antigamente" temos um objeto  inusitado. Diga lá o que é:


Já adivinhou? Trata-se de um farol para bicicleta. Ora, o que há de incomum nisso? Simples, leitor, este farol iluminava com a luz de uma vela!
Se quiser vê-lo "pessoalmente", visite o Museu da Energia, de Itu (SP). De acordo com as informações disponíveis no Museu, esse modelo de farol a vela é de fabricação francesa e esteve em uso entre 1890 e 1915.


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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Artefatos curiosos de antigamente - Parte 6

A menos que você, leitor, seja "do ramo", dificilmente irá identificar com facilidade o monstrinho da foto abaixo:


Eis aí nada mais, nada menos, que uma impressora. Sim, de acordo com o Museu Histórico e Geográfico de Monte Sião (MG), a cujo acervo pertence, essa impressora é de procedência alemã e data de 1860. Não se parece muito com as gigantescas impressoras dos parques gráficos que produzem jornais e revistas em alta velocidade, muito menos com a pequena impressora de uso doméstico ou para escritório que você provavelmente tem junto ao seu computador. E, no entanto, são passados pouco mais de cento e cinquenta anos que, em termos de História, não significam quase nada, o que serve para demonstrar, na prática, as grandes e rápidas transformações que a tecnologia trouxe aos nossos dias.


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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Artefatos curiosos de antigamente - Parte 5

Na postagem anterior vimos dois objetos antigos de uso na cozinha. Ora, leitores, qual o artefato mais indispensável em uma cozinha? Um fogão, talvez!
Embora nas primeiras décadas do século XX muitas casas ainda vivessem às voltas com a fumaça de um fogão a lenha, já havia, por suposto, alternativas. Veremos abaixo três delas, uma das quais tenho certeza que não passaria pela cabeça de ninguém, atualmente.

1. Fogão elétrico


Este modelo é americano, da década de 1910. Pertence ao acervo do Museu da Energia, de Itu (SP).

2. Fogão... a querosene!


O anúncio acima foi publicado na revista paulistana A Cigarra, edição de 30 de dezembro de 1915.

3. Fogão a gás canalizado


Outro modelo americano, também integrante do acervo do Museu da Energia de Itu (SP) e, de acordo com o mesmo Museu, datado de 1928.


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domingo, 15 de janeiro de 2012

Artefatos curiosos de antigamente - Parte 4

Dando prosseguimento a esta série sobre artefatos curiosos de antigamente, temos aqui dois aparelhos para uso na cozinha.

1. Aparelho para fazer suspiros


Certamente, meus leitores, o aparelho devia bater as claras em neve, das quais seriam feitos os suspiros (os doces, naturalmente!). Pode ser visto no Museu Histórico e Geográfico de Monte Sião (MG).

2. Cafeteira elétrica


Ao longo da década de 20 do século XX a indústria americana lançou no mercado uma infinidade de aparelhos elétricos de uso doméstico. Essa cafeteira elétrica é um bom exemplo disso. Segundo o Museu da Energia de Itu (SP), ao qual pertence, data de 1925.


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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Artefatos curiosos de antigamente - Parte 3

O artefato curioso desta postagem deve ser desconhecido para a maioria dos leitores deste blog. Veja se adivinha o que é...
A primeira foto mostra o objeto todo; a segunda, o detalhe mais importante.




E então, que lhe parece?
Trata-se de um aparelho empregado na preparação de hóstias e, de acordo com o Museu Histórico e da Porcelana de Pedreira (SP), a cujo acervo pertence, era usado em fins do século XVIII e/ou início do XIX.


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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Artefatos curiosos de antigamente - Parte 2

Os artefatos curiosos desta postagem pertencem a um mundo que hoje só existe para turismo: o das locomotivas a vapor que percorriam as antigas estradas de ferro.
O primeiro deles é um lampião de sinalização, utilizado por vigilantes das ferrovias:


Já o segundo, quem adivinha? É um macaco específico para uso com locomotivas a vapor. Ambas as peças pertencem ao acervo do Museu Ferroviário de Jaguariúna.



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domingo, 8 de janeiro de 2012

Artefatos curiosos de antigamente - Parte 1

Nesta pequena série os leitores de História & Outras Histórias farão uma visita virtual a artefatos antigos e curiosos, que nos remetem a um mundo em que a tecnologia, como hoje a entendemos, estava apenas engatinhando. Nem por isso seu estudo deixa de ser instrutivo e, por que não? até divertido.

1. Telefone de parede com manivela


Telefonar já foi muito trabalhoso e, no começo, poucos tinham acesso a um aparelho. Este modelo foi parte de um lote de setenta e cinco aparelhos instalados na cidade de Salto (SP), por volta de 1910. Era colocado na parede e, para que funcionasse, tinha uma manivela a ser acionada. A chamada era feita para uma telefonista que devia completar a ligação. Ah, de acordo com o Museu da Cidade de Salto, o número desse aparelho era 49.

2. Banco de praça na cidade de  Araras (SP), com número de telefone


Se o telefone de Salto tinha apenas dois dígitos, esse banco de praça, da cidade de Araras, relembra a era dos três dígitos. Talvez, discar um número, fosse mesmo bem mais fácil do que digitar um hoje. Já completar a ligação... às vezes, só com muita sorte.


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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Trabalhos que eram feitos por escravos no Brasil

Tem-se às vezes a ideia, pela leitura de obras convencionais de História do Brasil, que os escravos, independente de sua origem ou cor, foram elementos secundários na sociedade enquanto durou a escravidão. No entanto, não poderia haver pensamento mais equivocado. A despeito da condição de subordinados que o trabalho servil lhes impunha, os escravos foram absolutamente decisivos para que o Brasil fosse o que é e como é hoje. Vejamos:

1. Indígenas escravizados mostraram aos brancos (bandeirantes) rotas em direção ao interior, naquilo que, aos olhos dos europeus, parecia somente um oceano temível de florestas impenetráveis.
2. Africanos (chamados "da Guiné") conheciam técnicas de extração do ouro de córregos que ensinaram aos bandeirantes. Sem isso, suas buscas por metal precioso teriam ficado restritas a esgaravatar o solo com pedaços de pau.
Escrava, segundo Thomas Ender (*)
3. A quase totalidade dos trabalhadores nos engenhos de açúcar do período colonial era constituída por escravos. Na prática, portanto, eram eles, em grande parte, que de fato produziam o açúcar que, do Brasil, espalhava-se pelo mundo, como bem o assinalou Antonil.
4. Escravos africanos ou indígenas predominavam entre os remadores das canoas e batelões monçoeiros.
5. Nas bandeiras (que, ao contrário das monções, seguiam principalmente por terra), a matalotagem era, via de regra, carregada por escravos.
6. Nas minas, a maior parte do trabalho era sempre feita por escravos.
7. Antes do início da imigração europeia para o Brasil, praticamente todo o trabalho nas fazendas de café era feito por escravos negros.
8. Trabalhadores escravos ergueram quase todas as construções de edifícios públicos e religiosos durante o período colonial e parte considerável do Império. Desnecessário é dizer que, aquelas dentre essas construções que foram preservadas, são hoje um valioso patrimônio que atrai turistas do mundo inteiro e constituem-se em evidência da capacidade da mão de obra cativa empregada em sua edificação.
9. Lavouras de subsistência eram cultivadas frequentemente com emprego de mão de obra cativa, quer de índios, quer de africanos ou seus descendentes, o que resulta na conclusão de que o alimento que chegava à mesa da população era produto, em grande parte, de trabalho escravo.
10. A maior parte do trabalho doméstico era feito por escravos - ou escravas - porque até mesmo os mais pobres de condição livre consideravam indispensável ter pelo menos um cativo para fazer o trabalho "sujo e pesado".

Escravos, segundo Thomas Ender (*)
Fica, pois, estabelecida aqui, a enorme contribuição dada pelos escravizados, fossem de origem indígena ou africana, ainda que a lista acima seja apenas parcial. Por outro lado,  leitor, tudo isso contribuiu para a formação do conceito errôneo de que trabalhar era coisa de escravo, o que redundou em severas consequências na sociedade brasileira, até mesmo a longo prazo. Embora o tema central fosse outro, já abordei a questão na postagem  "Do desprezo pelo trabalho ao orgulho profissional: uma proposta de revolução no ensino técnico". Creio que vale a pena refletir sobre o assunto.

(*) Os originais pertencem ao acervo da Biblioteca Nacional; as imagens foram editadas para facilitar a visualização neste blog.


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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Já licenciou seu carro de bois?

Placas de licenciamento
de carros de bois (²)
Todo ano é a mesma coisa: paga-se o IPVA e, depois, no mês correspondente ao emplacamento, é preciso licenciar o automóvel. Com isso, há quem maldiga os dias de hoje, cheios de impostos e burocracia, como se esses fenômenos fossem exclusivos do século XXI - Não são!
Pode acreditar, leitor, licenciamento não é coisa nova. O que aconteceria se você tivesse, antigamente, digamos, um carro de bois?
Graças à FMB (¹), você estaria isento do IPVA, mas, em muitos lugares, estaria ainda obrigado a licenciar o veículo, para que seu carro de bois pudesse circular livremente pelas vias públicas. E isso até tempos mais ou menos recentes.
Duvida? Veja as fotos e tire suas próprias conclusões.


Placa de licenciamento instalada em um carro de bois (²)

(1) FMB - Força Muscular Bovina.
(2) As placas e o carro de boi emplacado pertencem ao acervo do Museu Histórico e Geográfico de Monte Sião, MG.


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domingo, 1 de janeiro de 2012

Uniformes esportivos no início do Século XX - Parte 3

Nesta terceira e última postagem da série "Uniformes Esportivos no Início do Século XX" veremos algumas fotos curiosas, tanto por modalidades que hoje são relativamente pouco praticadas no Brasil (os três primeiros casos), quanto por uniformes que, para nossos padrões, seriam muito estranhos (o último).

8. Pelota - Já teve uma certa popularidade, mas hoje fica restrita quase exclusivamente a grupos de imigrantes e seus descendentes.

Grupo de praticantes de pelota em São Paulo (¹)

9. Hóquei - Disputado, como a foto mostra, na modalidade de patins de quatro rodas.

Equipe de hóquei do C. A. Paulistano (²)

10. Luta Greco-romana - Esporte muito antigo e extremamente popular em alguns países, já despertou muito interesse no Brasil, mas perdeu espaço para outras lutas, embora ainda chame a atenção como modalidade olímpica.

Competidores brasileiros e estrangeiros praticando luta greco-romana (³)

11. Basquetebol - Sim, leitores, os atletas das modalidades 8, 9 e 10 não chegam a chamar a atenção pelos uniformes. Mas este caso... O basquetebol é extremamente popular no Brasil, tanto nas quadras escolares como pelas equipes profissionais, mas essas meninas que disputaram uma partida em  1919 destacam-se pelos "uniformes" (embora a foto não revele, os dois times tinham cores diferentes: preto e branco e verde e branco) e pelo resultado final, já que o jogo terminou empatado (o que não acontece pelas regras atuais), na contagem de 3 a 3!

Imagens de um jogo feminino de basquetebol (⁴)

(1) A CIGARRA, 1º de maio de 1919.
(2) A CIGARRA, 30 de janeiro de 1918.
(3) A CIGARRA, segundo número de maio de 1920.
(4) A CIGARRA, 1º de setembro de 1919.


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