quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Por que o íbis era sagrado para os antigos egípcios

Íbis-sagrado (Threskiornis aethiopicus)

O Egito da Antiguidade tinha fartura de deuses. Havia divindades para quase tudo, e muitos animais eram considerados a personificação de alguma figura desse tão notável panteão divino. Sorte da bicharada, é claro, que, desse modo, era protegida, recebia um tratamento régio, tinha sacerdotes a seu dispor e, para cúmulo das homenagens, ao morrer, recebia as honras do embalsamamento. O íbis-sagrado (Threskiornis aethiopicus) era apenas um dentre os muitos animais a quem os egípcios veneravam, e o antropomórfico deus Toth era representado com corpo humano e cabeça de íbis.
Toth, deus egípcio com cabeça de íbis (³)
O que teria originado a crença na divindade de animais? Pelo menos no caso do íbis, temos o direito de fazer algumas conjecturas, a partir das observações deixadas por Heródoto (¹) em suas Histórias. Nosso viajante do Século V a.C., infectado por curiosidade insaciável, perguntava, perguntava e perguntava, e ia anotando, para contar depois, tudo o que havia de interessante, segundo seu ponto de vista, nos lugares por onde passava. Constatou, assim, que os egípcios atribuíam ao íbis-sagrado um serviço de suma utilidade: a destruição de serpentes que, sem sua intervenção, infestariam o Egito, levando a morte a muita gente. A divinização dessas aves seria, portanto, consequência do benefício que lhes era atribuído, e era reconhecido, ainda de acordo com Heródoto (²), pelos próprios egípcios de seu tempo.
Por óbvio que seja, deve-se ainda assinalar que os deuses-animais do Egito eram sempre aqueles que estavam por perto: chacais, falcões, gatos, abutres, íbis-sagrados - todos podiam ser facilmente vistos nas redondezas. Seria improdutivo, leitor, procurar no panteão egípcio um deus urso-polar, ou foca, ou arara-canindé, ou ainda onça-pintada. Experiências da vida diária, com suas angústias e expectativas, estavam na base não só das explicações para fenômenos naturais, como das crenças religiosas que norteavam a existência de quem dependia do Nilo, cujas águas fertilizavam o solo, e, a cada ano, renovavam as esperanças dos homens e favoreciam a proliferação dos animais. 

(1) 485 - 425 a.C.
(2) Histórias, Livro II.
(3) BUDGE, E. A. Wallis. The Gods of The Egyptians vol. I. London: Methuen & Co., 1904.



Veja também:

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Prova de revezamento praticada por indígenas

Provas de revezamento são emocionantes. Os melhores e mais velozes atletas são selecionados para compor cada equipe, e cuidado especial é dado ao treinamento para a passagem do bastão que, em competições oficiais, tem cerca de 30 cm de comprimento e massa de 50 gramas. O menor erro pode ser catastrófico: até os atletas mais experientes acabarão derrotados se não houver perfeição na transferência do bastão ou, se, por infelicidade, um membro do time deixar o bastão cair, perdendo tempo precioso para recuperá-lo. 
Pois bem, meus leitores, indígenas do Brasil tinham também uma competição de revezamento (¹), para a qual se preparavam com pinturas corporais feitas com urucum. A prova que realizavam os índios conhecidos como "barbados", habitantes do Maranhão, tinha caráter esportivo, ainda que a principal finalidade fosse exercitar os homens para que, em caso de guerra, pudessem exibir a melhor forma física. Lembremo-nos, de passagem, que havia um objetivo semelhante nos jogos olímpicos dos antigos gregos, fato que explica a natureza das competições então realizadas. Mas voltemos à prova de revezamento dos ameríndios, assim descrita pelo padre José de Moraes na História da Companhia de Jesus na Extinta Província do Maranhão e Pará, ao afirmar que o grupo em questão era composto por "guerreiros, exercitando-se uns com outros em exercícios de trabalho e experiências de forças, como é carregar aos ombros de uma para outra parte pesadíssimos troncos de palmeiras, e na mesma velocidade da carreira passarem-nos aos dos companheiros, com tal destreza, que embora ofendam aos ouvidos com o desentoado dos gritos, não deixam de agradar aos olhos com este seu jogo da barra, pela ligeireza aonde melhor experimentam as suas valentias [...]". (²)
Sutil diferença: de um bastão de 30 cm para um tronco de palmeira... Considerando um e outro caso, a intersecção talvez esteja no entusiasmo dos competidores e da torcida.

(1) Fica aqui uma palavra de apoio e estímulo as jogos e competições ainda realizados por povos indígenas.
(2) MORAES, José de S.J. História da Companhia de Jesus na Extinta Província do Maranhão e Pará. Rio de Janeiro: Typographia do Commercio, 1860, p. 389. 


quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Hierarquia social no Império Asteca

Hernán Cortés e seu bando começaram a enfrentar o Império Asteca em 1519, percebendo que, para isso, podiam contar com a ajuda de povos vizinhos, cansados dos pesados tributos a que estavam sujeitos e dos contínuos sacrifícios humanos, cujas vítimas deviam fornecer. Depois de várias escaramuças e de luta renhida pelo controle de Tenochtitlán (a capital asteca), o pequeno exército espanhol venceu. Simplificando bastante, a sociedade que os invasores encontraram (e destruíram) era assim organizada:
  • 1. Imperador, cujo cargo era vitalício. O sucessor de um imperador era escolhido dentro da família real, mas não precisava, necessariamente, ser filho do antecessor.
  • 2. Mulher-serpente, que, a despeito do título, era um homem, e, em nome do imperador, exercia liderança em várias situações da vida diária. Havia também Conselheiros civis e/ou militares e sacerdotes importantes, que assessoravam o imperador em suas decisões (o próprio imperador, antes de ocupar o cargo, era educado como guerreiro e sacerdote).
  • 3. Nobreza, constituída principalmente por altos funcionários e governadores provinciais. De um modo geral, os sacerdotes, bastante numerosos, eram também contados entre os nobres. A nobreza estava isenta de impostos e detinha a propriedade de terras.
  • 4. Povo comum, constituído por homens livres. Alguns trabalhavam na terra, outros eram artesãos (hereditariamente), ou ainda comerciantes.
  • 5. Escravos, que podiam ser tanto estrangeiros aprisionados em alguma guerra, como astecas que, empobrecidos, tinham tantas dívidas que, para pagá-las, eram obrigados a trabalho compulsório. Havia astecas que, sendo livres, preferiam ser reduzidos à condição de escravos, para que, dessa forma, tivessem alimento provido por seu senhor.
Notem, leitores, que a estratificação social vigente entre os astecas pode ser comparada à de vários povos, a começar pela Antiguidade. Com as devidas ressalvas, não lembra, por exemplo, a do Egito Antigo?  Havia, porém, na sociedade asteca, um aspecto que a distinguia de muitas outras: a possibilidade, ainda que pequena, de ascensão social. Um jovem comum, talvez filho de camponeses, podia chegar a ser um nobre, se demonstrasse bravura e competência nas guerras frequentes em que os astecas se envolviam, a fim de dominar outros povos, enfraquecendo-os, e obrigando-os ao pagamento de tributos.


Veja também:

terça-feira, 18 de setembro de 2018

A canjica dos indígenas de São Paulo

Canjica branca
Indígenas faziam canjica - foi o que disse Manoel da Fonseca, jesuíta do Século XVIII - explicando tratar-se de "guisado especial de São Paulo, e mui próprio de penitentes [sic!]. Consta de milho grosso de tal sorte quebrado em um pilão, que tirando-lhe a casca e o olho, fique o mais quase inteiro" (¹). E acrescentou:  "É manjar tão puro e simples que, além da água, em que se coze, nem sal se lhe mistura." (²)
Sob tal preparo é que a canjica era usada pelos índios como alimento, ainda de acordo com o padre Manoel da Fonseca: "É sustento próprio de pobres, pois só a pobreza dos índios e a falta do sal por aquelas partes podiam ser os inventores de tão saboroso manjar" (³). Deixando de lado o sarcasmo da explicação, cumpre notar que, para o jesuíta, o jeito certo de preparar canjica devia ser com adição de sal. Reajam como quiserem, leitores.
Canjica amarela
Mais tarde, os colonizadores se encarregariam de fazer canjica com leite e açúcar (⁴). Desse modo, chegou a ser muito apreciada. Hércules Florence, desenhista francês que passou por São Paulo com a Expedição Langsdorff em 1825, relatou: "A princípio achei esse manjar singular, mas com o correr dos tempos habituei-me tanto a ele como se fora natural do país" (⁵). Opinou, também: "Com açúcar e leite é coisa deliciosa." (⁶) 
Hoje há quem faça canjica adicionando leite condensado, leite de coco, coco ralado, canela, amendoim e outros ingredientes mais. A nomenclatura também varia um pouco, de acordo com a região. Não sei se deu para notar, mas não gosto muito de canjica. No entanto, este blog, como sabem, é um espaço democrático para debates e, por isso, fiquem os leitores à vontade para manifestar apreço ou desgosto por ela. Se estiverem no primeiro caso, podem até deixar as receitas favoritas nos comentários...

(1) FONSECA, Manoel da S.J. Vida do Venerável Padre Belchior de Pontes, da Companhia de Jesus da Província do Brasil. Lisboa: Off. de Francisco da Silva, 1752 /Reedição da Cia. Melhoramentos de S. Paulo, p. 55.
(2) Ibid.
(3) Ibid.
(4) Em algumas regiões do Brasil há outros modos de preparo que remetem a tradições africanas, sugerindo, pois, um sincretismo culinário muito interessante.
(5) FLORENCE, Hércules. Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829. Brasília: Ed. Senado Federal, 2007, p. 15.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

O Código de Hamurabi e os pais que queriam deserdar os filhos

É menos comum hoje em dia, mas, no passado, quando um pai, por qualquer razão, ficava furioso com um filho, logo ameaçava deserdá-lo, ameaça tanto mais eficaz quanto maior fosse o patrimônio envolvido. Sob o espectro do direito romano, já houve muita legislação que facultava ao pater familias fazer, nessa questão, o que bem entendesse. 
Não era assim na antiga Mesopotâmia. O Código de Hamurabi, tão radical em suas punições para crimes insignificantes (¹), parece ter até certa ternura em relação aos filhos, protegendo-os dos excessos de pais autoritários. Vejam, leitores, o que estava prescrito aos que viviam por volta de 1750 a.C.:
"Se um homem expulsa seu filho de casa, deserdando-o, e afirma ao juiz: "Eu quero deserdar meu filho", o juiz deverá analisar as razões apresentadas, e se o filho não houver cometido alguma falta grave, o pai não poderá expulsá-lo."
Observem, portanto, que competia ao juiz, e não ao pai, determinar se havia motivo suficiente para que um filho fosse excluído do direito de herança. Que adolescente da época, cheio de ideias próprias, não iria amar o legislador babilônio (²) que decidiu impor limite à despótica vontade paterna? A lei, contudo, ia além: 
"Mas, se o filho houver cometido algum erro grave, pelo qual poderia ser privado do direito de herança, o pai deverá perdoá-lo uma vez; se, porém, vier a cometer erro grave novamente, seu pai poderá expulsá-lo."
Infelizmente o legislador não fez qualquer declaração quanto ao que seria uma falta bastante grave para justificar a expulsão de um filho. É notável, porém, a insistência na conciliação familiar, com a mediação de um magistrado local e a obrigação paterna de perdoar o fedelho infrator ao menos uma vez. Nada mau (se é que não se pode dizer contraditório), para um Código no qual imperava, soberana, a lei de talião

(1) Ao menos sob o nosso ponto de vista.
(2) O Código de Hamurabi é, provavelmente, uma compilação de leis vigentes na Mesopotâmia no Século XVIII a.C., e não obra exclusiva de um único legislador.


terça-feira, 11 de setembro de 2018

Catecismos manuscritos usados por jesuítas no Brasil Colonial

O padre José de Anchieta passava noites copiando, à mão, as lições que seus alunos precisariam estudar - já falei sobre isso aqui no blog, ao tratar do ensino e catequese na Capitania de São Vicente. Mas ele não foi o único que recorreu às cópias manuscritas quando havia necessidade de multiplicar algum texto para uso no Brasil. Não havendo nem impressoras e nem trabalhadores gráficos (¹), o material necessário à catequese era pacientemente copiado pelos missionários. Em explicação dada pelo padre Antônio Vieira ao Provincial jesuíta do Brasil, através de uma carta datada de 22 de maio de 1653, somos informados de que um catecismo simplificado estava em uso para doutrinação dos indígenas - em contato com culturas ameríndias muito diferentes da sua, os missionários tinham dificuldade em explicar alguns conceitos a seus catecúmenos - e, para multiplicar o dito catecismo, era necessário, literalmente, pôr mãos à obra:
"Não sendo [os indígenas] capazes de catecismo tão dilatado e miúdo como é o geral que anda impresso, tomamos dele as coisas mais substanciais e fizemos outro catecismo recopilado, em que, por muito breve e claro estilo, estão dispostos os mistérios necessários à salvação, e este é o que se ensina." (²)
Como se conclui que o catecismo resumido era manuscrito? Deixemos que Vieira prossiga:
"Além deste catecismo breve, fizemos outro brevíssimo para nos casos de maior necessidade se poder batizar um gentio (³), e ajudar a bem morrer um batizado, dos quais se têm pedido cópias para os lugares onde não estamos, e se começam a fazer algumas; mas porque é quase impossível escreverem-se os muitos que são necessários, na primeira monção (⁴) determinamos de os mandar imprimir em grande quantidade, para que se possam repartir por todos os moradores, e cada um ensinar aos seus índios, e instruí-los em falta de sacerdotes para o batismo e para a morte." (⁵)
Percebe-se que Vieira assumia que muitos colonizadores eram "donos" de índios, e, pragmático, tencionava, com a distribuição dos catecismos, obter alguma ajuda na doutrinação dos cativos, ciente de que os padres de sua Ordem, sendo pouco numerosos, não podiam dar conta de todo o trabalho; ainda que jesuítas, por princípio, combatessem a escravização de ameríndios, não eram contrários ao cativeiro dos aprisionados em "guerras justas", feitas, inclusive, contra aqueles que se opunham ou se recusavam a receber a catequese.

(1) Quem quer que se dê ao trabalho de folhear livros impressos em Portugal entre os Séculos XVI e XVIII, logo perceberá que as obras eram precedidas por várias páginas com permissões para impressão, expedidas por autoridades civis e eclesiásticas. Sem as ditas autorizações nenhum livro podia ser impresso ou vendido. Além do custo inerente à impressão das cópias, toda essa burocracia desencorajava a multiplicação de edições e a livre circulação das ideias.
(2) MORAES, José de S.J. História da Companhia de Jesus na Extinta Província do Maranhão e Pará. Rio de Janeiro: Typographia do Commercio, 1860, p. 328.
(3) Era assim que os missionários se referiam aos indígenas ainda não batizados.
(4) Monção, aqui, é referência à época do ano favorável à navegação, quando era possível cruzar o Atlântico. Esperava-se, portanto, a ocasião propícia para que alguém, indo a Portugal, encomendasse cópias impressas dos catecismos simplificados em uso no Brasil.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Um arco que não é um arco

Hoje respondo a uma pergunta que me fizeram: Por que o arco do violino é chamado "arco", se, na verdade, não é um arco?
Ora, leitores, é que já foi um arco, há muito tempo, e isto vale não só para o arco do violino, como para os de outros instrumentos de cordas friccionadas. 
Observem esta gravura do Século XVI (¹), na qual um grupo de músicos toca alguns dos ancestrais dos modernos instrumentos de cordas. Está tudo explicado, não?


Aperfeiçoamentos técnicos alteraram a forma dos arcos de uso musical (²), mas o nome ficou.

(1) AMMAN, Jost. Aller Stande auf Erden. Frankfurt: Georg Raben, 1568.
(2) Basta considerar, no caso do violino, o arco barroco e o modelo de François X. Tourte (1747 - 1835).


Veja também:

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Escravos comemoravam a Independência do Brasil

A julgar pelo testemunho de jornais e obras literárias, o dia 7 de setembro, data oficial da Independência do Brasil, era bastante comemorado no Século XIX. Os acontecimentos relacionados à emancipação política eram recentes, e, embora os anos do Primeiro Reinado e do Período Regencial não tenham sido lá muito fáceis, havia certo entusiasmo nacionalista, que resultava em paradas militares que todo mundo queria ver, cerimônias religiosas com alguma pompa e, à noite, bailes nos quais a oficialidade da Guarda Nacional tinha um pretexto para aparecer em uniforme (¹). 
Nas ruas... Bem, nas ruas, não era nada incomum que houvesse confronto entre brasileiros e portugueses residentes no Brasil. Pode até parecer uma puerilidade, mas, às vezes, as vulgares provocações degeneravam em pancadaria e a polícia precisava intervir. O tempo, felizmente, se encarregou de acabar com essas tolices.
Era setembro de 1858, e o pintor Auguste François Biard, de nacionalidade francesa, estava no Rio de Janeiro. Teve, portanto, ocasião de presenciar os festejos relativos à Independência. Malgrado o sarcasmo e mau humor que transbordam de seus escritos, é significativo o registro que fez de um fato muito interessante: os escravos comemoravam entusiasticamente a data. Escreveu, então:
"Estávamos a 7 de setembro, e todo o Rio se alvoroçou. Era a data da Independência do Brasil; por uma coincidência haveria também um eclipse do Sol. Centenas de negros gritavam por toda parte: "Viva a Independência do Brasil". Deste modo, sem compreender as próprias palavras pronunciadas, os pobres negros festejavam a liberdade de um povo de que eram escravos. Não se precisa acrescentar que nesse dia não faltaram nem os foguetes nem as petecas que estragaram muitas roupas." (²)
Tenho a curiosidade de saber como foi que Biard concluiu que os escravos não entendiam o significado da data, ainda que não tenha nenhuma dúvida de que, entre a população em geral, de condição livre, houvesse muita gente incapaz de atinar com as implicações políticas e econômicas da Independência. Mas, voltando à alegria dos escravizados, não se pode deixar de indagar por que eles, que, na condição de cativos, não tinham direitos de cidadania, mostravam satisfação em comemorar um acontecimento que, nesse sentido, talvez só tivesse importância para os livres. Será que simplesmente entravam no espírito da alegria geral? Ou estariam felizes porque, sendo feriado, eram, ao menos na capital do Império, dispensados de trabalhar? E quem é que pode julgar se, mesmo sob os grilhões do cativeiro, não teriam, afinal, algum sentimento de identificação com o Brasil?
Podem especular à vontade, leitores. Vejam, no entanto, o quanto foi (e é) difícil forjar um país coeso em meio a tanta injustiça e disparidade.

(1) Sobre o uso do uniforme pela Guarda Nacional, veja a postagem "Uma visão da sociedade no Império, através de um anúncio de jornal", publicada em 25 de setembro de 2012.
(2) BIARD, Auguste François. Dois Anos no Brasil. Brasília: Ed. Senado Federal, 2004, p. 47.