Transformações sociais, políticas e econômicas ocorridas no Século XVIII e sua relação com o desenvolvimento da luteria e da técnica violinística
Niccolò Paganini, o mítico violinista que enfeitiçava plateias com as diabruras que era capaz de executar com seu instrumento, nasceu em Gênova no ano de 1782. Deixando para trás uma infância pobre e sofrida, chegou a atingir imensa popularidade, atraindo plateias consideráveis em boa parte da Europa, principalmente entre os anos de 1828 e 1834. Até fábulas sinistras foram inventadas para explicar tanta genialidade. Faleceu em 1840.
Infelizmente, Paganini viveu em um tempo no qual as gravações ainda não existiam, de modo que não podemos saber como, exatamente, soava a música que arrancava do violino. Entretanto, deixou composições que, se não brilham pelo mérito estético, servem para mostrar a que altura chegava sua capacidade técnica.
O fenômeno Paganini, contudo, só foi possível porque antes dele viveram luthiers que aperfeiçoaram a construção de instrumentos de cordas. Jacob Steiner (1), a família Amati, Antonio Stradivari e Giuseppe Guarneri (2) são nomes que alcançaram destaque pela construção de excelentes instrumentos. Ao menos no conceito popular, o mais celebrado luthier do Século XVIII é Antonio Stradivari. Apesar disso, não era um Strad o preferido de Paganini, e sim um Guarnerius. Como regra geral, a maioria dos instrumentos de cordas precisa de algum tempo de uso para atingir a plena maturidade sonora (3), e, por essa razão, não surpreende que o instrumento favorito do genial mago do violino já tivesse décadas de existência ao ser por ele tocado, uma vez que fora construído por volta da década de 1740.
Embora pareça simples, um violino é formado por cerca de oitenta partes diferentes, todas de fabricação extremamente delicada. O resultado, em termos de potência e riqueza sonora depende, portanto, de uma multiplicidade de fatores, que um luthier competente controla à exaustão.
Nem todo mundo sabe, mas, no Século XVI, o padrão é que violinos tivessem apenas três cordas. Ainda nesse centênio chegou a ter quatro, que eram feitas de tripa (de carneiro) e, embora produzissem um som delicado, tinham o inconveniente da fragilidade. A crescente busca por instrumentos capazes de maior volume sonoro levou, por volta de 1700, à prática de revestir o encordoamento com prata, e o emprego de maior tensão nas cordas sacramentou o uso de materiais de resistência superior. No Século XVIII, o braço e o espelho se tornaram mais longos. Assim, foi possível obter mais brilho e potência, adequados a auditórios cada vez maiores. Outras novidades introduzidas foram cavaletes mais altos, além de alterações na espessura do tampo e do fundo. O arco foi, também, bastante modificado, e, já por volta de 1820, Ludwig Spohr introduziu o uso da queixeira.
Nem todo mundo sabe, mas, no Século XVI, o padrão é que violinos tivessem apenas três cordas. Ainda nesse centênio chegou a ter quatro, que eram feitas de tripa (de carneiro) e, embora produzissem um som delicado, tinham o inconveniente da fragilidade. A crescente busca por instrumentos capazes de maior volume sonoro levou, por volta de 1700, à prática de revestir o encordoamento com prata, e o emprego de maior tensão nas cordas sacramentou o uso de materiais de resistência superior. No Século XVIII, o braço e o espelho se tornaram mais longos. Assim, foi possível obter mais brilho e potência, adequados a auditórios cada vez maiores. Outras novidades introduzidas foram cavaletes mais altos, além de alterações na espessura do tampo e do fundo. O arco foi, também, bastante modificado, e, já por volta de 1820, Ludwig Spohr introduziu o uso da queixeira.
A partir das últimas décadas do Século XVIII, em resultado de dramáticas mudanças no panorama sociopolítico da Europa (4), a música erudita, antes ao alcance apenas da nobreza, passou a ser apreciada por um número cada vez maior de pessoas, todas aquelas que estivessem dispostas a pagar um ingresso, independentemente de seu status social. Salas de concerto, e não só os salões de baile dos palácios, ressoavam com novas composições. Músicos, fossem eles compositores ou instrumentistas, já não eram parte da criadagem a serviço da nobreza, e sim, quando talentosos e competentes, verdadeiros heróis populares, ou, em outras palavras, autênticos fenômenos de massa, que entusiasmavam o público, lançavam modas e eram não só admirados, como também imitados. Paganini foi um deles.
(1) O preferido de J. S. Bach.
(2) Jacob Steiner (1619 - 1683); Andrea Amati (c. 1505 - c. 1578); Nicola Amati (1596 - 1684); Antonio Stradivari (1644 - 1737) e Giuseppe Guarneri (1698 -1744) foram alguns dentre os grandes luthiers que levaram a construção de violinos e outros instrumentos de cordas a um alto grau de perfeição.
(3) Neste caso, como em muitos outros, a regra admite exceções.
(3) Neste caso, como em muitos outros, a regra admite exceções.
(4) Basta pensar no impacto do Iluminismo, do despotismo esclarecido, da Revolução Francesa e respectivo corolário.
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Felizmente a música erudita está hoje acessível a todas as classes sociais, haja vontade de conhecê-la e aprendê-la (o que raramente acontece). O violino é daqueles instrumentos que podem produzir "o céu" nas mãos certas, mas que podem ser pavorosos nas mãos de um novato. Um dos motivos pelos quais o Pedrinho não foi aprender violino mas piano
ResponderExcluirTem toda razão rsrsssss! Sucede, porém, que lições de piano também são intoleráveis para quem tem de ouvi-las (acho que já falei disso aqui no blog). Quanto à preferência por estudar um ou outro instrumento, vai do gosto pessoal. Eu, por exemplo, venho de uma família repleta de pianistas. No entanto, eu optei pelo violino, contrariando a maré... Já se vê, por isso, que este não será o último post a tratar do bendito instrumentozinho de quatro cordas, não é?
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