quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Cavalos de guerra

Ter cavalos no exército era, na Antiguidade, a última palavra em se tratando de poderio bélico. Cavalos, sim, e - por que não? - carros de combate, que para nós não seriam mais que carroças, mas que eram, então, a prova definitiva da força de um povo, assegurando-lhe o domínio sobre os vizinhos militarmente inferiores.

Guerreiros assírios em um carro de combate (²)

Mesmo sendo, quase sempre, muito briguentos (¹), os povos do passado precisavam ser bastante criteriosos em suas decisões quanto a ter ou não cavalos para suas tropas, e uma primeira razão para isso, óbvia, na verdade, é que combater a cavalo era muito diferente de combater a pé, pressupondo, assim, que os soldados precisariam de treinamento frequente. E não só os soldados: também os cavalos deviam receber treinamento adequado, do contrário a vantagem literalmente cairia por terra, se os animais se mostrassem incontroláveis. Cavalos eram caros; carros de combate, também.
Além disso, cavalos não eram úteis em qualquer terreno. Eficazes em áreas pouco acidentadas, chegavam a ser um problema nas montanhas. Vale o mesmo para os carros de combate, cuja velocidade só era vantajosa em lugares que permitiam correr quase sem obstáculos.
Havia ainda mais. Em tempos nos quais prover suprimentos para as tropas já era uma grande dificuldade, muito mais complicado era assegurar alimento e água para cavalos, muita água, como todo mundo sabe.
Carruagem cretense (³)
Em tempo de paz, os cavalos, é claro, continuariam a existir, e precisariam receber cuidados. Caso fossem de propriedade real, era preciso um bom número de funcionários para cuidar deles, zelar pelas cavalariças e, deduz-se com facilidade, tudo isso acarretava custos que, por sua vez, conduziam a impostos que, finalmente, não eram fator de popularidade para o(s) governante(s). Entre os gregos os cavalos eram, geralmente, de propriedade particular, o que significa que cada cidadão militarmente válido cuidava do seu próprio, mas isto já pertence a uma outra lógica em termos de cidadania e serviço militar, que não era, em absoluto, o modelo vigente no Egito e na Mesopotâmia.
Diante dessas aparentes desvantagens, alguém poderá supor que ter cavalos para as guerras vinha a ser um mau negócio. Mas não era assim. Exércitos com cavalos e carros de combate (usualmente com dois animais) levavam, se bem treinados, uma enorme vantagem sobre os concorrentes que podiam contar apenas com a infantaria. Também é fato que, em muitos casos, exércitos com cavalos tendiam à profissionalização, por razões que já foram explicadas. Não menos importante, o monarca que dispunha de cavalaria tinha, quando esta lhe era submissa, um recurso excelente para manter os governados em subordinação. Nada mal para governantes absolutos, metidos a deuses e/ou a seus representantes.
O uso militar de cavalos evoluiu através dos tempos e chegou a alcançar a Segunda Guerra Mundial. Desde então, a mecanização substituiu os animais. Cavalos e cavalarianos, hoje, só mesmo em desfiles, comemorações, guardas de honra e em tentativas de reconstituição dos grandes combates do passado.

(1) Não muito diferentes dos povos de hoje...
(2) LAYARD, Austen Henry. Nineveh and Babylon. London: John Murray, 1882, p. 246. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(3) KNOWLTON, Daniel C. Illustrated Topics for Ancient History. Philadelphia: McKinley Publishing Company, 1913. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


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