sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Como indígenas furavam as orelhas

Os portugueses que, em fins do Século XV, chegaram ao Brasil, notaram que os povos indígenas dispunham, como parte de sua cultura, de uma grande variedade de técnicas para ornamentação do corpo, incluindo pinturas, uso de penas, ossos, etc. Ora, perguntará alguém, como é que as índias furavam as orelhas?
O Padre José de Anchieta, missionário jesuíta nativo das Canárias, em uma de suas cartas destinadas ao Geral da Ordem (¹), datada de 31 de maio de 1560, observou, a propósito de uns animaizinhos existentes no Brasil:
"Existem também certos pequenos animais do gênero dos ouriços (²), cobertos de cerdas compridas e mui agudas [...], pretas na ponta, as quais, se tocarem em alguma coisa, principalmente carne, entram pouco a pouco por si, sem ninguém as empurrar; as mulheres brasílicas costumam servir-se delas para furarem as orelhas, sem sentirem dor."
Está dada, portanto, a explicação quanto ao procedimento que adotavam as índias. Espero que os muito curiosos estejam satisfeitos.

Indígenas brasileiros de várias etnias, de acordo com Debret (³)

(1) O Superior Geral era, nessa ocasião, Diego de Laynez, sucessor de Inácio de Loyola.
(2) Anchieta não se propõe a nenhuma classificação técnica dos animais, apenas os descreve para conhecimento dos membros de sua Ordem religiosa na Europa. Trata-se, aqui, de uma referência ao ouriço-cacheiro.
(3) DEBRET, J. B. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil vol. 1. Paris: Firmin Didot Frères, 1834. O original pertence à Brasiliana USP; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


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2 comentários:

  1. Que maravilhosa constatação. O poder de observação do Padre Anchieta era muito bom. Não é à toa que ele conseguiu fazer um trabalho de evangelização tão bem sucedido.
    E como é sábia a tradição indígena. Bárbaros somos nós que sofremos tanto para fazer a depilação, hehe
    Beijinho, obrigada por este momento. Um doce domingo
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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    Respostas
    1. Hahaha... Sim, Anchieta era mesmo um excelente observador, e também uma pessoa disposta a aprender sobre uma cultura muito diferente da sua, sem preconceitos que poderiam atrapalhar os planos de catequese. Aprendeu muito bem a língua mais falada pelos indígenas do litoral, e com eles convivia, dispondo-se a ajudar mesmo em coisas que não eram de sua responsabilidade, como, por exemplo, ao administrar tratamentos simples que podiam aliviar o sofrimento dos doentes.
      Obrigada por visitar História & Outras Histórias. Tenha uma ótima semana.

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