quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Algumas razões para as guerras por território na Antiguidade

Ninguém precisa gastar muito tempo em observação para perceber que o planeta em que vivemos apresenta uma grande variedade de paisagens. Alguns lugares são altamente favoráveis à sobrevivência de seres humanos, enquanto outros não são muito promissores. Há lugares, até, em que é quase impossível viver. Tecnicamente, dizemos que uma região favorável é "ecúmena", enquanto as desfavoráveis são chamadas "anecúmenas".
Tentem agora, leitores, visualizar grupos humanos que viveram em tempos remotos (históricos ou mesmo pré-históricos). Se uma comunidade fosse nômade e praticasse a caça, por exemplo, como fonte de subsistência, provavelmente iria entrar em conflito com qualquer outro grupo que tentasse habitar o mesmo território. Vê-se, pois, que não era questão de um grupo ser mais ou menos amistoso. Era a sobrevivência que estava em jogo. Uma guerra, ainda que de pequenas proporções, poderia ocorrer sempre que dois ou mais grupos humanos entrassem em disputa por um dado território. Valia o mesmo quanto às pastagens, se uma comunidade fosse voltada ao pastoreio, ou às áreas de cultivo, sempre que a agricultura fosse praticada e um grupo invasor tentasse ocupar um território já habitado, no todo ou em parte. 
Morte de Saul, rei dos hebreus, em campo de batalha, 
de acordo com Gustave Doré (*)
Por suposto as guerras, nesse tempo, não se faziam com armas de fogo, muito menos com bombas atômicas. As batalhas eram travadas com pedras, hastes de madeira, arcos e flechas, e a grande vantagem estaria com aqueles que já fizessem uso, ainda que rudimentar, de algum tipo de metal. Mais tarde viria a cavalaria e, com ela, os carros de guerra - carroças, se quiserem -, mas ainda assim um diferencial importante para quem dispusesse de tal recurso. O resultado de um combate podia vir na forma de crânios esfacelados, braços e pernas triturados, dentes a menos, feridas que eventualmente terminavam em uma infecção letal. Não era pouco, convenhamos. Aos derrotados competia cair fora, tão rápido quanto possível, se é que tinham juízo. Com os vitoriosos ficavam as comemorações enaltecendo a supremacia tribal, com direito à aclamação dos heróis do combate, uma prática que, no futuro, teria imitadores e consequências nada desprezíveis.
Será que mudamos muito ao longo dos milênios? Dificilmente dois países entrarão em conflito, hoje, por território de caça, ou por alguns palmos a mais de pastagens verdinhas para as ovelhas e cabras. As armas, por sua vez, já não se mostram tão inocentes quanto as de outrora. Por que matar um inimigo de cada vez, quando se pode eliminar multidões? Brigar por espaços na Terra já anda até causando tédio. Que tal transferir as conflagrações para o Sistema Solar? Isso já vem acontecendo há tempos em séries de televisão e em jogos eletrônicos... Só falta passar à vida real. A ideia não é mesmo para surpreender a quem quer que seja.

(*) Essa é uma concepção artística de Gustave Doré, que viveu durante o Século XIX. É pouco provável que os hebreus, na época que se atribui ao reinado de Saul, contassem com cavalaria para uso militar.


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