quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Mulheres romanas se casavam muito cedo

Comparando os costumes dos romanos aos dos gregos de Esparta, Plutarco (¹), que viveu entre os séculos I e II, observou que, por determinação atribuída a Licurgo, as jovens espartanas apenas se casavam quando já estavam fisicamente adultas. Não era assim entre os romanos: "Os romanos costumeiramente casam as filhas quando chegam aos doze anos, e, às vezes, até antes disso" (²).
A razão para essa prática, segundo Plutarco, se encontrava nas leis instituídas pelo rei Numa Pompílio, figura semilendária que teria exercido o governo de Roma depois da desaparição de Rômulo. O modelo de casamento proposto por esse rei, assim como suas ideias em relação à conduta das mulheres, seriam explicação para a entrada precoce das jovens na vida conjugal: Numa "ensinou que [as mulheres] deviam estar sempre sóbrias e ter vida moderada, quis que se habituassem a guardar silêncio e a não fazer uso de vinho, de modo que, para uma mulher romana, beber era indecente" (³).
Duas razões justificariam o casamento aos doze anos:
1. Nas palavras de Plutarco, "os romanos achavam perigoso que virgens já crescidas permanecessem em casa dos pais [sic]" (⁴);
2. Quando a mulher se casava cedo, o marido poderia educá-la como quisesse, de modo a satisfazer suas preferências e interesses: "havia oportunidade para afeiçoá-las aos hábitos do marido, moldando-as como queriam, como se fossem de cera [sic!!!]" (⁵).
Mulher romana não identificada (6).
Romana não identificada (⁶)
Quer os costumes romanos em relação às mulheres e ao casamento viessem de Numa, quer não, uma coisa é certa: a autoridade do pai na família era incontestável, até mesmo no âmbito de vida e morte. Portanto, era o pai que decidia quando e com quem uma filha se casaria, e, embora não se possa descartar elementos de afetividade no relacionamento familiar, está claro que não eram uma prioridade. Não se deve supor, contudo, que não acontecessem exceções, com mulheres se casando mais tarde, com quem queriam, ou mesmo recusando um casamento. Mas casos assim fugiam à regra, principalmente em se tratando da elite senatorial, para quem interesses políticos estavam em jogo em cada aspecto da vida. 
Muitos costumes romanos permaneceram ativos no Ocidente, mesmo quando Roma, enquanto império, já havia desaparecido há muito tempo. Querem uma prova, leitores? Muitos exemplos poderiam ser citados, mas basta um. O que me dizem da estrutura familiar predominante no Brasil Colonial, nos grandes engenhos de açúcar, em que os senhores, como regra, exerciam um férreo patriarcado? 

(1) c. 45 - 125 d.C.
(2) PLUTARCO. Vitae parallelae.
(3) Ibid.
(4) Ibid.
(5) Ibid. Todas as citações de Vitae parallelae foram traduzidas por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(6) HEKLER, Anton. Die Bildniskunst der Griechen und Römer. Stuttgart: Julius Hoffmann, 1912, p. 286. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


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