quinta-feira, 13 de julho de 2017

Causas da decadência do Império Romano

Já estão aqui no blog duas postagens que introduziram o assunto das causas do declínio e queda de grandes impérios. Se vocês ainda não correram os olhos por elas, talvez seja útil fazê-lo, antes de entrar na questão de hoje, que trata da decadência do Império Romano. Aqui estão os links:
- Ascensão e decadência de impérios, de acordo com Heródoto;
- Sêneca e sua teoria sobre a decadência dos impérios.

Houve quem atribuísse o declínio de Roma à expansão do cristianismo, cujas ideias pacifistas teriam tornado o exército pouco apto para o combate e, portanto, também para a defesa das fronteiras. Ficaremos, no entanto, com aquelas que são as causas mais frequentemente apontadas, para que vocês, leitores, depois de alguma reflexão, possam construir sua própria interpretação dos fatos. 
Grande extensão do Império, dificultando o controle sobre áreas remotas - Diferentes povos, com uma variedade de culturas, todos submetidos a um só governo, nem sempre adequado às condições locais, tornavam difícil a administração; o Império chegou a ser tão extenso que, ocorrendo uma invasão ou outro problema qualquer em determinada área, levava muito tempo até que a notícia chegasse a quem devia tomar decisões. As providências, não raro, aconteciam tarde demais.
Invasões bárbaras (¹) - Povos bárbaros forçavam as fronteiras de Roma desde os tempos da República. Ocorre que, então, o exército romano era forte o bastante para repelir as tentativas de invasão (²). Mais tarde, bárbaros foram assimilados no Império, e o exército passou a admitir um grande número deles em suas fileiras. As invasões dos Séculos IV e V somente vieram a ser um fator de desagregação do Império porque este já era demasiado fraco em sua capacidade de resistência.
Elevados impostos e tributos - As diferentes contribuições impostas aos cidadãos e aos povos dominados, necessárias, por exemplo, para custear o exército e manter as distribuições periódicas de cereais (³), retiravam recursos das atividades produtivas e empobreciam a população, gerando descontentamento e revoltas sociais. Mais ainda: sendo Marco Aurélio imperador, o direito de cidadania tornou-se extensivo às províncias, apenas com a finalidade de cobrar mais impostos. O sentido de ser um romano estava, com isso, desaparecendo.
Número exagerado de desocupados entre a população - Este problema era antigo; nasceu com o sucesso de Roma em suas incursões militares. Povos vencidos foram escravizados e, com isso, parte da população livre, não encontrando trabalho, passou a depender do Estado para sobreviver (⁴). 
Lutas sociais -  Aconteciam desde a República. A princípio, eram os plebeus que exigiam mais direitos (⁵); depois, vieram as revoltas de escravos (⁶) e as agitações no tempo dos irmãos Tibério e Caio Graco, as sedições provocadas por desocupados, as rebeliões por falta de víveres e outras mais.
Corrupção - Quem estava no poder, em qualquer esfera que fosse, buscava, como regra geral, extrair a maior vantagem econômica possível da função que ocupava. O problema era muito grave, particularmente na administração das províncias (⁷), cujos habitantes, percebendo que eram explorados além do previsto, viviam sempre prontos para uma rebelião.
Enfraquecimento da disciplina do exército - A disciplina de seu exército transformara em potência a modesta cidade-Estado que era Roma; foi justamente o enfraquecimento dessa disciplina um dos fatores mais importantes para o declínio do Império, à medida que candidatos à sucessão no trono imperial compravam, literalmente, o apoio dos soldados. O resultado dessa prática desastrosa foi que o exército passou a apoiar aquele que pagasse mais, não vacilando em assassinar um imperador para elevar ao poder algum outro que oferecesse mais dinheiro. Ainda em relação ao exército, chegou o tempo em que, devido à extensão do Império e, portanto, também das fronteiras que deveriam ser vigiadas, já não era possível recrutar apenas romanos para a carreira das armas. Nasceu daí a necessidade de recrutar "auxiliares" (mercenários) nas províncias para completar as legiões (⁸). Tal fato contribuiu para enfraquecer o exército romano, que, afinal, já não era tão romano assim.
Declínio dos valores e da moralidade - Para quem acha que falar em decadência de valores é "politicamente incorreto", será útil lembrar que o assunto era alvo de debates recorrentes no Senado romano (⁹). Dizia-se que os homens que haviam liderado Roma na conquista do mundo primavam pela frugalidade, economia e amor ao trabalho. O contato com outras civilizações introduzira em Roma o amor pelo luxo (¹º) e pela ostentação; a chegada de multidões de escravizados, em consequência das conquistas militares, fizera do trabalho um constrangimento (¹¹). Leis foram impostas com a intenção de restaurar os antigos costumes, mas não tiveram o efeito desejado.
Vejam, leitores, que não é nada razoável apontar para uma causa, apenas, e dizer: É esta a responsável pela decadência de Roma! Muito mais sensato é perceber que o declínio foi um processo lento, que já estava em ação quando o Império se imaginava no auge do poderio. Como todos os grandes impérios do passado, Roma também chegou ao fim. Deixou, todavia, um legado relevante, que persiste até nossos dias.

(1) Os romanos chamavam "bárbaros" a todos aqueles cuja língua materna não era nem o latim e nem o grego.
(2) Apesar disso, César relatou, em De Bello Gallico, que a fama da força física e da coragem dos germanos deixava apavorados os soldados de Roma.
(3) Esses cereais eram, como regra, importados (principalmente do Egito).
(4) A política de "pão e circo" se insere nesse contexto.
(5) Basta lembrar as retiradas da plebe para o Monte Sagrado.
(6) A Revolta de Espártaco é a mais conhecida, mas não foi a única.
(7) Tácito afirmou no livro XII dos Annales que Félix, governando a Judeia, "entendia poder fazer, impunemente, qualquer malefício".
(8) No Livro II de Rerum Romanarum, Aneu Floro afirmou que, diante da necessidade de mais homens para lutar contra os cartagineses comandados por Aníbal, até mesmo escravos foram incorporados ao exército romano.
(9) Tácito, no Livro II dos Annales, registrou que, durante o governo de Tibério, um decreto para cercear a "desonestidade das mulheres" de condição nobre foi posto em vigor.
(10) Tito Lívio, em Ab urbe condita libri, afirmou que foram as tropas de L. Cornélio Cipião, quando voltaram da guerra contra Antíoco, as primeiras a "introduzir em Roma os hábitos de luxo dos estrangeiros".
(11) De acordo com Floro, os jogos foram criados para dar uma ocupação aos soldados, quando estes não se encontravam ocupados em campanhas militares.


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