quinta-feira, 2 de abril de 2020

Teria a educação romana contribuído para a decadência do Império?

Em termos sociais, a educação romana era brutalmente desigual. Isso quer dizer que, para meninos provenientes das camadas inferiores da sociedade, a escola era uma espécie de antro de tortura, em que, à custa de castigos severos, aprendia-se a ler, escrever e fazer algumas contas, em um grau de competência que poderia ser classificado como sofrível. Para a elite, no entanto, a situação era outra. Não que os castigos físicos desaparecessem, mas o espectro de conhecimentos que se devia introduzir na cabeça dos meninos era mais amplo, incluindo gramática e retórica. Além do latim, era preciso aprender o grego, e muito bem, porque vários autores vistos como modelos e, por isso, devidamente estudados, haviam escrito nessa língua. Gostando ou não, os estudantes eram treinados para o debate e para a defesa de ideias e opiniões. 
Diante disso, surge uma questão intrigante: seria a educação tradicional romana mais uma dentre as muitas causas para o declínio e queda do Império?
Vejamos duas possibilidades de interpretação, não mutuamente excludentes:
Primeira proposição
O ensino ministrado à elite, com foco em habilidades para a carreira de leis e da política (o sucesso na primeira geralmente levava à segunda), não estimulava vocações científicas, e, até onde se sabe, foram poucos os romanos que poderiam ser equiparados aos gregos e egípcios, por exemplo, em se tratando de conhecimentos técnicos, sendo a arquitetura um dos campos que merece elogios como exceção honrosa. Lembrem-se, leitores, de que Roma teve seu primeiro relógio de sol quando, durante as Guerras Púnicas, conquistou Catânia e, de lá, trouxe o curioso "monumento" que servia para marcar as horas. Por essa linha de raciocínio, a falta de uma prática constante de investigação verdadeiramente científica, em larga escala, "engessou" o Império, impedindo, inclusive, que a agricultura se desenvolvesse com a adoção de novas técnicas, que poderiam elevar a produtividade do solo. 
Segunda proposição
A agricultura romana empacou, mas não só por falta de ciência; a massa de escravos fazia todo o trabalho, de modo que quase ninguém, entre os homens livres, se ocupava em buscar inovações técnicas/tecnológicas que melhorassem a produtividade; por seu turno, escravos dificilmente iriam se empenhar por novas invenções e, quanto a outras atividades econômicas, além da agricultura, a situação não era diferente.
Qual das proposições leva vantagem? Deixo aos leitores essa reflexão.


2 comentários:

  1. Os Romanos, como povo dominante, habituaram-se a trazer dos povos dominados muito daquilo que careciam, descurando actividades essenciais. Com o passar do tempo, e com toda a população livre a focar-se no usufruto do prazer, todo o trabalho produtivo se circunscrevia aos escravos. Para satisfazer a multidão, a política era das mais básicas: fornecer-lhes pão e circo.
    Quanto à questão que levanta, Marta, creio que ambas as proposições são válidas. Que lhe parece?

    Uma boa semana :)

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