quinta-feira, 23 de abril de 2020

Como os servidores do imperador asteca se comportavam quando falavam com ele

Monarcas de todos os lugares sempre tiveram certos rituais no trato com os súditos, em especial quando o rei ou imperador era visto ou se fazia ver como uma figura dotada de atributos divinos. O cerimonial que os cercava tinha a função de estabelecer a distinção entre quem mandava e quem obedecia, justificando ou tentando justificar por que motivo alguém tinha tantos privilégios, enquanto a maioria tinha poucos direitos e quase infinitas obrigações. 
Sabe-se, pelo relato de Bernal Díaz del Castillo, um soldado espanhol que acompanhou Hernán Cortés na "conquista" do México, que Montezuma (¹), o grande imperador asteca, exigia de seus servidores certos gestos cerimoniais que, continuamente, demonstravam a submissão que lhe era devida:
"[...] Quando iam falar com ele [Montezuma], deviam tirar as mantas de qualidade e colocar roupas de pouco valor, que, no entanto, deviam ser limpas, deviam entrar descalços e com os olhos voltados ao chão, jamais olhando diretamente em seu rosto, fazendo três reverências antes de chegar à sua presença, dizendo nelas: "Senhor, meu senhor, grande senhor!", e quando lhe diziam por que estavam ali, com poucas palavras os despachava; [os servidores] sem erguer o rosto quando se despediam dele, antes com o rosto e olhos postos na terra onde estavam, saíam sem voltar as costas até que estivessem fora da sala." (²)
Para quem vive em um Estado democrático na atualidade, tudo isso pode parecer muito estranho, mas, pergunto: a seu modo, as cerimônias exigidas por Montezuma não são comparáveis, por exemplo, ao ritual da corte de Luís XIV, estabelecido, diga-se de passagem, para atrair a nobreza, mantê-la obediente mediante a servidão às regras de etiqueta, enquanto o monarca, a seu gosto, governava, absoluto, como "Rei Sol"? Nesse sentido, as diferenças estariam apenas em questões de aparência. Na essência, abaixo da superfície, os objetivos eram mais ou menos os mesmos.

(1) Ou Moctezuma, também conhecido como Montezuma II.
(2) CASTILLO, Bernal Díaz del. Verdadera Historia de los Sucesos de la Conquista de la Nueva España. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.


2 comentários:

  1. Tenho que concordar consigo, Marta. Os "esgares" do poder repetem-se, nunca são originais.

    Um abraço

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    1. Nem sempre há criatividade nessas esferas.
      Tenha uma ótima semana!

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