Ao ditar um documento oficial, o imperador Domiciano começou: "Nosso senhor e deus assim ordena..." Falava de si mesmo, é claro. Que audácia! E, de acordo com Suetônio (¹), desde então ficou entendido que competia a todos chamá-lo por esse modo, quer de viva voz, quer por escrito.
Domiciano era filho de Vespasiano e irmão de Tito, imperadores precedentes. Esteve à frente do Império entre os anos 81 e 96 d.C., época em que tratou de centralizar o poder, afastando o Senado, tanto quanto possível, da esfera decisória. Ao menos nas aparências, foi um adepto decidido das antigas tradições romanas, inclusive no que tange à religião - fazendo-se incluir no conjunto de divindades que deveriam ser adoradas.
Augusto, imperador entre 27 a.C. e 14 d.C., não só recusou ser chamado "senhor", como proibiu que o mesmo tratamento fosse dado a seus familiares (²). Entende-se que o Império, em seu tempo, era algo novo, e dificilmente Augusto se sentiria seguro e confortável para receber um título que remetia ao panteão de deidades. Os romanos tinham ódio à realeza, suprimida entre eles para dar lugar à República, e não era conveniente oferecer a mais tênue impressão de que pretendesse ser rei.
Não obstante, depois da morte, Augusto passou a ser honrado como "divo", e, portanto, contado entre os deuses. O mesmo sucedeu com outros imperadores. A Tibério, seu sucessor, ofereceu-se a condição de deus em vida, pretendendo-se, para isso, o estabelecimento de templos e sacerdócio específico; contudo, o imperador recusou tal honra, e, ainda conforme Suetônio (³), somente permitiu que lhe dedicassem estátuas que não fossem colocadas em recintos consagrados a práticas religiosas. Aliás, foi além, recusando mesmo ser chamado "Imperator" e "Dominus".
Imperador Domiciano (⁵) |
(1) Cf. SUETÔNIO. De vita Caesarum, Livro VIII.
(2) Ibid., Livro II.
(3) Ibid., Livro III.
(4) Ibid., Livro IV.
(5) HEKLER, Anton. Die Bildniskunst der Griechen und Römer. Stuttgart: Julius Hoffmann, 1912, p. 220. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(5) HEKLER, Anton. Die Bildniskunst der Griechen und Römer. Stuttgart: Julius Hoffmann, 1912, p. 220. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(6) Uma prática nada incomum em Roma, sempre que imperadores perdulários procuravam um pretexto para refazer as finanças debilitadas. Afirma-se que Calígula, por exemplo, não precisou de mais de um ano para gastar toda a fortuna acumulada por Tibério, seu antecessor.
Uma história de sempre, que não dignifica o ser humano: o poder inebria, dando azo a todos os atropelos. Talvez seja por isso que, na maioria das democracias, haja limitação de mandatos.
ResponderExcluirContinuação dum bom dia, Marta! :)
Acho que não pode mesmo haver verdadeira democracia sem limitação de mandatos. A experiência tem mostrado os resultados ruins de muitos mandatos para uma só pessoa, ainda quando todos vêm do voto popular.
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