sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A perseguição aos cristãos no Império Romano

Por séculos os cristãos que viviam no Império Romano foram perseguidos. Eram presos, torturados para que negassem sua fé e, muitas vezes, condenados à morte, o que se executava com extrema crueldade, e até mesmo como espetáculo público.
Quem, afinal, teve a ideia de iniciar tal prática?
De acordo com a Apologia, escrita por Tertuliano no ano 200 d.C. (com a finalidade de defender a causa dos cristãos diante do Senado romano, por ocasião de uma perseguição movida pelo próprio Senado e referendada pelo imperador Sétimo Severo), os cristãos de Roma foram perseguidos, pela primeira vez, sob o mando de Nero:
"Procurem nos registros anuais e irão encontrar que Nero foi o primeiro a ensanguentar a espada dos Césares no sangue da religião cristã, quando ela começava a fazer-se conhecer em Roma." (*)
Tertuliano ainda acrescentaria:
"Não há maior elogio à religião cristã que haver sido perseguida por Nero, uma vez que um homem tão mau não poderia senão perseguir algo completamente bom."
É perceptível que, ao final do segundo século da Era Cristã, a imagem de Nero entre os romanos não era das mais favoráveis, ou Tertuliano não teria se referido a ele do modo como o fez. Mas, voltando à questão da primeira perseguição aos cristãos, ocorreu ela porque Nero, vendo-se sob suspeita de ter ordenado o incêndio que arrasou a capital do Império, tratou de achar a quem incriminar, e lançou a responsabilidade sobre os cristãos, que, nesse tempo (64 - 65 d.C.) não deviam ser assim tão numerosos em Roma. No livro XV dos Annales, Tácito escreveu:
"Para afastar os rumores, Nero incriminou e passou a punir com toda sorte de tormentos a uma gente desagradável, os cristãos, como vulgarmente eram chamados. [...] Zombando deles, eram vestidos com peles de animais, sendo, em seguida, lançados aos cães, enquanto outros eram crucificados, e outros, ainda, queimados quando anoitecia, para que servissem de iluminação."
Sabe-se que, pela época que o cristianismo chegou a Roma, a crença nos antigos deuses já andava em declínio. No entanto (como se vê, mutatis mutandis, até hoje sob algumas circunstâncias), sempre que ocorria alguma grande catástrofe o povo romano corria aos templos, tentando aplacar a fúria das divindades esquecidas. Foi também Tácito, a despeito de seu mau humor para com os cristãos, quem registrou:
"Entendeu-se que o incêndio fora devido à fúria dos deuses, e tomaram-se providências para acalmá-los. [...] Livros sibilinos foram consultados, sendo então dirigidas súplicas a Vulcano, Ceres e Proserpina, enquanto as matronas faziam propiciação a Juno no Capitólio e, depois, junto ao mar, levando dali água para aspergir o templo e a estátua da deusa."
Estando o imperador envolvido no incêndio ou não, naquela hora o expediente serviu para que Nero escapasse da ameaça popular e ainda caísse, momentaneamente, nas graças da plebe, que acorria aos espetáculos públicos nos quais cristãos eram sacrificados, com o pretexto de que isso seria em extremo agradável aos deuses. 
Nem por isso o cristianismo desapareceu, e nem mesmo as sucessivas perseguições tiveram o efeito de fazer com que os cristãos sumissem do Império. Ao contrário. Se nos dias de Nero os cristão eram, em Roma, relativamente pouco numerosos, quase um século e meio mais tarde, sob nova perseguição, Tertuliano diria: "Nascemos ontem, e já hoje enchemos o Império [...]."

(*) As citações da Apologia de Tertuliano e dos Annales de Tácito incluídas nesta postagem são tradução de Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.


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