quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Ensino e catequese no Brasil após a expulsão dos jesuítas no Século XVIII

Os jesuítas vieram inicialmente ao Brasil com Tomé de Sousa, o primeiro governador-geral, em 1549. Desde então passaram a desenvolver a catequese de indígenas e a ensinar filhos de colonos em seus colégios. Sucede que a Companhia de Jesus tornou-se muitíssimo poderosa na América, a ponto de ser acusada de ter intenções de estabelecer, no sul do Continente, um verdadeiro império sob seu controle. No Século XVIII o ideário iluminista, influente até mesmo sobre alguns governantes na Europa (¹), fez com que as suspeitas contra os jesuítas chegassem ao auge, resultando na supressão da Ordem em 1773 (²). A expulsão de Portugal e seus domínios ocorreu antes, em 1759, até porque o Marquês de Pombal, ministro do rei D. José I, não tinha por eles nenhuma simpatia. 
O que aconteceu às missões no Brasil que os jesuítas foram obrigados a abandonar?
Saint-Hilaire, naturalista francês, percorrendo o Rio Grande do Sul um pouco antes da Independência, observou:
"Outrora ensinava-se a ler e a escrever em todas as aldeias, mas essas lições cessaram há muito tempo." (³) 
Referia-se, naturalmente, às aldeias de índios guaranis que haviam sido catequizadas por jesuítas. Deve-se notar que, expulsos os missionários da Companhia, competia ao governo português prover instrução básica à população. Como, porém, notou o próprio Saint-Hilaire, os salários oferecidos aos professores eram muito baixos, disso resultando um desinteresse pelo cargo e, por consequência, muitas povoações deixaram de ter escolas.
Não só o ensino foi abandonado em muitos lugares. A saída dos jesuítas também interrompeu a catequese, ainda que, em alguns casos, religiosos de outras Ordens tenham assumido as missões. Um resultado curioso desse abandono foi registrado no Diário da Expedição que em 1780 saiu para demarcação da América Portuguesa, com a constatação de que havia indígenas semicatequizados que, sem uma doutrinação completa, chegavam, quando interrogados, a expressar uma lista algo sincrética de crenças que, se eram em parte cristãs, eram, também parcialmente, bem pouco ortodoxas. Exemplo? Veja-se o que disse o chefe indígena de uma tribo da região amazônica, que já tinha "alguma luz da doutrina cristã":
"...indagado por alguns princípios da religião que seguiam nas suas terras, respondeu que os bons depois de mortos iam ter muitas mulheres, e os maus iam para uma cova muito funda em que havia muito fogo."

(1) Os chamados "déspotas esclarecidos".
(2) A bula papal, permitindo a restauração da Companhia de Jesus, data de 1814.
(3) SAINT-HILAIRE, A. Viagem ao Rio Grande do Sul. Brasília: Ed. Senado Federal, 2002, p. 341.


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