Grandes impérios, na Antiguidade, surgiram, dominaram, mas desapareceram. Em alguns casos o sumiço foi tão exagerado que, por séculos e séculos, estudiosos achavam que sua existência era apenas lendária. Um exemplo disso foi o notável império assírio que, subvertido por conquistadores babilônios e medos, principalmente, permaneceu oculto até que escavações arqueológicas comprovassem sua autenticidade.
Outros impérios passaram por lento declínio, ainda que subsistindo por muito tempo, sem, no entanto, conservarem o brilho que assinalou seu apogeu. O Egito da Antiguidade ilustra muito bem este caso.
Não poucos historiadores têm dedicado tempo e neurônios à investigação dos fatores responsáveis pela ascensão e queda dos grandes impérios. Desavenças políticas internas, fracassos em batalhas, catástrofes naturais, declínio de valores cívicos e/ou morais - a lista poderia seguir, com elementos que são assíduos entre as explicações oferecidas ao fenômeno do desaparecimento de povos, reinos, civilizações até. E, diga-se de passagem, este é um tema cuja investigação já intrigava pensadores na própria Antiguidade (¹). Sêneca (²), filósofo estoico romano do primeiro século d.C., famoso por ter sido professor de Nero, escreveu em De Ira:
"Lembre-se de que cidades notáveis, das quais hoje apenas se sabe a localização, foram destruídas pela ira. Olhe as vastas regiões hoje desabitadas, e veja que foi a ira que as tornou um deserto." (³)
Você, leitor, concorda com Sêneca? É pouco provável que ele desconsiderasse fatores políticos, econômicos, sociais ou naturais. Só que, em seu pensamento, buscava causas profundas para as querelas entre poderosos, para as revoltas populares, para as desordens na estrutura econômica, e ia encontrá-las na falta de serenidade, tanto de governantes quanto de governados, que davam vazão irrestrita às emoções violentas, embotando o uso pleno da razão. Isso se deduz pelo que escreveu na mesma obra, propondo o ideal de governantes e juízes que, impassíveis, sem qualquer traço de irritação, administrassem os negócios públicos e fizessem aplicar a justiça. Tinha isso como meta, aliás perfeitamente compatível com o pensador estoico que era. O quanto Sêneca foi bem-sucedido em implantar tal ideário, ao menos em seus dias, nós podemos ver pela conduta de seu famoso discípulo-imperador, que supondo o mestre envolvido em uma conspiração para assassiná-lo, ordenou-lhe que cometesse suicídio. Uma prática que, afinal, era comum em Roma.
Sêneca, estoicamente, obedeceu.
Sêneca, estoicamente, obedeceu.
(1) É lógico que os antigos não se achavam "antigos". Nós é que os rotulamos assim...
(2) 4 a.C. - 65 d.C.
(2) 4 a.C. - 65 d.C.
(3) O trecho citado de De Ira é tradução de Marta Iansen para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
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