Vocês acham que a vida é curta, leitores? Isaías, um profeta hebreu da Antiguidade, pensava que sim, tanto que a comparou à vegetação efêmera da Palestina (¹). Contudo, Sêneca (²), o filósofo estoico dos dias de Nero, julgava que a vida não era breve, e sim mal utilizada: "A vida é longa, desde que saibamos aproveitá-la", afirmou. Vejamos, em suas palavras, a exposição daquilo que supunha ser perda de tempo, ao dirigir-se a Paulino, já centenário, com quem sustenta uma interlocução retórica em Da brevidade da vida:
"Quanto de tua vida gastaste com credores, quanto com algum amigo, quanto cuidando dos interesses da República, quanto com teus parentes, quanto em desentendimentos com tua mulher, quanto em castigar escravos, quanto andando às pressas pela cidade? Deves acrescentar a isto o tempo que estiveste doente e o tempo passado na ociosidade e verás que tens muitos anos a menos do que podes contar." (³)
Não é difícil perceber que a fala de Sêneca dá uma ideia das ocupações rotineiras de um membro da elite romana de seu tempo. Além disso, entre a população livre em geral, havia abundância de ociosidade, decorrente da multidão de escravos - prisioneiros de guerra - à disposição para todo tipo de trabalho. De fato, talvez não fossem poucos os que, tendo gasto muito tempo em espetáculos de gladiadores, corridas de cavalos e de bigas, representações nos teatros, além de horas e mais horas nas termas, chegassem, com o correr dos anos, a pensar que a vida ia-se escoando como areia entre os dedos, ou desaparecendo como a frágil vegetação das regiões semiáridas.
Entretanto, se excluirmos da vida algumas coisas mencionadas por Sêneca, tais como o convívio com amigos e familiares, não estaremos desprezando parte daquilo que a existência tem de melhor? Curioso é que o filósofo estoico, que gastou uns bons anos em educar e aconselhar Nero, não tenha, em Da brevidade da vida, dito nada sobre o que é que, de fato, faria a existência valer a pena.
Entretanto, se excluirmos da vida algumas coisas mencionadas por Sêneca, tais como o convívio com amigos e familiares, não estaremos desprezando parte daquilo que a existência tem de melhor? Curioso é que o filósofo estoico, que gastou uns bons anos em educar e aconselhar Nero, não tenha, em Da brevidade da vida, dito nada sobre o que é que, de fato, faria a existência valer a pena.
(1) Cf. Is. 40, 7: "exsiccatum est faenum et cecidit flos quia spiritus Domini sufflavit in eo vere faenum est populus".
(2) 4 a.C. - 65 d.C.
(3) O trecho citado de Da brevidade da vida foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
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