A propriedade agrícola ideal, imaginada por Marco Pórcio Catão (¹) em sua obra De agri cultura, destinava-se, antes de tudo, a dar lucro. Secundariamente, devia dar lucro. Finalmente - vocês já sabem - devia dar lucro. Era para isso que um romano deveria almejar ser dono de uma fazenda. Assim, ao expor seu projeto de enriquecimento, opinou que seria bom que latifundiários vendessem tudo o que fosse, de algum modo, supérfluo, com o fim de obter dinheiro: "Observe o gado e veja o que pode ser vendido; havendo preço compensador, venda também o azeite, o vinho e o trigo excedentes, os bois velhos, as ovelhas de corte, a lã e as peles, a carroça velha, as ferramentas velhas e os escravos velhos e doentes - venda tudo, de qualquer maneira. Um fazendeiro deve ser sempre vendedor, e não comprador." (²)
Não se trata, aqui, de julgar a moralidade dessa prática, mas de constatar que, provavelmente, era usual entre os romanos, a ponto de Catão recomendá-la sem nenhum constrangimento. Não obstante, chama a atenção o tratamento dispensado aos escravos: existiam para trabalhar e, se não estivessem em condições de satisfazer a essa premissa, deveriam, sem demora, ser vendidos. Mas que expedientes adotaria o probo fazendeiro romano que queria se desfazer de bois velhos, de uma carroça imprestável ou de um escravo velho e/ou doente, para levar alguém a adquirir suas "mercadorias"?!
É notável que um tal pensamento viesse de um romano considerado verdadeiro paradigma em sua geração, e mesmo muito depois dela. Sabe-se que nem todos os integrantes da elite romana pensavam de igual modo, e houve até quem se notabilizasse por entreter amizade com escravos cultos, que apenas eram cativos formalmente. Contudo, o indivíduo apontado como modelo era Marco Pórcio Catão, cuja lógica - a de que era preciso obter dinheiro com tudo que se referisse a uma propriedade agrícola - desconhecia qualquer sentimento de compaixão.
(1) Também conhecido como "o Censor" (234 - 149 a. C.).
(2) CATÃO, Marco Pórcio. De agri cultura. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
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