Foi há cento e poucos anos. O lugar, uma povoação bem perto de Campinas - SP.
Aparecera por lá a varíola, despertando temor geral. Não precisaria ser assim, porque a vacinação antivariólica era conhecida e praticada no Brasil, ao que parece, desde fins do Século XVIII. No entanto, fosse por teimosia, medo ou ignorância, parte da população teimava na recusa a ser imunizada.
Retomando o fio da história, pipocavam casos de varíola. Recursos médicos, se existentes, eram escassos. Para impedir o contágio, um integrante da reduzida força policial da localidade era destacado a dar plantão diante de cada casa em que se sabia haver um doente, com trabalho dobrado ou triplicado na hipótese de que houvesse vizinhança também enferma, uma situação nada incomum. Portanto, ficava o doente, toda a família e quem mais com ele residisse, sob proibição de pôr os pés na rua, até que, de um jeito ou de outro, a varíola cessasse.
Ora, meus leitores, nesse tempo as famílias costumavam ter muitas crianças, que, se estavam saudáveis, logo se aborreciam com o isolamento. Acontecia, às vezes, que um pimpolho mais ousado se aventurava a pôr o nariz para fora da porta, ao que o vigilante, de imediato, berrava:
- Sarampito, passa pra dentro!
Faz tempo que ouvi pessoa muito idosa relatar esse fato, do qual dizia ter sido, na infância, testemunha ocular. Mas, mutatis mutandis, o assunto parece tão atual...
Era outra época, a população era muito menor. Ninguém, imagino, pensaria hoje em estacionar guardas à porta de residências para impedir a entrada e saída daqueles que estão sabidamente enfermos. Seria impossível. Espera-se que, para bons cidadãos, a melhor vigilância venha da prudência, da sensatez, do senso pessoal de responsabilidade - do civismo, afinal. O que mais será preciso dizer?
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