Quem vivia no Rio de Janeiro no Século XIX ou em outras cidades do Império do Brasil podia comprar alimentos de comerciantes locais, mesmo sendo fato que o Rio tinha problemas de abastecimento, porque as estradas que ligavam as áreas produtoras à cidade eram muito ruins. Entretanto, quem desejasse comprar pequenas quantidades, podia recorrer aos escravos e libertos que andavam pelas ruas vendendo gêneros alimentícios.
Um relato interessante, feito por Daniel Kidder, pastor e missionário metodista americano que esteve no Brasil entre 1837 e 1840, mostra como se fazia o comércio de alimentos na rua. Kidder falava, em especial, das frutas nativas, embora outros itens fizessem parte das vendas habituais, inclusive animais vivos que, para consumo, obviamente seriam abatidos. "Esses artigos", disse ele, referindo-se a alimentos, "são encontrados em profusão nos mercados e apregoados pelas ruas da cidade e dos subúrbios por escravos e negros libertos que os levam geralmente em balaios na cabeça. Os vendedores ambulantes passam constantemente pelas ruas apregoando em altas vozes a natureza e a excelência de suas mercadorias, ou emitindo algum som indeterminado, apenas para atrair a atenção do público. Quem quiser comprar alguma coisa, tem apenas que chamá-los com um "psiu", sinal que todos compreendem como sendo um convite para entrar e exibir seu estoque." (¹)
Vendedora de galinhas conversa na rua com vendedor de hortaliças (²) |
É certo que o comércio ambulante não se restringia a artigos alimentícios. Uma variedade de mercadorias era, assim, disponibilizada aos potenciais compradores. Quanto aos alimentos,
especificamente, é um tanto difícil avaliar com exatidão as condições de higiene em que eram oferecidos, ainda que seja razoável supor que o cenário nem sempre fosse muito favorável, levando em conta a situação urbana relativamente a esse aspecto na época.
(1) KIDDER, Daniel P. Reminiscências de Viagens e Permanência no Brasil. Brasília: Senado Federal, 2001, p. 89.
(2) _________ Brasilian Souvenir. Rio de Janeiro: Ludwig & Briggs, 1845. O original pertence à BNDigital. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
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Hoje, à distância, parece-nos tudo muito folclórico.
ResponderExcluirGosto da gravura, é muito sugestiva. Quase apetece criar um diálogo a partir dela. :)
Tenha uma bom fim-de-semana, Marta.
Pois devia criar o diálogo. Estou à espera!
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