quinta-feira, 5 de março de 2020

A recepção de calouros nas universidades medievais

Esperando em um semáforo, vi passar à frente um grupo de estudantes de uma universidade local. Alguns iam pintados com o nome dos respectivos cursos, com os cabelos cortados, ou melhor, picotados, enquanto outros, que os seguiam, batiam palmas e faziam tanto alarido quanto podiam. Vocês já entenderam, não é? Era a hora do "trote", a recepção de calouros por estudantes veteranos.
Ah, pensei, eles nem sabem que toda essa algazarra tem suas raízes na Idade Média... 
Vou explicar. Para frequentar uma universidade medieval era preciso saber latim. Apesar disso, estudantes eram admitidos muito mais cedo do que acontece hoje - não era incomum que rapazotes de quatorze ou quinze anos entrassem para alguma universidade. A disciplina era severa e, como o material para escrita era dispendioso e escasso, todo aluno devia ter boa memória para reter tudo quanto diziam os professores. Assim é que se aprendia.
Os costumes quanto à recepção de novos estudantes variavam um pouco de um lugar para outro, mas a regra era considerar que os recém-chegados precisavam de algum tipo de "purificação" antes de ocupar um lugar nas salas de aula. Por isso, tinham as unhas e cabelos cortados, deviam tomar um banho (verdadeira tortura medieval) e, tendo recursos, dar uma festa para os veteranos. O bullying incluía, às vezes, uma espécie de desfile em que os novatos montavam jumentos. Não era raro, também, que se impusessem tarefas aos calouros, tais como carregar livros dos veteranos, além da obrigação de ceder o lugar junto ao fogo que aquecia o ambiente, sempre que um veterano chegava. Havia, por suposto, outras tradições ainda mais perversas, mas não menciono aqui para não dar a ideia a quem quer que seja. Só posso dizer que, aos estudantes que encontrei na L4, pedindo "esmolas" para a festa que, como calouros, deveriam custear, não resta nem mesmo o consolo da originalidade. O trote universitário é uma dessas tradições que todo mundo condena, mas que, com notável persistência, tem atravessado os séculos.


4 comentários:

  1. Respostas
    1. Olá, Blog Anita Plural, obrigada por mais esta visita. Bem, as histórias não são minhas, são da humanidade rsrssss. O meu trabalho é contá-las, para que mais gente possa conhecê-las.
      Um abraço, tenha um ótimo final de semana!

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  2. Pois é, até o folclore da recepção de caloiros se vai adaptando aos tempos que cruzam...

    Tenha uma boa semana, Marta :)

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