quinta-feira, 12 de março de 2020

César Augusto e o javali ameaçador

Javalis são perigosos; uma fêmea com filhotes, perigosíssima. Augusto, o imperador romano, teve seu dia de confrontar um javali. Lembrem-se, leitores, de que na Antiguidade os animais selvagens podiam ser uma ameaça real, mesmo nas imediações dos centros urbanos.
Augusto saiu a passeio com Diomedes, seu administrador (¹) que, de acordo com Suetônio (²), diante da aparição de um javali de aspecto bravio no caminho, desatou a correr, deixando que o imperador se entendesse com a fera. Sucede que disso nada resultou, mas, pelas regras da época, Diomedes cometera um crime gravíssimo. No entanto, longe de se zangar, o imperador, passado o susto, preferiu simplesmente zombar da covardia do servidor, entendendo que agira movido pelo medo e não por maldade.
Javali, de acordo com uma obra do Século XVI 
dedicada à descrição de animais (⁴)
Em outra circunstância, porém, Augusto obrou com muito menos brandura. Verificou, após a morte de um filho que estivera em uma província romana, que os funcionários que o acompanhavam, valendo-se da doença do jovem, haviam ostentado tanto arrogância como improbidade. Neste caso, também conforme Suetônio (³), o imperador não exerceu nenhuma misericórdia: mandou que se amarrassem pesos enormes ao pescoço dos corruptos e que, sem mais delongas, fossem lançados em um rio. Seria Augusto um juiz instável? 

(1) Provavelmente um liberto, ou seja, um ex-escravo.
(2) De vita Caesarum, Livro II.
(3) Ibid.
(4) GESNER, Conrad. Icones Animalium Quadrupedum Viviparorum et Oviparorum. Zürich: Christof Froshover, 1560, p. 82.


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2 comentários:

  1. A falta de Diomedes era leve, risível. Já na segunda situação, o imperador tinha que ser exemplar, caso contrário qualquer um se podia sentir acima da lei. E, para que não houvesse tentações...

    Marta, um bom final de sábado.

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    1. Estou de pleno acordo. Sucede, porém, que nossos critérios, que entendemos judiciosos, nem sempre correspondem aos que regiam a relação entre os que mandavam e os que obedeciam na Antiguidade. Quase sempre, quanto maior era o poder, maiores as arbitrariedades.
      Um abraço. Que a semana que entra seja ótima!

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