O cinema conseguiu imprimir no imaginário popular uma noção de suntuosidade em relação aos espetáculos realizados nos anfiteatros romanos. A verdade, porém, é que, ao lado do luxo e da ostentação, os espetáculos eram exibições do que poderia haver de pior na humanidade.
O lugar em que ocorriam os combates era chamado arena, e não por acaso. É que arena, no latim, significa simplesmente areia, e era isso que se espalhava sobre o piso, entre um espetáculo e outro, para cobrir o sangue que fora derramado durante as lutas precedentes, sangue de homens e de animais, muitos animais.
Testemunhos dessas carnificinas não faltam, na palavra dos próprios romanos. Um deles, Plínio, o Velho, afirmou no Livro VIII de Naturalis historia: "O primeiro elefante foi visto a lutar no circo [...] no ano 655 (¹) da fundação de Roma, e a primeira luta de um elefante contra touros aconteceu vinte anos mais tarde [...]. (²)" O mesmo Plínio mencionou, também no Livro VIII, exibições de luta simultânea entre leões, cem deles quando Sila, mais tarde ditador, exercia o cargo de pretor, seiscentos, sob as ordens de Pompeu, e quatrocentos, quando César era ditador. Vê-se que a ênfase parece estar na quantidade, mas é simplesmente impossível saber se esses números correspondem ao que, de fato, acontecia, ou se há algum exagero, ainda que não intencional.
Posteriormente, quando o Coliseu foi inaugurado (³), as festividades duraram nada menos que cem dias, e afirma-se que cerca de cinco mil animais selvagens foram mortos na arena, quer em lutas entre si, quer em combates contra gladiadores. Que diversão era essa, que fazia correr o sangue dos inocentes animais, além, é claro, de tantos homens compelidos a lutar entre si e contra as feras?
Estranho como possa parecer, era ideia corrente que esses espetáculos que incluíam a morte de tantos animais resultavam em benefício às terras de onde provinham, que ficavam despovoadas de feras ameaçadoras. Talvez, hoje, pouco ou nada saibamos, por experiência, da ameaça dos animais selvagens, mas também é evidente que a noção de equilíbrio ecológico, envolvendo todas as espécies de um dado ambiente, era pouco considerada na Antiguidade. Contudo, se a banalização da morte de homens e animais na arena dos anfiteatros tinha como fim entreter a população e canalizar a violência dos insatisfeitos para longe dos governantes, a quantidade de imperadores assassinados talvez seja uma evidência de que, neste caso, o efeito talvez fosse exatamente o contrário do desejado.
(1) 99 a.C.
(2) O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(2) O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(3) 80 d.C.
Olá, Marta!
ResponderExcluirSim, a banalização da morte, do mal e da exploração só mostra que a humanidade não mudou muito ao longo do tempo. Mudaram os meios e os tempos. Parabéns pelo blog, temas muito interessantes e muito bem fundamentados. Isso é essencial, mas sobretudo em tempos de fake news. Abraços
Anita
Boa tarde, Blog Anita Plural, obrigada pela visita a História & Outras Histórias e pela gentileza de seu comentário.
ResponderExcluirAcabo de visitar o Blog Anita Plural e achei fascinante o texto "Ecos Humanos / Generalizações". Sem ser consumista, também não me considero minimalista. Ainda assim, não posso deixar de concordar com suas ideias, principalmente no que se refere à verdadeira mania de seguir a multidão que perpassa a sociedade.
Apareça outras vezes por aqui, e tenha uma ótima tarde!