Em um só dia, nada menos que cinquenta mil pessoas morreram ou sofreram ferimentos em um anfiteatro romano, mas não suponham, leitores, que todos os mortos ou feridos fossem gladiadores. Eram parte do público que assistia a um espetáculo em um anfiteatro particular em Fidenas, que estava localizada bem perto de Roma. É melhor contar essa história desde o princípio.
Aconteceu no ano 27 d.C., quando Tibério era imperador. Um liberto (ou seja, um ex-escravo) chamado Atílio, decidiu construir por conta própria um anfiteatro, com a ideia de lucrar com ele o máximo possível. Não creio que seja difícil imaginar o quanto a construção foi precária e, devido ao número elevado de espectadores, o anfiteatro veio ao chão, soterrando não só os que estavam dentro, mas até quem se achava perto, porém do lado de fora.
O resultado foi horrendo e, de acordo com Tácito (*), que registrou essa tragédia no Livro IV dos Annales, mais felizes foram os que morreram de imediato, porque muitos dilacerados, contudo ainda vivos entre os escombros, gritavam, desesperados, dia e noite, por socorro, aumentando a angústia dos parentes que haviam acorrido ao local à procura de sobreviventes. Estimou-se em cinquenta mil o número de mortos e feridos.
Esse episódio permite algumas considerações:
- Romanos de todas as camadas sociais eram fanáticos por espetáculos de gladiadores, o que explica a quantidade de pessoas presentes no dia do desabamento;
- Havia libertos que conseguiam acumular um patrimônio razoável, e Atílio, o dono do anfiteatro que caiu, é prova disso;
- As técnicas de resgate em caso de acidentes e os recursos médicos, rudimentares como eram na Antiguidade, explicam, ao menos em parte, o número de mortos nessa ocasião.
Segundo Tácito, uma decisão posterior do Senado estipulou a quantia mínima que alguém deveria ter ao solicitar permissão para construir um anfiteatro. Assim os romanos estavam, é claro, colocando tranca em porta arrombada. Quanto a Atílio, o dono do anfiteatro que desabou - sim, ele sobreviveu! - também por decisão do Senado, foi punido com o exílio.
(*) c. 47 d.C. - 120 d.C.
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