terça-feira, 12 de novembro de 2019

Extravagâncias nos triunfos de César

Caio Júlio César - sim, o do Primeiro Triunvirato - teve não um, nem dois, nem três e nem quatro, mas cinco triunfos, com pequenos intervalos. Quatro deles foram celebrados em 46 a.C., e o quinto, no ano seguinte, 45 a.C.
Ora, meus leitores, se o número de triunfos é exagerado, mostra, certamente, que, a despeito de todos os inimigos que angariou ao longo da vida, César foi um grande líder militar, ao menos sob o ponto de vista dos romanos. Os inimigos derrotados em combate talvez não tivessem dele uma ideia muito favorável. No entanto, o que mais impressiona são alguns detalhes desses triunfos, que conhecemos através da obra de Suetônio (¹), De vita Caesarum. Vejam só:
  • No triunfo em comemoração à vitória sobre os gauleses, César subiu ao Capitólio em companhia de nada menos que quarenta elefantes, tudo isso à luz de tochas (²); 
  • No triunfo em comemoração à vitória no Ponto (³), uma placa trazia as palavras "Veni, vidi, vici", que, de acordo com Suetônio, tinham por objetivo retratar a velocidade com que a guerra, um grande sucesso, fora feita;
  • Os triunfos foram também ocasião para prodigalidades, e quem é que poderia fugir à suspeita de que, com elas, César pretendia, literalmente, comprar o favor popular? Seus soldados das legiões veteranas receberam, cada um, vinte e cinco mil sestércios, além de terras para cultivo; quanto ao povo em geral, recebeu donativos em dinheiro, trigo e azeite, além da participação em um banquete público;
  • Houve ainda grande variedade de espetáculos, tais como lutas de gladiadores, peças teatrais, espetáculos de circo, uma batalha naval simulada e competições esportivas, e isso em vários pontos da cidade de Roma, para que todos os que quisessem assistir, tivessem oportunidade;
  • Com tanta fartura de comida e diversão, a cidade ficou abarrotada de gente, chegando a haver acampamentos nas ruas, feitos por aqueles que vinham de longe para participar dos festejos. Sucede, porém, que a Roma desse tempo tinha ruas diminutas para tanto movimento. A consequência, trágica para alguns, é que, com as multidões que se aglomeravam, houve gente que foi pisoteada e asfixiada. Entre os mortos, contaram-se até dois senadores.
Suetônio viveu muito tempo depois desses acontecimentos, e é possível que seu relato contenha algum exagero, devido à idealização dos "tempos de César", que romanos do Século II talvez fizessem. Contudo, de seu registro, depreende-se um fato inquestionável: a grandeza dos triunfos era um retrato da importância que os romanos atribuíam às conquistas militares, enquanto a prática de pão e circo, como política e como estilo de vida, ganhava força, para glória e desgraça do Império que, em poucos anos, iria se firmar.

(1) 69 - 141 d.C.
(2) Não havia lâmpadas de LED naquele tempo...
(3) Ponto era o nome dado na Antiguidade à região na costa sul do mar Negro.


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