terça-feira, 5 de novembro de 2019

A comunicação entre navios durante viagens no Século XVI

Entre as ordens dadas por Pedro Sarmiento de Gamboa em 1579, para a viagem pelo Estreito de Magalhães que liderou, havia estas:
"[...] sigam sempre o farol, de noite, e a a bandeira, de dia, da Capitana (¹). E, sendo conveniente que a Capitana, em que vou, mude para rota ou caminho diferente daquele que até ali houver seguido, dará aviso com dois faróis para aquela parte onde se mudará o caminho, movendo-os para que melhor se conheça e siga o dito caminho;
[...] se ocorrer em alguma necessidade que seja preciso socorro, se dará um tiro de canhão, e se for necessidade de socorro de pessoas, se darão dois, porque o mesmo fica entendido que farei eu, em meu navio, para que me socorra, se for preciso." (²)
Era muito importante que essas convenções fossem escrupulosamente obedecidas, porque:
  • Não havia, na época, modo mais eficiente de comunicação;
  • Em caso de algum acidente em um navio, outros poderiam prestar socorro;
  • A segurança dos que viajavam dependia do agrupamento de navios, para facilitar a defesa em caso de um ataque de piratas e corsários, o que não era nada incomum nesse tempo.
A imensa esquadra comandada por Pedro Sarmiento era composta por apenas dois navios "de verdade", em não muito bom estado, aos quais se juntaram pequenas embarcações feitas pelos próprios navegantes. Um dos navios desertou, e Sarmiento e os que com ele estavam completaram sozinhos a viagem que, depois de transposto o Estreito de Magalhães, conduziu-os à costa da África, aos arquipélagos de Cabo Verde e Açores e, finalmente, à Espanha. Não houve sinalização, portanto, que impedisse a nau comandada por Juan de Villalobos de "desaparecer". Sabe-se, todavia, que a técnica de sinalizar, dia e noite, respectivamente, com bandeiras e faróis, era usual, nessa época, para navios que viajavam em comboio. Em meio às ondas do oceano, as embarcações de madeira talvez parecessem tão frágeis como cascas de ovos, sendo necessária toda a ajuda mútua possível, no empreendimento de conduzir os corajosos navegadores até o destino que almejavam.

(1) As duas embarcações principais da expedição de Pedro Sarmiento foram denominadas "Capitana", na qual ele próprio ia, e "Almiranta", comandada por Juan de Villalobos.
(2) GAMBOA, Pedro Sarmiento de. Viage al Estrecho de Magallanes. Madrid: Imprenta Real de la Gazeta, 1768, p. 38. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.



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