Fernão de Magalhães era português, mas, a serviço da Espanha, comandou a primeira viagem de circum-navegação. É fato que não pôde completá-la, porque morreu em combate nas Filipinas, mas Juan Sebastián Elcano conduziu de retorno à Espanha o último navio que restou da expedição, concluindo a quase inacreditável viagem em cerca de três anos. Por conta desse feito notável, o nome de Magalhães foi atribuído ao Estreito no sul da América do Sul, mas também a lugares bem mais distantes, como as chamadas Nuvens de Magalhães (galáxias, na verdade).
Parece, contudo, que, no Século XVI, causava certo incômodo a navegadores espanhóis que o Estreito fosse dito "de Magalhães", porque houve quem tentasse dar-lhe outra denominação. Pedro Sarmiento de Gamboa, enviado a explorar o Estreito em 1579, afirmou, em seu relatório de viagem:
"Faço saber a todos, que para fazer esta viagem e descobrimento, tomei por advogada e padroeira a sereníssima senhora Nossa Rainha dos Anjos Santa Maria Mãe de Deus Sempre Virgem, conforme a instrução de Sua Excelência (¹). Por isso, e pelos milagres que Deus Nosso Senhor por sua intercessão há usado para conosco nesta viagem e descobrimento e nos perigos que nela tivemos, pus por nome a este ESTREITO DA MÃE DE DEUS, posto que antes se chamasse ESTREITO DE MAGALHÃES; e espero que Sua Majestade, sendo, como é, tão devoto da Mãe de Deus, confirmará este mesmo nome em seus escritos e provisões, pois eu em seu Real Nome (²) o pus [...]." (³)
Aos que quiserem saber se Sarmiento foi bem-sucedido em sua ideia de mudar o nome do Estreito de Magalhães, aconselho, como resposta, uma rápida vista a meia dúzia de mapas, quaisquer que sejam, desde que da América do Sul. Não será preciso mais que isso.
(1) Referia-se ao vice-rei do Peru.
(2) Como os navegadores tinham ordem para tomar posse das terras que descobriam em nome do respectivo rei, Pedro Sarmiento deve ter entendido que estava autorizado, também, a mudar o nome de um lugar anteriormente descoberto.
(3) GAMBOA, Pedro Sarmiento de. Viaje al Estrecho de Magallanes. Madrid: Imprenta Real de la Gazeta, 1768, pp. 239 e 240. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
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