Quando se fala em quilombo, Palmares vem à mente da maioria das pessoas. Foi, de fato, o mais famoso, tanto pelas proporções alcançadas quanto pela resistência. Mas não foi o único. Muitíssimos outros existiram, nos mais diversos pontos do Brasil. Houve um, de acordo com Hércules Florence, desenhista da Expedição Langsdorff (¹), às margens do rio Tietê, em algum lugar, portanto, do território que hoje pertence ao Estado de São Paulo:
"[...] passamos pela embocadura do rio Quilombo e, pouco abaixo, pela ilha e cachoeira do mesmo nome. Ali se haviam antigamente refugiado muitos negros, pois quilombo é palavra que designa o asilo onde eles se reúnem nas matas. Foram descobertos por negociantes que voltavam de Cuiabá (²) e que, apenas chegados a Porto Feliz, armaram, por espírito de ganância, uma expedição com a qual atacaram aqueles infelizes, aprisionando mais de cento e vinte. Amontoados em canoas, voltaram os mal-aventurados aos pontos em que sofriam o cativeiro. Foi-nos o fato contado pelo guia." (³)
Florence foi didático em suas explicações. Registrava os acontecimentos para si mesmo, mas é possível que imaginasse que eventuais leitores de seus escritos talvez desconhecessem as circunstâncias do escravismo no Brasil. Quilombos não eram incomuns, tampouco o eram as expedições para destruí-los. Captores de escravos queriam, se possível, encontrar quilombolas vivos, para reconduzi-los à escravidão. Este quilombo das margens do Tietê foi apenas mais um, a abrigar - quem saberá por quanto tempo? -, os sonhos de liberdade de quem fugia do cativeiro.
(1) A Expedição Langsdorff saiu de Porto Feliz no dia 22 de junho de 1826.
(2) Monçoeiros, infere-se.
(3) FLORENCE, Hércules. Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829. Brasília: Ed. Senado Federal, 2007, p. 38
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