terça-feira, 9 de julho de 2019

Por que os bons cidadãos romanos deveriam querer governar

Marco Túlio Cícero (²)
Poderia parecer confortável, tentador mesmo, para um romano abastado e instruído, gastar os dias em sua propriedade agrícola, longe das agitações de Roma. Nobremente ocupado em alguma atividade intelectual amena, somente ergueria os olhos dos papiros e pergaminhos para certificar-se de que a famulagem estava bastante ocupada. Assim entretido, não correria o risco de perder a cabeça, literalmente, por ser envolvido, com justiça ou não, em alguma agitação política.
Perfeito? Não para Marco Túlio Cícero. Em De re publica (¹), apresentou razões que deveriam conduzir os bons cidadãos romanos ao envolvimento pessoal no governo da República. São elas:

a) O dever cívico de servir no governo da pátria
"A pátria nos gerou e educou, não para que atendêssemos a nossos interesses, [...], mas para que em seu proveito empregássemos o que há de melhor em nossa alma, gênio e razão, ficando para nosso uso particular o que sobrar do que a ela se destina." (³)

b) Assumindo o governo, os bons não teriam de se submeter ao governo dos maus
"[...] como se aos bons, fortes e de grande capacidade houvesse causa mais justa para desejar o comando da República que o desejo de fugir à obrigação de se submeter ao governo dos maus [...]."

c) Governar tornaria os homens semelhantes aos deuses
"Nada torna o homem mais semelhante aos deuses que fundar cidades (⁴) e conservar as existentes."

Quanta modéstia! Cícero, porém, acabaria experimentando o lado venenoso de atuar no governo de Roma, mas não viveu para contar: perseguido por se opor a Marco Antônio, foi executado em 43 a.C.

(1) O ano 51 a.C. é apontado como a data provável em que Cícero escreveu De re publica.
(2) HEKLER, Anton, Die Bildniskunst der Griechen und Römer, Stuttgart: Julius Hoffmann, 1912, p. 159.
(3) Os trechos citados de De re publica, todos do Livro I, foram traduzidos por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(4) Cícero provavelmente se referia à fundação de cidades-Estado.


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