segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Cidades-Estado na Antiguidade

Uma cidade-Estado, leitores, pode ser definida como uma unidade que é, do ponto de vista político, autônoma e independente, mas com território reduzido. Assim, tem governo próprio, leis próprias e juízes e tribunais próprios, exército próprio e, em muitos casos, religião e costumes próprios. Sim, tudo próprio! Ressalvadas algumas diferenças, bem poderíamos dizer, no limite da simplificação, que uma cidade-Estado é um país em forma de cidade. 
Isto posto, podemos considerar que cidades-Estado existiram em muitos lugares na Antiguidade. Em algumas épocas e circunstâncias eram a regra, e não a exceção. A despeito disso, é fácil constatar que, em locais distintos, cidades-Estado tinham também suas especificidades. Na Grécia Antiga, por exemplo, uma cidade-Estado:
  • Era um agrupamento urbano, ao qual correspondiam as áreas de cultivo adjacentes; 
  • Era habitada por indivíduos que, como cidadãos, tinham direitos políticos, inclusive quanto à participação no governo;
  • Tinha um culto em comum;
  • Exercia funções de defesa, já que, em tempos de guerra, a população rural das redondezas vinha buscar proteção dentro de suas muralhas;
  • Era um local de trabalho para artesãos e para o comércio local;
  • Geralmente passava por várias fases de desenvolvimento político, de modo que, ao longo dos anos, podia apresentar diferentes formas de governo.
Em sua grande maioria, as cidades-Estado da Grécia Antiga começaram como um ponto de sedentarização para grupos que migravam de outras regiões. Por sua vez, muitas cidades, posteriormente, deram origem a outras, por terem enviado grupos de colonizadores. Disso nasceria a chamada Magna Grécia.
Agora, leitores, se observarmos o que acontecia nas cidades-Estado encontradas na Palestina e na Mesopotâmia, veremos que:
  • Como regra, eram pontos de encontro para caravanas de mercadores;
  • Os "cidadãos" eram simplesmente os moradores da cidade, que adotavam seus costumes e praticavam a religião da comunidade, sem ter, necessariamente, algum direito à participação política;
  • Exerciam, como as cidades gregas, funções de defesa, o que explica a construção de muros e torres;
  • O governo era, com frequência, confiado a um rei, que contava ainda com a assessoria de um conselho de anciãos;
  • Tendo nascido como entrepostos de rotas comerciais, tinham costumeiramente um mercado anexo à porta principal;
  • À medida que se desenvolviam, passavam a contar também com oficinas de artesãos, de modo que algumas cidades vieram a ser notáveis por uma determinada modalidade de trabalho artesanal.
Nos dois casos que acabamos de investigar - cidades da Grécia Antiga e cidades da Palestina e Mesopotâmia - a "fundação oficial" era sempre descrita como um evento de caráter religioso, já que a nova povoação era consagrada a um deus ou deusa, cujo templo, ainda que modesto, era logo construído, como um símbolo da própria cidade e da proteção da divindade invocada. Os atos cívicos eram, então, quase sempre também atos religiosos, praticados no templo principal ou em suas imediações. Isso não descarta o fato de que algumas cidades podiam nascer "por acaso", sem uma intenção deliberada de fundação. Para esse defeito havia uma solução formidável: cronistas tratavam de criar as mais mirabolantes fábulas, remontando a origem de sua pátria a tempos tão distantes que a fundação só poderia ser obra dos deuses... E estava tudo resolvido, ao menos para eles. Para quem hoje tenta, seriamente, deslindar a verdadeira origem de cidades e povos, toda essa megalomania dos antigos é uma grande dor de cabeça.


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