quinta-feira, 26 de julho de 2018

Cidades da Antiguidade eram muito escuras à noite

Um aspecto encantador das cidades de nosso tempo, à noite, é a profusão de luzes. São elas tão intensas, que chegam a lançar a lua e as estrelas no esquecimento. Grandes cidades nunca descansam. Há sempre gente indo e vindo, e as luzes dos automóveis em movimento fazem sua parte para dar a qualquer observador a sensação de que a contagem das horas é mesmo apenas mais uma convenção da vida em sociedade. Já não temos muita ligação com o tempo da natureza.
Tudo era diferente na maioria das cidades da Antiguidade. Assim que anoitecia, tornava-se muito perigoso estar nas ruas, mesmo em lugares de excelente reputação. Quem ousava permanecer fora de casa devia ouvir, apreensivo, qualquer ruído - quem seria? Roma, nesse aspecto, era exceção, porque, proibidos de circular pelas ruas durante as horas do dia, mercadores que faziam uso de carroças ou carruagens precisavam realizar entregas à noite (¹). Não obstante, era sempre um risco sair depois que escurecia, e aqueles que tinham escravos (²) levavam alguns deles consigo, para que carregassem tochas. Desenhava-se, portanto, o cenário perfeito para quem planejava algum malefício, dos larápios vulgares aos que perpetravam um golpe de Estado.
As cidades muradas tinham guardas que se revezavam à noite, caminhando sobre os muros (³), sempre à luz de archotes. Faziam isso por razões militares, para evitar que eventual inimigo, tirando vantagem da escuridão, tramasse um ataque de surpresa. As forças policiais da época usavam idêntico sistema de iluminação.
Contudo, havia, às vezes, noites cheias de luz: eram as ocasiões de festa, de procissões religiosas, de celebrações por grandes conquistas militares. Entre os gregos, por exemplo, Hefestos era homenageado com corridas noturnas, nas quais cavaleiros cumpriam uma prova de revezamento, transferindo tochas ao competidor seguinte. Devia ser um belo espetáculo.
Quando a festa acabava, as tochas se apagavam e, a não ser pela luz ocasional que bruxuleava de alguma candeia doméstica, tudo mergulhava em trevas. Forjavam-se, assim, lendas fantasmagóricas.

(1) Em Roma, o tráfego de pedestres e cavaleiros era muito complicado, em razão das ruas estreitas e, muitas vezes, sinuosas. Por isso, desde fins da República havia uma lei que restringia o trânsito de carros e carruagens de comerciantes às horas da noite.
(2) Era difícil encontrar em Roma algum homem livre que não tivesse escravos. Prisioneiros de guerra abasteciam continuamente o mercado de trabalhadores cativos.
(3) Em muitos casos, os muros eram tão largos, que não apenas permitiam que soldados caminhassem sobre eles sem dificuldades, como possibilitavam até o trânsito de carros de combate.

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